Certos fatos históricos possuem uma carga de transformação na sua própria essência , de tal forma que, a despeito de serem alvos de intensa desinformação e manipulação, para rotulá-los como algo que não é, ou até mesmo ser o oposto ao seu verdadeiro significado, apesar disto, quando penetram na sagrada consciência do povo, assumem a força da verdade e se impõe ante as deturpações sórdidas feitas pelos que pretendem a eterna escravização dos povos.
Um destes episódios, de importância para toda a América Latina, é a Rebelião de 4 de Fevereiro de 1992, na Venezuela, quando, liderado por Hugo Chávez, o Movimento Bolivariano Revolucionário , gestado por mais de 20 anos dentro dos quartéis, se lançou na corajosa meta de interromper a falsa democracia do Ponto Fixo, – que na verdade era um perverso arranjo da oligarquia nativa, submissa aos EUA – para convocar o povo venezuelano à Eleição de uma Assembléia Popular Constituinte e à abertura de uma nova etapa para a Nação Bolivariana, tomando os destinos da história em suas próprias mãos!
Uma insurreição institucionalizada pela História
Não tendo sido vitorioso, em termos práticos, naquele momento – a iniciativa revolucionária foi detida pelo exército da oligarquia e Chávez convocou seus companheiros a uma honesta e honrada rendição temporária , para poupar vidas – o movimento daquele fevereiro abria a Venezuela para uma nova etapa histórica, sendo, assim, vitorioso no tabuleiro da história.
A mídia oligarca venezuelana, eternamente obediente às ordens de Washington, rotulara este movimento libertário como um golpe de estado, uma quartelada a mais na América Latina, uma versão grosseira de fatos heróicos, repetida infinitamente pela Globo no Brasil, o que, lamentavelmente, enganou e confundiu a algumas parcelas da população na América Latina, inclusive a alguns segmentos da própria esquerda, que , mais tarde, se corrigiram.
Entre as principais reivindicações do Movimento Bolivariano Revolucionário liderado por Chávez estava a convocação de uma Constituinte, com a participação direta do povo, pelo voto, com vistas a desnudar a terrível farsa que apresentava o regime político da Venezuela de então – produto de um pacto de elite que condenava o povo à miséria e ao ostracismo – como se fosse um exemplo de estabilidade democrática. Tratava-se de uma democracia sem povo, sendo este condenado, por décadas, a animalescos índices de miséria, exploração, analfabetismo, criminalidade, favelas, desemprego. Muito embora fosse um país rico, toda aquela imensa riqueza petroleira venezuelana era rapinada e destinada ao enriquecimento apenas de uma casta nativa e ao favorecimento dos EUA.
A Chama da Revolução dos Cravos
O Movimento Bolivariano Revolucionário foi construído pacientemente, cuidadosamente, disciplinadamente, por anos e anos, com todo o risco que significam iniciativas revolucionárias nas entranhas de instituições militares. A humanidade tem várias experiências similares a esta, e muitas foram duramente reprimidas, cobrando elevado preço em vidas. Outras, vitoriosas, tais como a Revolução dos Cravos, em Portugal, que, em 25 de abril de 1974, inicia sua transformação profunda, sob a direção política de jovens capitães do Exército, que, percebendo o crime histórico do colonialismo português, alicerçado no regime salazarista fascista, organizam a virada revolucionária na península ibérica, ao som de Grandola, Vila Morena, do compositor revolucionário Zeca Afonso – o Ali Primera português – e perfumada em cravos e liberdade.
A tomada do Quartel Moncada, em 26 de Julho de 1953, em Santiago de Cuba, também não foi bem sucedida em termos práticos imediatos, militares e políticos, mas constituiu-se na vitoriosa abertura do caminho, sob a orientação intelectual de José Marti, que levou gerações revolucionárias cubanas – tendo à frente o mais determinado e decidido de seus filhos, Fidel Castro – ao percurso da libertação definitiva da Ilha. Hoje, 58 anos depois, a triunfante Revolução Cubana, é já um Patrimônio da Humanidade, face à incontável contribuição que deu à libertação dos povos de todas as forças da opressão, em vários continentes. A humanidade tem uma dívida para com a generosa solidariedade da Revolução Cubana!
A Era Vargas: a contribuição brasileira
Chávez referia-se com freqüência ao exemplo da Revolução Cubana e à Tomada do Quartel Moncada. Também se referia com respeito e valorizava ao presidente Getúlio Vargas, homem que, também liderando um movimento cívico e militar, deu início a uma nova era para o Brasil, a partir da Revolução de 3 de Outubro de 1930, derrotando um governo oligárquico e submisso ao imperialismo. A Revolução de 30, que também se inicia como uma ação militar, tomando quartéis e contando com o apoio popular, em Porto Alegre, – onde se distribuiu armas ao povo – conformava uma unidade cívico-militar, com a participação de jovens tenentes revolucionários, abrindo uma fase de transformações sócio econômicas de grande porte, resultando na criação da Petrobrás, da Vale do Rio Doce, do BNDES, da CLT, da Previdência Social, no Monopólio Estatal dos Seguros e Resseguros, no Estatuto da Lavoura Canavieira, o Programa Nuclear, o ITA, entre tantas outras, que são construções da nacionalidade brasileira que, até hoje, permanecem no centro do cenário político, sendo alvo de perversa demolição do golpista Michel Temer. Hoje, mesmo os que criticaram o político gaúcho, encontram-se na obrigação consciente e patriótica de defender as conquistas da Era Vargas.
Revela-se um líder, meio índio, meio negro
A Rebelião de 4 de Fevereiro de 1992, permitiu ao povo Venezuela descobrir que, finalmente, tinha ali o seu líder, disposto uma transformação de envergadura histórica: Hugo Chávez, admirador de Fidel Castro e de Getúlio Vargas, de Perón e do general Juan Velasco Alvarado, de Lázaro Cárdenas e de Sandino, de Che Guevara e do coronel Thomas Sankara, a quem chamava de “o Guevara negro”. Chávez sintetizava em sua própria face, meio índia e meio negra, todas as cores de um povo que, em sua imensa maioria, era sistematicamente excluído da “democracia” sem povo da oligarquia Ponto Fixo, tal como a “democracia do bico de pena” da oligarquia brasileira, varrida pela Revolução de 30, de Vargas, que também instituiu o voto secreto, assegurou o direito de voto às mulheres e a criação da justiça eleitoral.
Preso em 1992 e absolvido pela História, tal como Fidel, Hugo Chávez sai da prisão como o mais popular dos venezuelanos e, por meio do voto direto, institucionaliza os objetivos do Movimento Bolivariano Revolucionário que, em 4 de fevereiro de 1992, se lançara definitivamente aos braços da história. É eleito Presidente da República e, ato contínuo, convoca a eleição de uma Assembléia Constituinte, reivindicação central daquela corajosa insurreição de fevereiro, derrotada no plano imediato, mas vitoriosa na transcendência da história.
Chávez revitaliza Bolívar e Zamora
Com Chávez eleito pelo voto popular, também chegam ao governo da Venezuela, as idéias de Bolívar, de Miranda, de Ezequiel Zamora, com sua máxima de “Tierra e Hombres Libres”. Um conjunto de medidas é colocado em marcha, graças ao 4 de fevereiro que abriu as cortinas da história para a Revolução Bolivariana. E esta, concretiza uma PDVSA totalmente estatal, ferramenta fundamental para todo o conjunto de políticas sociais e econômicas de Hugo Chávez, sempre lastreadas no voto popular. E quando a estatal PDVSA foi alvo de uma ação gigantesca de sabotagem, organizada pelo império, mas com o apoio de toda uma camada de gerentes e funcionários oligárquicos, que interromperam, por quase três meses, a produção , o abastecimento, a movimentação dos navios e a exportação, além de controlar todo o sistema de informática da estatal, Hugo Chávez não teve dúvidas em assumir diretamente a tarefa de retomada do controle da empresa para os objetivos da Nação Bolivariana. O resultado desta ação para retomar a PDVSA para controle nacional, inspirado em Bolívar e Zamora, Hugo Chávez convoca o povo, convoca os petroleiros, convoca os militares, determina a demissão de centenas de gerentes corruptos, muitos fugiram para os EUA ao serem processados pela justiça. Hoje, a PDVSA, possui, justamente, até um canal de TV a cabo.
A dimensão internacional da Revolução Bolivariana
Com a PDVSA inteiramente estatal, a Revolução Bolivariana passa a estruturar inúmeras iniciativas inspiradas em Bolívar e Zamora, entre elas a criação da da Petrosur, a Petrocaribe, a Telesur, o Banco do Sul, a socialização dos serviços de saúde, como decisivo apoio de Cuba, que enviou dezenas de milhares de profissionais de saúde para a Venezuela, e uma profunda revolução educacional, com a criação da Universidade Bolivariana, pública e gratuita, aberta aos mais humildes. Além disso, uma reforma no campo, multiplicando a distribuição de terras e a produção de alimentos, com apoio estatal, revitaliza Zamora.
Há também, o que é sonegado pela mídia oligárquica, uma série de medidas para os trabalhadores, entre elas uma Lei Laborar justa, a valorização do salário mínimo, a Missão Moradia, pela qual o estado, com o apoio da Rússia, da China e do Irã, constrói moradias e as distribui ao povo, totalmente equipadas com fogão, geladeiras e móveis essenciais. No plano cultural, Chávez cria a Vila do Cinema, com a idéia de que seja a Hollywood latino-americana, produzindo filmes como “Miranda”, “Bolívar” e “Zamora”, tendo o cinema venezuelano saltado a um novo patamar , recebendo inúmeros prêmios internacionais.
Gabriel Garcia Marques e Machado de Assis
A edição abundante e criteriosa de livros é também outra grande conquista da Revolução Bolivariana, democratizando radicalmente a cultura, distribuindo, gratuitamente, várias obras da literatura internacional, como Dom Quixote, de Cervantes, que teve uma edição de 1 milhão de exemplares distribuída totalmente em praças públicas, em todo o território nacional. Muito simbólico, também, é o fato de que uma edição de “Cem Anos de Solidão”, tenha sido a primeira obra editada em língua de uma tribo indígena da Amazônia Venezuelana, que, até então, não possuía forma escrita, o que só se tornou possível graças ao acolhimento das demandas culturais dos povos originários pela Revolução Bolivariana, envolvendo, ainda, um grande trabalho de filólogos, mas, respeitando os saberes indígenas. Até mesmo o livro de Machado de Assis, “Contos”, teve uma edição de 300 mil exemplares, distribuída gratuitamente, o que pode deixar envergonhada a indústria editorial brasileira, por suas raquíticas tiragens, inclusive de obras de nosso grande mestre da literatura….
A Unidade Cívico Militar e a Classe Operária
Com a Rebelião de Fevereiro de 1992 e com a eleição de Chávez, chegam à direção de Venezuela, as idéias de Bolívar, de Zamora, do brasileiro Abreu e Lima, de Sucre, mas, face à conquista histórica da Unidade Cívico Militar, abre-se passagem para que um filho da classe operária, na pessoa da Nicolás Maduro, chegasse à presidência. E, apesar de toda sabotagem da oligarquia e do imperialismo , com o desabastecimento programado, com a derrubada artificial dos preços do petróleo, com a guerra midiática impiedosa contra um país que erradicou o analfabetismo, reduziu a mortalidade infantil e a miséria, diminuiu o desemprego e as favelas, Nicolás Maduro resiste com firmeza e coragem ao desprezo da oligarquia nativa. Esta oligarquia, que hoje controla um Parlamento golpista, atuando na ilegalidade,vai sendo derrotada pela resistência heróica do povo de Bolívar, que também resiste às agressivas ações de ingerência do falso Prêmio Nobel da Paz, Barack Obomba, que, em 8 anos de tentativas de desestabilização da Venezuela, foi-se, enquanto a Revolução Bolivariana continua de pé. Segue construindo Pátria, enfrentando todos seus inimigos. Enquanto Barack Obomba passou deixando um rastro arrogante de ingerências e de 26 mil bombas lançadas contra a Síria, e de 166 dias de bombardeios contra Líbia, a Venezuela constrói integração e solidariedade na América Latina, organiza-se em Frente única Anti-Imperialista com o apoio da Rússia e da China e vai mantendo bem alta a chama inspiradora da Rebelião de 4 de Fevereiro de 1992, agora transformada em política de estado, democrática, soberana e solidária, respeitada internacionalmente.
Maduro e o Ministro da defesa, Vladimir Padriño Lopez: unidade cívico-militar, um operário e um general unidos pela Revolução Bolivariana