O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, o tucano Fernando Capez, adora se travestir de vestal da ética. Ex-promotor e homem de confiança do governador Geraldo Alckmin, ele já desfilou nas marchas golpistas da capital paulista trajando a camiseta preconceituosa contra Lula (a dos quatro dedos). Recentemente, porém, o falso moralista foi atingido por um petardo. Seu nome apareceu nas investigações da Operação Alba-Branca, da Polícia Civil, como sendo um dos chefões da “máfia da merenda”, que fraudou centenas de contratos com cooperativas de alimentos. Será que mesmo assim ele vai comparecer ao protesto na Avenida Paulista deste domingo (13)? Os grupelhos fascistas, que promovem a marcha da hipocrisia, vão deixá-lo subir no caminhão de som?
A primeira denúncia contra o Fernando Capez foi publicada pelo Estadão em 22 de janeiro. O jornal evitou fazer escarcéu. Não estampou a manchete “Amigo de Alckmin é acusado de roubar merenda” – como costuma fazer com seus adversários políticos. Mesmo assim, deu detalhes sobre o escândalo. A suspeita teve origem na “delação premiada” de dirigentes da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), que acusaram tucanos de alta plumagem de receberam propina na compra de alimentos destinados à rede estadual de ensino. Entre os investigados, relatou o jornal, estariam “o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), e o ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB) Luiz Roberto dos Santos, conhecido como ‘Moita’”.
“Em depoimento à Polícia Civil, os funcionários da Coaf afirmaram que a propina chegava a ser de 25% dos contratos. Eles relataram como eram feitos as entregas de pacotes de dinheiro, depósitos em contas e acertos em postos de combustível às margens de rodovias. Os interrogados pela polícia apontam o deputado Fernando Capez, que é promotor de Justiça e aspira disputar a cadeira de Alckmin em 2018, e Luiz Roberto dos Santos, o ‘Moita’, que era braço direito do secretário-chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, como beneficiários de propina. Interceptações telefônicas mostram que o deputado tucano é chamado de ‘nosso amigo’ pelos intermediários de propinas”, relatou o jornal.
A Operação Alba-Branca foi deflagrada em 19 de janeiro pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Bebedouro, na região de Ribeirão Preto. Sete pessoas ligadas à Coaf tiveram prisão decretada pela Justiça. Num primeiro instante as apurações apontaram o envolvimento de 22 prefeituras no megaesquema de corrupção. Na sequência, os investigadores informaram que a “máfia da merenda” agiria em 152 cidades do Estado de São Paulo e que já teria inclusive “exportado” seu modelo de corrupção para outros Estados. “Planilha que estava em computador da Coaf, de 2013, lista municípios e os contratos que cada um tem com as cooperativas, numa espécie de loteamento”, descreveu a Folha.
Diante da grave denúncia, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a quebra de sigilo bancário e fiscal da empresa Fruna, pertencente ao ex-chefe de gabinete da Casa Civil de Geraldo Alckmin, o “Moita”. “Também foram quebrados os sigilos de um laboratório, já fechado, que pertencia a Luiz Carlos Gutierrez, o ‘Licá’ – assessor do presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB) –, e de um escritório de advocacia do qual Licá é sócio… O tribunal atendeu a pedido da Procuradoria-Geral de Justiça, que apura um contrato de R$ 8,5 milhões entre a cooperativa Coaf, que já admitiu ter pagado propina, e o governo de São Paulo”, relatou outra reportagem da Folha.
O governador Geraldo Alckmin, que adora visitar os barões da mídia, negou qualquer envolvimento de Fernando Capez, “um homem honrado”, e de outros tucanos na máfia da merenda escolar. Como já virou rotina, o assunto sumiu do noticiário dos jornalões, revistonas e emissoras de rádio e tevê. Só a torcida Gaviões da Fiel ainda insiste em alertar os “midiotas”. Em todos os jogos do Corinthians ela carrega faixas com a pergunta: “Quem vai punir o ladrão da merenda?”. No mês passado, inclusive, ele decidiu arrecadar alimentos para as escolas paulistas. “Faça a sua vez, vamos suprir a merenda do investigado da vez”, afirma o slogan da campanha. Já os fascistas mirins, que farão uma nova marcha contra a corrupção neste domingo, talvez até aplaudam o “ético” presidente da Alesp. Haja cinismo!