Capa do jornal Página/12 que ocupa as bancas da Argentina nesta quinta-feira (5)
A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), de negar na madrugada desta quinta-feira (4) o habeas corpus preventivo ao ex-presidente Lula foi o principal destaque dos maiores veículos da América Latina e do mundo.
“Se o ataque armado contra a caravana de Lula, na semana passada, no Paraná, havia indicado um ponto de inflexão no uso da violência política próximo às eleições de outubro, a investida dos militares marcou uma nova etapa do golpe que derrocou Dilma Rousseff há dois nãos. O golpe mutante, que nasceu como um artefato midiático-judicial, agora conta com a sustentação do partido militar. Já se pode falar de uma constelação de forças cívico-militares”, afirma o jornal.
O mexicano La Jornada fala que “se fechou o cerco” no Brasil para prender Lula. “Instalado na presidência um grupo encabeçado por Michel Temer, faltava o passo final: liquidar Lula e impedi-lo de retornar à presidência. Condenado por um juízo em que não houve uma só prova, um processo marcado por abusos, arbitrariedades e irregularidades – tudo isso frente ao silêncio cúmplice das instâncias máximas da Justiça brasileira – faltava esse passo.”
“Sem Lula, a possiblidade de que um troglodita de extrema-direita, o capitão da reserva e deputado Jair Bolsonaro, saia vencedor nas urnas, é concreta, como é concreta a possibilidade de que entre votos branco, nulos e abstenções se conte um número superior ao alcançado pelos candidatos.”
Já a emissora multiestatal Telesur lembrou que o ex-presidente denunciou que sofria perseguição judicial do juiz de primeira instância Sergio Moro, com fim de evitar sua candidatura presidencial.
“Enquanto o STF votava o habeas corpus, movimentos sociais e sindicatos se mobilizaram por todo o Brasil em defesa do ex-presidente e de seu direito a ser candidato nas eleições presidenciais de outubro, nas quais figura como favorito, segundo as pesquisas”, afirma a emissora com sede em Caracas.
Para o jornal britânico The Guardian, a decisão desta quarta provavelmente põe fim à carreira política do ex-presidente.
“Sob a lei brasileira, um candidato é proibido de concorrer a um cargo eleitoral por oito anos após ser considerado culpado de um crime. Algumas exceções foram feitas no passado, e a decisão final no caso de Lula seria feita pelo tribunal máximo eleitoral [o TSE], se ele oficialmente entrar com o registro para ser candidato nas eleições de outubro”, afirma o jornal.
Em outra reportagem, o periódico com sede em Londres afira que “muitos brasileiros lembram da era de Luiz Inácio Lula da Silva com carinho nostálgico e, por razões fortes e práticas, alguns argumentam que as mudanças que ele realizou no Brasil não foram suficientes para promover crescimento continuado”.
Para a emissora BBC, as batalhas legais de Lula “dividiram os brasileiros e esta decisão [do STF] não foi diferente”. “Seus críticos lançaram fogos de artifício em comemoração. Os apoiadores de Lula voltaram irritados para casa com o que chamam de afronta à democracia e um golpe.”
Já o francês Le Monde lembra que voltagem política subiu quando o general Villas Bôas decidiu se manifestar e falar sobre “impunidade”. “Nunca uma decisão dividiu tanto o Brasil, colocando em campos opostos aqueles que continuam a venerar o ex-chefe de Estado como um semideus e os que o consideram o pior vilão da humanidade”, disse.
Por sua vez, o jornal norte-americano The New York Times disse que a decisão “explosiva” do STF vira de ponta-cabeça “a política nacional e aparentemente anula sua tentativa de voltar ao poder”.
“Na [madrugada de] quinta, a corte deu sua resposta: decidiu manter o status quo, que afirma que condenados podem ser presos após uma decisão de segunda instância. Com a decisão na mão, a expectativa é que Moro emita um pedido de prisão para o ex-presidente em alguns dias”, conta o jornal.
O periódico argentino El Clarín cita o atual cenário político brasileiro e lembra o país “está a 7 meses de uma eleição que naufraga na incerteza”. O jornal também relata no que se basearam os votos de cada ministro e aponta para as delarações do general Villas Bôas que insinuou nesta quarta-feira (04/04) a “possibilidade de um eventual golpe militar”, escreve o jornal.
Fonte: Opera Mundi