Luciano Seixas Chagas*
Desde o momento em que a Rede Globo de televisão, com o apoio do jornal O Globo, se arvorou em professor de economia, um sem número de sandices obscenas passou a frequentar a opinião pública (sic). Nesta Notícia em que se considera a venda de ativo, com inegável e demonstrável prejuízo para a Petrobrás, como lucro no exercício, chega a merecer uma queixa crime por iludir a economia popular.
Vejam a Notícia e o Comentário de Luciano Seixas Chagas.
PETROBRÁS MELHORA GRAU DE INVESTIMENTO E AUMENTA DIVISÃO DE DIVIDENDOS DEPOIS DO LUCRO RECORDE
O lucro recorde anunciando ontem (20) pela Petrobrás – mesmo que as vendas dos ativos tenham sido consideradas tecnicamente como lucro – fizeram a empresa andar três casas pra frente. A Petrobrás informou que os acionistas da companhia receberão parte do lucro, mais de R$ 10,6 bilhões, que serão distribuídos. E nesta tarde (21), a empresa informou que a agência de classificação de risco Fitch Ratings elevou a sua nota de crédito stand-alone (risco intrínseco) em dois níveis, de “bb+” para “bbb”, segundo nível da escala de grau de investimento. A agência manteve o nível de risco (rating) da dívida corporativa da companhia em “BB-”, com perspectiva estável.
A Diretora Executiva Financeira e de Relacionamento com Investidores, Andrea Almeida, declarou: “Estamos muito felizes com a alteração da nota da Petrobrás, principalmente porque confirma que todo o trabalho de transformação da empresa, focado na redução do endividamento e redução do custo do capital, está sendo reconhecido pelo mercado. Sabemos que temos um longo caminho pela frente, mas ficamos muito honrados com esse reconhecimento”.
A Fitch ressaltou que a elevação da nota stand-alone reflete a melhora na estrutura de capital da companhia, a forte geração de caixa e flexibilidade financeira, com liquidez robusta, sólida capacidade de acessar o mercado de dívida para refinanciamento e expectativa de melhorias contínuas no futuro. Segundo a agência, o rating da companhia em escala global continua limitado pelo rating da República Federativa do Brasil, acionista controlador da companhia.
Após a divulgação dos resultados completos de 2019, com o anúncio dos dados do quarto trimestre, analistas do mercado exaltaram as melhoras na gestão operacional da empresa e, com isso, a perspectiva de lucros em alta se mantém, com a promessa de seguir dividindo os bons resultados entre os acionistas, por meio de dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP), as formas como as empresas distribuem os ganhos com os investidores. Em agosto passado, a Petrobrás aprovou uma nova política de remuneração aos acionistas, cuja principal diretriz é ampliar a distribuição do lucro no caso de conseguir reduzir a dívida bruta abaixo de US$ 60 bilhões. No balanço financeiro do encerramento de 2019, a dívida total da estatal ficou em US$ 87,1 bilhões, mas, nos comunicados ao mercado e nas declarações públicas de seus diretores, a companhia reafirmou o compromisso de seguir vendendo ativos para reduzir o endividamento.
Como a participação que ainda detém da BR Distribuidora, que opera a rede de postos de gasolina, e a metade de suas refinarias, a Petrobrás terá condições de reduzir a dívida e, assim, pagar mais de seu lucro para os acionistas. Ao lado do lucro de R$ 40,1 bilhões em 2019, a Petrobrás confirmou o pagamento extra de R$ 1,7 bilhão do resultado aos seus acionistas, elevando para R$ 10,6 bilhões o total a ser distribuído aos detentores de suas ações. Boa parte disso ficará com o governo federal, seu principal acionista, que tem 42,38% do capital total da petroleira, mas os pequenos acionistas, como pessoas físicas, também poderão se beneficiar.
COMENTÁRIO
Estão distribuindo, como lucro, receita proveniente da venda de preciosos ativos que afetarão, no próximo ano, o faturamento bruto da Petrobras e, consequentemente, o lucro. A tresloucada política de se concentrar nos ativos de E&P, a se manter a tendência atual dos preços para 2020, poderão, na verdade, pouco impactar no aumento das receitas, apesar do projetado aumento expressivo da produção e do baixo “breakeven” dos reservatórios do Pré-Sal, todos consequentes de investimentos e ações deflagradas há mais de 10 anos. Aliado a isso a “briosa gestão Petrobrás”, como as três anteriores, está vendendo ativos de E&P, contrariando o discurso. Por exemplo venderam Maromba, e anunciam vendas de outros ativos. Na Bacia de Campos, sob a premissa de que a Petrobrás tem baixa recuperação nos reservatórios simples do Pós-Sal, vendem campos aparentemente muito depletados, mas que contêm o valoroso reservatório do Pré-Sal, ainda inexplorado, onde existem todas as possibilidades e potencialidades de serem portadores comerciais de grandes montantes de hidrocarbonetos. Se não vendem, fazem estranhas “parcerias” pouco explicitadas na essência.
Pior ainda é que a baixa recuperação dos campos do Pós-Sal é uma consequência exclusiva da falta de investimentos com tal intento. A Petrobrás tem expertise no assunto e não a usa porque não quer. Os exemplos da elevação dos fatores de recuperações feita por técnicos da Petrobrás são abundantes. Por exemplo, Carmopólis (SE), Ubarana (RN), Canto do Amaro (RN), Cidade de Aracaju (SE, este um pequeno campo que já recuperou mais de 120% das reservas do pequeno Campo com empuxo original de água (water drive) cuja produção foi muito maior que as reservas na Formação Serraria), etc. A Petrobrás, quando investia, tinha bons resultados apesar das complexidades dos reservatórios tratados. Será que os atuais gestores (ou seriam gestores?) oriundos e com vícios da gestão de capital financeiro, o que só beneficia os dos andares de cima (vide composição atual dos detentores das ações ordinárias e preferenciais da empresa) querem resolver os problemas do Brasil ou apenas gerar lucros com fazem as majors pertencentes aos mesmos donos, que priorizam lucros maiores até contra a própria geração de caixa (Exxon), mesmo que isso fragilize as empresas. O rápido retorno do capital investido é o “negócio”. Para quem? Adivinhem se forem capazes! Enquanto isso os países, principalmente os de direções ou gestões irresponsáveis, que explodam. O liberalismo venceu como doutrina política com os conceitos escritos nos tomos das “Riquezas das Nações” adamsmithiano, mas tem imensas dificuldades atuais e mundiais de distribuir riquezas via concorrência com o dito pressuposto liberal na sua radicalização. Nos Países com homens ricos mais sadios como o Bill Gates, Warren Buffet etc., propõem a taxação maior daqueles dos andares de cima para distribuir renda. As petroleiras estatais e privadas verticalizam as suas empresas.
No mirabolante Brasil usamos receitas velhas e falhas, para resolvermos nossos problemas, sempre um passo atrás do utilizado no mundo dito civilizado.
Aqui os “gestores” da Petrobrás verbalizam através de uma das diretoras: A Diretora Executiva Financeira e de Relacionamento com Investidores, Andrea Almeida, declarou: “Estamos muito felizes com a alteração da nota da Petrobrás, principalmente porque confirma que todo o trabalho de transformação da empresa, focado na redução do endividamento e redução do custo do capital, está sendo reconhecido pelo mercado. Sabemos que temos um longo caminho pela frente, mas ficamos muito honrados com esse reconhecimento”.
O mercado financeiro e o capital especulativo agradecem cara senhora Andrea. Os brasileiros não, pois um futuro sombrio os espera por conta destas desastrosas gestões.
*Luciano Seixas Chagas, aposentado da Petrobrás