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quinta-feira, 26 dezembro, 2024

Indígenas denunciam invasão de garimpeiros e relatam abusos sexuais no Amazonas

Imagens mostram festa de garimpeiros na aldeia Jarinal – Reprodução/CTI

Invasores ainda ofereceram gasolina e etanol como bebida; região tem maior diversidade de povos isolados no planeta

Murilo Pajolla
Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

A Terra Indígena Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, está sendo invadida por garimpeiros ilegais. Organizações indígenas afirmam que os invasores levaram bebidas alcoólicas com produtos tóxicos e praticaram abuso sexual, colocando em risco vidas de indígenas isolados e de recente contato.

Garimpeiros invadiram a comunidade para realizar festa regada a gasolina com água e álcool etílico com suco, oferecido aos indígenas. Além disso, há relatos de crimes sexuais cometidos contra as mulheres indígenas”, informou a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), nesta quarta-feira (20) por uma rede social.

Centro de Trabalho Indigenista (CTI), organização que atua em parceria com povos indígenas há mais de 40 anos, divulgou relatos anônimos de indígenas que presenciaram a ação dos criminosos ambientais.

“Garimpeiros estão fazendo festa até o amanhecer e dando álcool para os parentes. Temos os parentes Tyohom-dyapa de recente contato, isso é preocupante”, contou uma liderança da aldeia invadida, chamada Jarinal, localizada no alto curso do rio Jutaí e lar de indígenas Kanamari e Tyohom-dyapa.

“Eles misturaram gasolina com água e deram para os parentes. Fizeram eles beberem gasolina”, complementa outro morador.

O Vale do Javari é lar do maior número de indígenas isolados (ou seja, aqueles que não mantém contato regular ou significativo com não indígenas) do planeta. Segundo o Instituto Socioambiental, a região é habitada por 26 povos, 19 deles isolados.


Aldeia Jarinal já viveu aumento da mortalidade infantil após invasão de garimpeiros / Reprodução/Cimi Norte I/José Rosha

Região sofreu invasão há três anos

Segundo o CTI, moradores da Jarinal alertaram parentes de outras aldeias via áudios de WhatsApp. Eles também informaram a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Conselho Indígena dos Kanamari do Juruá e Jutaí (Cikaju) e a Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja).

Outro relato divulgado pelo CTI é de uma liderança Kanamari, que recebeu os pedidos de ajuda. “Eles chegaram sem autorização de ninguém, foram invadindo, fizeram festa na aldeia e embriagaram os parentes”, contou o indígena, que não teve a identidade divulgada por medo de represálias de garimpeiros.

Na mesma região, mineradores ilegais já haviam sido expulsos por uma operação policial há três anos. A ação da Funai, do Ibama e da Polícia Federal destruiu 60 balsas de garimpo.

O temor é que a invasão possa agravar novamente a saúde dos moradores da Jarinal. Segundo o CTI, eles enfrentaram recentemente um cenário de elevação da mortalidade infantil.

Entre 2012 e 2019, 17 crianças e seis adultos Kanamari e Tyohom-dyapa morreram na aldeia Jarinal, a maioria vítimas de problemas respiratórios. As doenças foram trazidas pelos invasores.

Os Tyohom-dyapa são considerados de recente contato, ou seja, povos que têm algum grau de contato com não indígenas, mas não assimilaram completamente as formas de organização da sociedade capitalista.

Invasões se multiplicam

Essa é a segunda invasão de garimpeiros ilegais denunciada por indígenas em menos de uma semana. Na última quinta-feira (14), a cacica Juma Xipaya denunciou pelas redes sociais que a aldeia Karimaa, na Terra Indígena Xipaya, no Pará, havia sido invadida por garimpeiros armados.

As denúncias ganharam repercussão nacional, provocando a ação quase imediata do MPF, Ibama, Polícia Federal e a Funai. Os garimpeiros fugiram, e a balsa foi localizada em um localizada na área rural de Altamira (PA).

A embarcação levava sete pessoas, entre elas dois adolescentes, que foram apreendidos. O Ministério da Justiça afirmou que os adultos foram encaminhados a uma delegacia da Polícia Federal. Porém os Xipaya contestaram a informação, e disseram que os infratores estão em liberdade.

Outro lado

Brasil de Fato perguntou à Funai e ao Ministério Público quais providências estão sendo tomadas, mas não houve resposta até a publicação.

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