Intelectual agradece Prêmio Patrimônio da Cinemateca Boliviana

Por Jorge Petinaud Martínez/Correspondente-chefe na Bolívia

“Adoro este reconhecimento porque tenho colaborado muito com a Cinemateca, instituição que completou 48 anos no dia 12 de julho, pela qual me sinto muito grato”, afirmou o destacado intelectual.

Significou que a instituição que resgata e revitaliza a memória audiovisual do país andino-amazônico o reconhece como o primeiro historiador do cinema boliviano, trabalho que realizou em tempos em que a Internet não existia e era necessário mergulhar no arquivos.

“Mais do que tudo, foi importante entrevistar os protagonistas do cinema boliviano da década de 1920 – explicou Gumucio -, tive muita sorte de procurá-los, encontrá-los e colher seus depoimentos, ninguém fez isso porque era algo que exigia um muito esforço.”

Ao se referir ao seu início na sétima arte, destacou a influência do padre e cineasta de origem espanhola, assassinado pela ditadura militar em 21 de março de 1981, Luis Espinal.

“Ele teve muita influência na minha carreira porque quando chegou à Bolívia em 1968 deu alguns cursos, um sobre grandes diretores e outro em relação à crítica de cinema dos quais participei.”

Ele comentou que foram apenas algumas semanas, mas nesse período nasceu uma grande amizade, “e obviamente seu amor pelo cinema e sua decisão desde o primeiro minuto de se tornar boliviano foram muito importantes para mim”.

Por isso, deixou de estudar Medicina e chegou a completar um ano de Filosofia e Letras com o objetivo de estudar cinema, porém, não havia lugar para fazê-lo na Bolívia.

Assim, quando ocorreu o golpe militar em 1980, exilou-se na França e lá estudou cinema, conheceu personalidades do setor e ainda, antes de retornar, apoiou Jorge Sanjinés no filme Fuera de Aqui, que fizeram no Equador, e posteriormente deu aulas na escola deste mestre do cinema boliviano.

Sobre seu trabalho como documentarista, lembrou que entre cerca de 15 obras destaca-se Señores Coloneles, Señores Generales (1976), que aprofunda o papel da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos e do Exército Boliviano no golpe militar de 1971. contra o governo de Juan José Torres.

Este filme inclui entrevistas com personalidades altamente relevantes, como o ex-oficial da CIA Phillip Agee e o jornalista francês Regis Debray.

“Esse foi o meu projeto de último ano na França, decidi criar algo que fosse útil, não apenas um ensaio de cineasta, e foi assim que nasceu aquele documentário”, explicou.

“Tive a sorte de conhecer Regis Debray e Phillip Agee”, lembrou ele, “que estavam de passagem por Paris e me deram todas as informações sobre a CIA na Bolívia”.

Ele lembrou que, imediatamente, antes de concluir o filme, foi feita a denúncia e houve comoção na Bolívia porque os Estados Unidos tiveram que retirar 20 agentes da CIA de um dia para o outro porque já estavam identificados.

Ao se referir aos jovens cineastas, Gumucio sugeriu que fossem criativos e não “dogmáticos como tínhamos que ser em nossa época, deveriam dar asas à imaginação porque possuem todas as facilidades tecnológicas de hoje”.

“Para nós, um metro de filme de 16 milímetros tinha um custo muito alto, porém, agora, com um celular, consegue-se uma qualidade de quatro K”, concluiu o laureado intelectual da Fundação Cinemateca.

Com sua caneta de crítico e sua câmera, Gumucio deixou uma marca importante na comunicação, na política e na cultura da Bolívia.

Esta obra inclui cerca de 15 documentários filmados na Bolívia, América Latina e África.

Como crítico de cinema, durante décadas manteve colunas em publicações na América Latina, América do Norte e África.

Seu talento também deu origem a vinte livros, entre os quais se destaca A Máscara do Gorila (1982), premiado pelo Instituto de Belas Artes do México.