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Por Max Altman/Opera Mundi
O libreto é extremamente parecido. Em todos os países de nossa região, quando se quer atingir lideranças populares e progressistas, o mote é a corrupção. É uma acusação que, alardeada à sociedade pelos meios de comunicação de massa, o grande público entende e facilmente se posiciona contra. No script golpista de nossos dias são esses os ingredientes: mídia; amplos setores do Judiciário e da polícia; a plutocracia da cidade e do campo; maioria reacionária e conservadora no parlamento.
Setores políticos na Argentina estão hoje empenhados em prender a ex-presidenta Cristina Kirchner tendo por base alguma das distintas causas judiciais que foram abertas e estão em curso. Não porque haja uma causa real ou provas concludentes para o seu encarceramento e sim porque é uma maneira com que os juízes alimentam as feras da antipolítica.
Cristina está lutando judicialmente contra uma arremetida cruzada de vários juízes que de algum modo agem contra a política como uma atividade transformadora e que passe a não ter valor nem poder, abrindo, destarte, de par em par as portas para aventuras antidemocráticas e ditatoriais.
Nesse sentido, a deputada Diana Conti da Frente para a Vitória fez um paralelo com o ocorrido com o ex-presidente Juan Domingo Perón, que depois de seus primeiros mandatos sofreu mais de 70 processos judiciais, que em seguida resultaram em nada porque consistiram numa “investida para pôr abaixo um ‘ismo’ que não lhes agradava, o peronismo, e que, no entanto, subsiste até hoje”.
O caso mais recente que se espicaça contra a família Kirchner gira em torno de Florencia, filha dos ex-presidentes, nos marcos de uma denúncia alardeada pela deputada Margarita Stolbizer sobre um presunto enriquecimento ilícito.
Ante a perseguição político-judicial, Florencia pediu ao juiz da causa Hotesur, Julián Ercolini, que abrisse suas caixas de segurança abrigadas no Banco Galicia. Nelas está a herança deixada a ela e a seu irmão Máximo pelo falecido pai, Néstor Kirchner.
No total são 4,6 milhões de dólares. Para servir à escandalosa campanha midiática de descrédito e desqualificação, o próprio juiz Ercolini permitiu que vazassem ilegalmente fotos do ato de abertura das caixas com o dinheiro à mostra, para que esta imagem manipulada pela imprensa hegemônica grudasse na mente da opinião pública.
Após a operação, Florencia afirmou que denunciaria o juiz Ercolini por quebra do sigilo judicial e por prestar-se a uma clamorosa manipulação de cunho evidentemente político.
Esta semana, a família Kirchner acudirá aos tribunais para demonstrar que o dinheiro das caixas de segurança não só estava declarado como também já havia sido contabilizado pela Justiça por ocasião do processo de inventário de Néstor Kirchner.
O advogado dos Kirchner, Carlos Alberto Beraldi, explicou que “nunca se retirou nem um só peso às escondidas. Tudo está no banco e sempre esteve”. O montante de dinheiro guardado no Banco Galicia e na conta de poupança da mesma instituição “está em sintonia plena com o declarado à Administração Federal de Ingressos Públicos”.
São os saldos bancários que Florencia e Máximo possuem depois que Cristina, após a morte de Néstor, lhes cedeu sua parte na herança, que, de resto, o juiz Ercolini ordenou embargar.
Beraldi explicou que em declaração em registro público, Cristina cedeu a parte que lhe correspondia a seus filhos, de maneira que a totalidade dos bens se dividiram entre Florencia e Máximo.
A ex-presidente vive hoje de sua pensão como chefe de Estado e de governo e a que recebe pela morte do marido. De seus bens, só ficou com o direito ao usufruto do apartamento da rua Uruguay, em Buenos Aires, e com os dois imóveis em Santa Cruz, no sul do país.
O dinheiro é o que se acumulou como resultado dos investimentos que Néstor e Cristina fizeram desde 1975, basicamente em dois itens: propriedades e prazo fixo.
“De maneira que esses são os bens existentes atualmente, propriedades e prazo fixo, se bem que em fevereiro a família decidiu converter os prazos fixos em dólares”, precisou o doutor Beraldi.