17.5 C
Brasília
sexta-feira, 4 julho, 2025

Inteligência artificial, problemas reais e a “demogracinha” brasileira

Wellington Calasans

A única certeza que temos é que a “guerra de memes” retroalimenta a democracia aparente no Brasil (a tal “demogracinha”), expondo o cidadão ao risco de viver entre a Ilusão de que é capaz de mudar algo e a frustração de saber que foi apenas contido pelos “vídeos engraçados feitos com IA”.

Ainda que utópica, a democracia, em sua essência, pressupõe que o poder emana do povo e deve ser exercido em seu benefício, seja diretamente ou por meio de representantes eleitos. No entanto, o Brasil contemporâneo vivencia uma distorção desse ideal: a chamada “democracia aparente”.

Nesse cenário, políticos autodeclarados de direita ou esquerda simulam divergências ideológicas, mas convergem em agendas que atendem a interesses incompatíveis com as premissas das soberanias nacional e popular, pois são distantes das necessidades do país e do povo.

Essa convergência, muitas vezes, mina a soberania nacional e popular, especialmente em temas como a manutenção de altas taxas de juros (Selic) e a privatização de empresas estratégicas, como as do setor energético ou de infraestrutura.

A ilusão de pluralismo político é sustentada por um sistema que, embora eleitoralmente competitivo, mascara a uniformidade de propostas entre os poderes Executivo e Legislativo.

Enquanto debates superficiais ocupam o centro das atenções, questões estruturais — como a desigualdade social e a dependência econômica — são negligenciadas. Essa dinâmica corrobora a tese de que a transparência eleitoral é fragilizada quando não há verdadeira disputa de projetos, pois os patrocinadores dominam todo o espectro.

Paralelamente, a esfera pública brasileira é palco de uma “guerra de memes” que, ao ser amplificada por veículos tradicionais como a Rede Globo, cria a falsa narrativa de um conflito entre “pobres e ricos”.

A cobertura midiática desses fenômenos, porém, não reflete um avanço democrático, mas sim a cooptação de discursos populares por uma estrutura de poder que historicamente sabotou a autonomia nacional.

A ilusão de “vitória do pobre” via viralização de conteúdos esconde a manutenção de um status quo excludente, alimentando expectativas irreais que, quando frustradas, reforçam o ceticismo em relação à política, permitindo a manutenção de figuras nefastas à frente dos poderes constituídos.

Essa desconexão entre representantes e representados agrava a crise de representatividade. A população, especialmente a juventude, afasta-se de instituições vistas como corruptas ou ineficazes, abrindo espaço para soluções autoritárias ou messiânicas.

A democracia, como sistema que depende da participação ativa, sucumbe à apatia gerada pela sensação de que “tudo é igual” — mesmo quando as urnas insistem em convencer de que oferecem alternativas.

Enquanto a “democracia aparente” persistir, o Brasil seguirá distante de seu potencial de autogoverno. A solução não está em polarizações artificiais, mas na reconstrução de um projeto coletivo que resgate a soberania popular e nacional, alinhando as instituições aos princípios que definem a democracia: liberdade, igualdade e justiça.

É preciso condenar o comportamento predominante de “cidadão zumbi”. “Vídeos engraçados feitos com IA” não substituem a verdadeira luta. Sem esta consciência, a frustração continuará a alimentar um ciclo vicioso de descrença e retrocesso.

*Comete este link*:

https://x.com/wcalasanssuecia/status/1941072998791778761

ÚLTIMAS NOTÍCIAS