Jeferson Miola
[ou: Bolsonaro carrega muitos segredos para ser incinerado sem necrópsia]
Bolsonaro está isolado, desacreditado e catalogado perante a sociedade brasileira e perante o mundo inteiro como um genocida sociopata que, se não for contido a tempo, poderá causar uma catástrofe humanitária de dimensões imponderáveis no Brasil [aqui].
O establishment já descartou Bolsonaro, porque enxerga nele a causa do problema; não a solução para os desafios complexos de enfrentamento da pandemia do COVID-19 no país.
Bolsonaro já foi descartado pelo judiciário, pelo legislativo, pela imprensa, pelo poder econômico, pela classe média cretina, pelas finanças internacionais e, fato inusitado, inclusive por alguns ministros do seu governo, que se tornaram mais indemissíveis que ele mesmo.
O recado do comando militar do governo é claro: Bolsonaro cai; ou, então, ele fica desidratado ao nível da insignificância governamental. Mas, por enquanto, Mandetta, Moro e Guedes ficam.
No lugar do genocida sociopata, assumiria o vice Mourão, um general ressentido e revisionista que considera a ditadura sanguinária instalada em 1964 como um marco das “reformas que desenvolveram o Brasil” [sic], como ele escreveu no twitter [aqui] neste 31 de março que marca 56 anos do golpe que derrubou Jango para instalar a ditadura sanguinária que ele defende.
Se o país estivesse vivendo uma realidade de normalidade institucional e se as instituições estivessem funcionando normalmente, a chapa Bolsonaro-Mourão, eleita fraudulentamente com o auxílio da exclusão do Lula do pleito e das fake news propagadas em mensagens de WhatsApp impulsionadas com dinheiro de caixa 2 de empresários corruptos, deveria ter sido cassada pelo TSE e novas eleições livres e limpas deveriam ter sido convocadas.
Mas a oligarquia calhorda [ler aqui] preferiu o caminho da barbárie, e então aboletou a dupla Bolsonaro e o vice Mourão no Palácio do Planalto.
A troca de Bolsonaro por Mourão não chega a ser uma boa notícia, mas esse é o fato concreto; é “o que a casa – ou seja, a Constituição violada e fraudada pela classe dominante – oferece”.
Há um consolo, se é que se pode dizer desse modo, porque Bolsonaro representa a união, em torno de si, do terror estatal com a bandidagem miliciana; paraestatal, protegida por Moro.
Já Mourão – aparentemente – pelo menos não congrega em torno de si a bandidagem paraestatal, miliciana. Mas isso também precisa ser conferido.
A hipótese de Bolsonaro e seu clã miliciano reverterem esta realidade desfavorável é remota.
Bolsonaro só não ficará inexoravelmente inviabilizado na presidência se conseguir demonstrar, de modo consistente, que tem capacidade de raciocinar e de agir em consonância com as exigências científicas e sanitárias exigidas – o que, francamente, ele tem se demonstrado incapaz.
O pronunciamento oficial do Bolsonaro na noite desta 3ª feira, 31/3, dia que lembra 56 anos do golpe que derrubou Jango em 1964 para instalar a ditadura sanguinária que durou até 1985, soa como o grito dum desesperado em busca de uma salvação que não virá.
No pronunciamento, Bolsonaro falsificou as orientações defendidas pelo etiopês Tedros Adhanom Ghebreyesus, o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde, para justificar os desatinos que tem defendido.
O farsesco Bolsonaro, com isso, aprofundou seu isolamento, porque ficou evidente a ofensa dele à maior autoridade sanitária mundialmente respeitada.
O pronunciamento do Bolsonaro não foi feito à Nação, mas aos seus tutores militares, num gesto desesperado para tentar reverter seu fim, que está cada vez mais próximo.
Nesta cartada decisiva, contudo, Bolsonaro ficou irremediavelmente inviabilizado. Na entrevista coletiva de atualização do avanço do coronavírus no Brasil, o general Braga Netto, Chefe da Casa Civil, fez questão de deixar claro que os ministros Moro e Guedes apoiam Mandetta nas medidas preconizadas, que contrariam a insanidade do Bolsonaro.
Dias antes, Bolsonaro tinha sofrido uma arremetida desconcertante dos militares.
Quando alguns generais do Planalto não conseguiram dissuadi-lo de ler o pronunciamento do “gabinete do ódio”, retiraram-se do Planalto e coordenaram com Edson José Pujol, Comandante do Exército, a gravação e publicação de vídeo em que Pujol hipotecava total obediência ao Ministério da Defesa no combate ao “grande inimigo” do povo, o coronavírus.
O sinal foi claro: Pujol bateu continência a Fernando Azevedo e Silva, não a Bolsonaro.
Os militares entenderam que chegou a hora de assumirem o governo. A principal questão pendente é o que fazer com Bolsonaro, porque ele é um personagem incontrolável e que faz o gênero de quem arrasta todo mundo junto, porque guarda muitos segredos.
Nunca é demais lembrar a gratidão do Bolsonaro ao general Villas Boas manifestada publicamente na cerimônia de posse do Ministro da Defesa, em 3 de janeiro de 2019: “General Villas Boas, o que já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”.
Não por acaso, num dos seus twitters que afrontam o Estado de Direito, o golpista Villas Bôas retribui Bolsonaro até os instantes imediatos antes do seu último suspiro: “sua postura revela coragem e perseverança nas próprias convicções”.
Bolsonaro carrega muitos segredos para ser um cadáver incinerado sem necrópsia.