Daniel Vaz de Carvalho
1 – A mídia e a lavagem ao cérebro
O jornalismo no dito ocidente alinha num contexto que só se entende numa guerra entre a Rússia e a OTAN. A orientação é dada a partir de Washington, sem sequer tentar manter as aparências.
Fatos inverosímeis são dados como certos, as evidências rejeitadas, a paixão suprimiu a lógica. As centrais de desinformação produzem notícias à medida das estratégias EUA/OTAN e os “comentadores” palram sobre a realidade virtual que lhes é dada sem preocupação de ter ou confirmar provas. Passaram de especialistas em economia, em climatologia, em virologia, a especialistas militares em estratégia e planejamento tático. O mais espantoso é que recusam ouvir os verdadeiros especialistas destas matérias e, quando não pode deixar de ser, remetem evidências e considerações cientificas para a categoria de “opiniões”.
O jornalismo ocidental mergulhou num declínio tal que os jornalistas alinham como soldados sob ordens, sem discussão, sem distanciamento, em declarações de natureza política sobre fatos graves que deviam ser exaustivamente apurados, como as atrocidades cometidas nesta guerra. Repetem o argumento imbecil de que os países europeus comprando a energia à Rússia, “financiam a guerra contra a Ucrânia”, não pensam que se possa dizer que a Rússia mantém assim as indústrias e o poder económico dos seus adversários para apoiarem militar e financeiramente o poder na Ucrânia? Quando Joe Biden usa as palavras, “carniceiro”, “ditador”, “criminoso de guerra” em relação a Vladimir Putin, e todos os jornalistas o repetem, que resta da independência?
A lavagem ao cérebro prossegue e agrava-se. Trata-se mesmo de lobotomia quando os mais explorados se deixam seduzir por partidos que se caracterizam pela boçalidade e impreparação em termos de debate político, propostas inconsistentes misturadas num chorrilho de contradições de neoliberalismo radical. Se apesar disto se conseguem tornar o terceiro partido da AR mostra o nível de destruição cultural e ideológica a que a social-democracia (PS e PSD) levaram o país, para se tornarem bem vistos pelo império e seus cúmplices na UE.
A estupidez atingiu tal nível que defender esforços para alcançar a paz (PCP) e não contribuir para o agravar da guerra e seus sofrimentos se tornou “defender a Rússia”, pouco falta para ser atribuída “traição nacional”.
A propaganda entrou num transe de histeria coletiva que escapa a todo o raciocínio lógico. O “império das mentiras” (na expressão de Andrei Martyanov) produz notícias que se tornam verdade oficial na OTAN e aliados. Na NBC news é divulgada – com orgulho – a estratégia de falsas notícias dos EUA, em que funcionários dos EUA admitem que o Pentágono, a mídia, etc, têm usado a “estratégia” de mentir, inventando falsas informações para “combater a Rússia”. A maior parte das informações à volta do conflito são falsas, admitiram.
2 – As atrocidades humanitárias e democráticas e as outras
Ao fim de 46 dias de guerra dados da ONU reportavam 1 892 civis mortos e 2 558 feridos. Claro que é lamentável, mas uma matemática simples dá-nos uma ideia de quantos ucranianos são dignos do nosso luto. Contra as regiões que não aceitaram o fascismo instalado em Kiev (Donetsk e Lubansk) contam-se desde 2014, 14 mil habitantes mortos e 1,5 milhões de deslocados devido aos ataques a que foram sujeitas. Para essas milhares de mortes, homens, mulheres e crianças nunca se ouviu uma palavra de protesto ou solidariedade, dos políticos da UE nem dos “comentadores” que agora esbravejam em nome dos direitos humanos. Perdemos todo o sentido de decência, de moralidade, de proporção. Pode alguém ouvir o ruído das últimas semanas sem interrogar se fizemos de nós mesmos uma nação de grotescos? – pergunta Patrick Lawrence, jornalista, escritor e professor universitário aos seus concidadãos dos EUA.
O número de iraquianos mortos na guerra dos EUA e ocupação do Iraque está estimado em 1 455 590. No Iraque, Raqqa e Mossul foram reduzidas a cinzas, matando milhares de civis, incluindo mulheres e crianças, cujos corpos ficaram por sepultar durante semanas. Sobre o território jugoslavo, inclusive em Belgrado, foram lançadas entre 10 e 15 toneladas de bombas de urânio empobrecido que provocou um desastre ambiental e a multiplicação de doenças oncológicas. Uma guerra civil foi instaurada para desmembrar o país. Da Líbia ao Afeganistão nenhuma tragédia moveu as piedosas almas que choram pelos sofrimentos na Ucrânia, mas apoiam o envio intensivo de material de guerra e condenam quem fala em negociações para a paz.
Uma das histórias da propaganda foi o do bombardeamento da maternidade em Mariupol. Uma empregada chamada Marianne, refutou completamente a “notícia” numa entrevista: não só a maternidade não foi “bombardeada”, como as falsas notícias afirmaram, mas os militares ucranianos invadiram a maternidade e roubaram a comida das pacientes. Os soldados apareceram com jornalistas ocidentais usaram-na como “adereço” apesar de ela protestar e chorar. A peça da grávida foi utilizada como objeto de propaganda orquestrada.
O massacre de Bucha é mais uma encenação dos responsáveis pelo massacre de My Lay (Vietnã), as armas de destruição massiva no Iraque, bombardeamentos na Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, violência contra os palestinos, etc. Não consta que toda a emoção agora exibida se tenha manifestado quando à hora do jantar se assistiu a mísseis caindo sobre a indefesa população de Bagdá. A morte de 500 mil crianças no Iraque (guerra e sanções) valeu a pena segundo Madeleine Albraight.
Acerca do alegado massacre de Bucha (arredores de Kiev) o representante russo na ONU pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança que foi recusada pela presidente em exercício, representante do Reino Unido. A recusa em convocar a reunião pedida é algo inacreditável e sem precedentes. As Regras do Conselho de Segurança determinam que a Presidência deve convocar uma reunião a pedido de qualquer membro do Conselho. Trata-se, pois, de um abuso sem precedentes. O representante russo convocou então uma conferência de imprensa onde apresentou provas das mentiras propaladas. Claro que a mídia “presstitutos” (Paul Craig Roberts) escondem tudo isto:
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Enquanto a cidade esteve sob controlo das forças armadas russas os habitantes puderam mover-se livremente e usando tele móveis mostrar ou denunciar quaisquer ocorrências de “maus tratos”. Isso não aconteceu.
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A 30 de março, no seguimento das conversações em Ancara as forças russas retiraram de várias regiões, incluindo Bucha. O presidente da câmara considerou-o uma vitória das forças ucranianas, porém não mencionou atrocidades, mortes, ou algo como isto. No vídeo então exibido na TV ucraniana, não há qualquer menção a atrocidades na cidade. Um deputado ucraniano visitou Bucha, na reportagem sorri alegremente, nos seus relatos não há qualquer referência a corpos de pessoas mortas ou massacres.
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A 2 de abril um vídeo mostra as forças da Ucrânia a entrarem em Bucha e a entrevistarem pessoas em diferentes locais da cidade. Nenhuma diz uma palavra sobre massacres. Em resumo, quatro dias após a retirada dos militares russos não havia quaisquer sinais de “atrocidades”, nem uma única referência.
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O vídeo dos cadáveres expostos apareceu a 3 de abril. Os corpos teriam estado, portanto, no mínimo quatro dias expostos, contudo não apresentavam sinais de decomposição. Alguns dos “mortos” movem-se, mostram sinais de vida. Bucha, foi uma encenação, uma falsa notícia, uma provocação.