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terça-feira, 8 outubro, 2024

Guerra na Ucrânia e a manipulação triunfalista na mídia orientada pelos EUA

Daniel Vaz de Carvalho

1 – A mídia e a lavagem ao cérebro

O jornalismo no dito ocidente alinha num contexto que só se entende numa guerra entre a Rússia e a OTAN. A orientação é dada a partir de Washington, sem sequer tentar manter as aparências.
Fatos inverosímeis são dados como certos, as evidências rejeitadas, a paixão suprimiu a lógica. As centrais de desinformação produzem notícias à medida das estratégias EUA/OTAN e os “comentadores” palram sobre a realidade virtual que lhes é dada sem preocupação de ter ou confirmar provas. Passaram de especialistas em economia, em climatologia, em virologia, a especialistas militares em estratégia e planejamento tático. O mais espantoso é que recusam ouvir os verdadeiros especialistas destas matérias e, quando não pode deixar de ser, remetem evidências e considerações cientificas para a categoria de “opiniões”.
jornalismo ocidental mergulhou num declínio tal que os jornalistas alinham como soldados sob ordens, sem discussão, sem distanciamento, em declarações de natureza política sobre fatos graves que deviam ser exaustivamente apurados, como as atrocidades cometidas nesta guerra. Repetem o argumento imbecil de que os países europeus comprando a energia à Rússia, “financiam a guerra contra a Ucrânia”, não pensam que se possa dizer que a Rússia mantém assim as indústrias e o poder económico dos seus adversários para apoiarem militar e financeiramente o poder na Ucrânia? Quando Joe Biden usa as palavras, “carniceiro”, “ditador”, “criminoso de guerra” em relação a Vladimir Putin, e todos os jornalistas o repetem, que resta da independência?
A lavagem ao cérebro prossegue e agrava-se. Trata-se mesmo de lobotomia quando os mais explorados se deixam seduzir por partidos que se caracterizam pela boçalidade e impreparação em termos de debate político, propostas inconsistentes misturadas num chorrilho de contradições de neoliberalismo radical. Se apesar disto se conseguem tornar o terceiro partido da AR mostra o nível de destruição cultural e ideológica a que a social-democracia (PS e PSD) levaram o país, para se tornarem bem vistos pelo império e seus cúmplices na UE.
A estupidez atingiu tal nível que defender esforços para alcançar a paz (PCP) e não contribuir para o agravar da guerra e seus sofrimentos se tornou “defender a Rússia”, pouco falta para ser atribuída “traição nacional”.
A propaganda entrou num transe de histeria coletiva que escapa a todo o raciocínio lógico. O “império das mentiras” (na expressão de Andrei Martyanov) produz notícias que se tornam verdade oficial na OTAN e aliados. Na NBC news é divulgada – com orgulho – a estratégia de falsas notícias dos EUA, em que funcionários dos EUA admitem que o Pentágono, a mídia, etc, têm usado a “estratégia” de mentir, inventando falsas informações para “combater a Rússia”. A maior parte das informações à volta do conflito são falsas, admitiram.

2 – As atrocidades humanitárias e democráticas e as outras

A UE destila nazis.
Ao fim de 46 dias de guerra dados da ONU reportavam 1 892 civis mortos e 2 558 feridos. Claro que é lamentável, mas uma matemática simples dá-nos uma ideia de quantos ucranianos são dignos do nosso luto. Contra as regiões que não aceitaram o fascismo instalado em Kiev (Donetsk e Lubansk) contam-se desde 2014, 14 mil habitantes mortos e 1,5 milhões de deslocados devido aos ataques a que foram sujeitas. Para essas milhares de mortes, homens, mulheres e crianças nunca se ouviu uma palavra de protesto ou solidariedade, dos políticos da UE nem dos “comentadores” que agora esbravejam em nome dos direitos humanos. Perdemos todo o sentido de decência, de moralidade, de proporção. Pode alguém ouvir o ruído das últimas semanas sem interrogar se fizemos de nós mesmos uma nação de grotescos? – pergunta Patrick Lawrence, jornalista, escritor e professor universitário aos seus concidadãos dos EUA.
O número de iraquianos mortos na guerra dos EUA e ocupação do Iraque está estimado em 1 455 590. No Iraque, Raqqa e Mossul foram reduzidas a cinzas, matando milhares de civis, incluindo mulheres e crianças, cujos corpos ficaram por sepultar durante semanas. Sobre o território jugoslavo, inclusive em Belgrado, foram lançadas entre 10 e 15 toneladas de bombas de urânio empobrecido que provocou um desastre ambiental e a multiplicação de doenças oncológicas. Uma guerra civil foi instaurada para desmembrar o país. Da Líbia ao Afeganistão nenhuma tragédia moveu as piedosas almas que choram pelos sofrimentos na Ucrânia, mas apoiam o envio intensivo de material de guerra e condenam quem fala em negociações para a paz.
Os nazis do Azov estão enfiados como ratos nos túneis da siderúrgia Azovstal.
Uma das histórias da propaganda foi o do bombardeamento da maternidade em Mariupol. Uma empregada chamada Marianne, refutou completamente a “notícia” numa entrevista: não só a maternidade não foi “bombardeada”, como as falsas notícias afirmaram, mas os militares ucranianos invadiram a maternidade e roubaram a comida das pacientes. Os soldados apareceram com jornalistas ocidentais usaram-na como “adereço” apesar de ela protestar e chorar. A peça da grávida foi utilizada como objeto de propaganda orquestrada. 
O massacre de Bucha é mais uma encenação dos responsáveis pelo massacre de My Lay (Vietnã), as armas de destruição massiva no Iraque, bombardeamentos na Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, violência contra os palestinos, etc. Não consta que toda a emoção agora exibida se tenha manifestado quando à hora do jantar se assistiu a mísseis caindo sobre a indefesa população de Bagdá. A morte de 500 mil crianças no Iraque (guerra e sanções) valeu a pena segundo Madeleine Albraight.
Acerca do alegado massacre de Bucha (arredores de Kiev) o representante russo na ONU pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança que foi recusada pela presidente em exercício, representante do Reino Unido. A recusa em convocar a reunião pedida é algo inacreditável e sem precedentes. As Regras do Conselho de Segurança determinam que a Presidência deve convocar uma reunião a pedido de qualquer membro do Conselho. Trata-se, pois, de um abuso sem precedentes. O representante russo convocou então uma conferência de imprensa onde apresentou provas das mentiras propaladas. Claro que a mídia “presstitutos” (Paul Craig Roberts) escondem tudo isto:
  • Enquanto a cidade esteve sob controlo das forças armadas russas os habitantes puderam mover-se livremente e usando tele móveis mostrar ou denunciar quaisquer ocorrências de “maus tratos”. Isso não aconteceu.
  • A 30 de março, no seguimento das conversações em Ancara as forças russas retiraram de várias regiões, incluindo Bucha. O presidente da câmara considerou-o uma vitória das forças ucranianas, porém não mencionou atrocidades, mortes, ou algo como isto. No vídeo então exibido na TV ucraniana, não há qualquer menção a atrocidades na cidade. Um deputado ucraniano visitou Bucha, na reportagem sorri alegremente, nos seus relatos não há qualquer referência a corpos de pessoas mortas ou massacres.
  • A 2 de abril um vídeo mostra as forças da Ucrânia a entrarem em Bucha e a entrevistarem pessoas em diferentes locais da cidade. Nenhuma diz uma palavra sobre massacres. Em resumo, quatro dias após a retirada dos militares russos não havia quaisquer sinais de “atrocidades”, nem uma única referência.
  • O vídeo dos cadáveres expostos apareceu a 3 de abril. Os corpos teriam estado, portanto, no mínimo quatro dias expostos, contudo não apresentavam sinais de decomposição. Alguns dos “mortos” movem-se, mostram sinais de vida. Bucha, foi uma encenação, uma falsa notícia, uma provocação.
Segundo Scott Ritter, ex-oficial dos Marines dos EUA, é absurdo falar em brutalidade de tropas russas contra civis. É possível haver baixas civis, mas os objetivos têm sido militares. Os soldados russos têm-se mantido dentro das leis internacionais de combate. No Afeganistão houve casos de quebra da lei, envergonhando o exército dos EUA, mas não foram ordens do comando central.
Apareceram notícias de civis retidos em Mariupol, porém foram abertos corredores humanitários e todos os bairros habitacionais já libertados – é o termo visto saírem das mãos de grupos nazistas – sendo o último reduto a fábrica Azovstal. É espantoso como não se questiona a razão de aí poderem estar civis, ilibando os nazistas do batalhão Azov que a ser verdade os conservaram como reféns. O mesmo se passa aliás nos ataques a instalações militares em cidades tornadas centros de concentração de soldados e equipamento.

3 – A Rússia já teria perdido a guerra

Possíveis objectivos da 2ª fase das operações.
Enquanto “comentadores” vão dissertando sobre como a Rússia “já perdeu a guerra”. Mas o exército russo continua a avançar tomando várias cidades na Ucrânia, outras estão cercadas e sob ataque visando o controlo de centros estratégicos. Zelinsky, continua a sua tragicomédia garantindo que Mariupol será retomada pelas forças que estão a ser preparadas. Também se habituou a copiar processos nazistas, neste caso os reforços alemães que nunca chegaram a Stalingrado e a Berlim.
Entretanto no ponto mais alto de Mariupol foi hasteada a bandeira da República Popular de Donetsk. A limpeza e reconstrução da cidade e arredores foi já iniciada. Em maio está previsto um referendo na região de Kherson para criar outra República Popular. Será também realizado um referendo na região de Kharkov logo que esteja totalmente libertada.
Infraestruturas ferroviárias têm sido bombardeadas, bem como concentrações de material e tropas ucranianas. Na região de Kharkov foi tomado um enorme arsenal subterrâneo com milhares de toneladas de armamento e munições fornecidas pela OTAN. A maior parte dos blindados e artilharia pesada do exército de Kiev está em aglomerados urbanos, fora dos quais serão rapidamente destruídos. O seu abastecimento é também muito difícil. Dentro de algumas cidades – foi feito um vídeo em Kharkov – estão a formar-se células de Emerson resistência contra o regime de Kiev.
As perdas ucranianas têm atingido várias centenas por semana com dezenas de prisioneiros diariamente, apesar de ser espalhado entre os soldados alegadas torturas e assassinato de prisioneiros pelas tropas russas. Os próprios relatam isto, espantados pelo tratamento que lhes é dado, como é devido. É mais um processo copiado dos nazistas.
Durante toda a “operação especial” tem sido dada oportunidade à evacuação da população civil e a possibilidade de rendição pacifica às tropas regulares ucranianas. Quanto aos batalhões nazistas, serão ou mortos em batalha ou capturados e levados a julgamento. Daqui a lentidão com que as operações têm decorrido o que é aproveitado para confundir as pessoas.
De qualquer forma, na visão do comando russo, o tempo joga a seu favor, já que os bilhões de dólares que a OTAN tem investido encontram-se transformados em sucata, mostrando também o obsoletismo, face ao armamento russo, da maioria do material que a OTAN europeia dispõe e que tem sido fornecido. Com que dinheiro irá ser reposto é algo que não preocupa os prolixos “comentadores”.

4 – Bloquear o racional

Fala-se em genocídio, crimes de guerra, Putin não tem direito de viver, etc. O próprio decoro diplomático foi perdido. Com a perda de memória coletiva ninguém se questiona sobre o que aconteceu antes, nem quais os contextos desta guerra. Trata-se de bloquear o racional pela emoção do horror.
A russofobia tornou-se política de Estado na OTAN logo que os russos deixaram de ser olhados com sobranceria e desprezo como no tempo em que sofriam as misérias que a “democracia liberal” de Ieltsin e Chubais, assistidos “conselheiros” dos EUA. Apesar disto Putin tudo fez durante década e meia para acordos com os “parceiros” ocidentais.
O endosso ao ex-general nazi era oficial: até emitiam selos de correio.
Os nacionalismos russofóbicos foram então fomentados. Nos Estados Bálticos instaurou-se desde logo um poder fascizante, retirando direitos aos cidadãos russos, privando-os de direitos políticos, proibindo as crianças falarem russo nas escolas. A versão oficial passou a ser: “fomos independentes entre 1918 e 1944, quando fomos invadidos pelos russos”. Omitia que estiveram ocupados pela Alemanha nazista, donde partiram ataques à URSS, foram formadas unidades locais SS e realizados massacres sobre a população.
Na Finlândia, que foi base nazista e participou na agressão contra a URSS, foi dada a mesma versão da “invasão russa” em 1944. Na Polónia, na Ucrânia após 2014, a libertação dos povos da agressão e da barbárie nazista foi transformada em “invasão russa”, fomentando o nazifascismo nesses países.
O Exército Vermelho, que perdeu centenas de milhares de homens para libertar a Ucrânia, passou oficialmente a ser considerado um exército de ocupação. Foram glorificadas antigas brigadas de colaboracionistas das forças nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, que tinham Stepan Bandera como principal líder dessas gangs – responsáveis por centenas de milhares de assassinatos naquele período – foi declarado herói nacional.
A propaganda procura incutir uma dupla moral. Os refugiados ucranianos são considerados vítimas de um inenarrável drama; os refugiados e emigrantes do Oriente Médio e África são tão indesejados como incómodos parasitas que entrassem em casa, são alocados em verdadeiros campos de concentração ou sujeitos a semi escravatura quando obtêm trabalho. Tudo isto é conhecido.
Se falamos nas mortes causadas pelas intervenções da OTAN, as pessoas dizem sim, mas… a Ucrânia. Este mas anula o que se disse antes. Não se quer ouvir mais, isso poria em causa o que adquiriram como convicção. Podem morrer crianças iemenitas, líbias, sírias, iraquianas, palestinas, na África devastada pelas transnacionais e noutros países. Podem morrer mulheres e homens cuja única culpa é serem de países que caíram no desagrado do “ocidente”, para estes apenas a indiferença ou, pior, considera-los culpados da sua sorte e que “valeu a pena”.
O raciocínio é idêntico ao dos tempos feudais quanto à morte violenta de gente do povo e a um atentado contra a vida de um grande senhor ou de um monarca. Dado o direito divino dos reis, ofendia-se a própria divindade. Na Síria um súdito rebelde interferiu com os planos do imperador, na Ucrânia esse rebelde atenta contra o direito divino de governar o mundo. É disto que se trata.

5 – Como a UE acarinha o nazifascismo

Um veterano do batalhão Azov.
Vídeos mostram forças ucranianas abusando de prisioneiros russos. Num vídeo um jornalista ucraniano mostra três corpos carbonizados, que se considera serem prisioneiros de guerra. Aisling Reidy, consultora jurídica da Human Rights Watch, disse: “Deve ser possível verificar se houve abuso e, a partir daí, responsabilizar os responsáveis”. Outro vídeo mostra cinco homens em uniforme militar no chão com as mãos amarradas e dois deles com sacos na cabeça. Pelo menos três dos prisioneiros têm ferimentos nas pernas consistentes com ferimentos de bala.
Os captores têm uma mistura de uniformes, armas e equipamentos e nenhuma insígnia claramente identificável. Não está claro se fazem parte do exército regular, de uma unidade de defesa territorial (geralmente grupos nazistas) ou outra força. Alguns dos prisioneiros têm faixas brancas nos braços (civis ucranianos) um deles tem uma faixa vermelha, ambas usadas pelas forças pró-russas. Muitos dos captores têm braçadeiras azuis (forças de segurança ucranianas).
Quando as forças ucranianas entraram na cidade dispararam contra pessoas com braçadeira branca matando civis. Um vídeo mostra uma conversa entre um membro da “defesa territorial”. Um destes radicais pergunta se pode disparar contra pessoas sem braçadeira azul. O outro confirma que sim. Os “radicais nacionalistas” a pretexto de executarem “traidores” massacram pessoas inocentes.
Os nazistas do batalhão Azov torturaram e mataram soldados russos prisioneiros. Violaram mulheres e mataram os seus próprios concidadãos para os transformar em “vítimas dos russos”. É este o regime que a UE e EUA defendem. A repressão brutal contra democratas ucranianos pode ser conhecida aqui e aqui. Não apenas a propaganda segue Goebbels, como há unidades ucranianas que adotam os procedimentos das SS.
A descoberta de dezenas de laboratórios de guerra biológica clandestinamente construídos na Ucrânia, financiados e controlados pelos serviços secretos dos EUA, também não chocou nem sequer preocupou os defensores dos direitos humanos na mídia.
Eis em que transformaram um país que em 1989, 70% da população votou a favor da manutenção da URSS. As forças armadas são financiadas e treinadas do exterior, o país está falido desde 2014, a corrupção excede todos os padrões “normais” em capitalismo. Das primeiras medidas do governo saído do golpe de 2014, foi colocar na ilegalidade o Partido Comunista da Ucrânia, um dos mais influentes do País e prender centenas de militantes, comunistas e de outras organizações de esquerda, perseguir sindicalistas e opositores em geral. A miséria da sua situação social é descrita por Sara Flauders.
Forças nazistas apoiadas, treinadas e armadas pela OTAN, controlam governo e exército. O governo ucraniano incorporou estes nazistas na estrutura militar do País. A situação tem equivalente ao papel das SS na fase final da guerra. Os paramilitares nazistas comportam-se como verdadeiros esquadrões da morte, matando comunistas e barbarizando a população de origem ou simpatias pela Rússia.
comediante que faz de presidente da Ucrânia assume-se como porta-voz dos neocons dos EUA e continua a pedir mais armas, mais poderosas e a intervenção direta da OTAN. Os papagaios “comentadores” repetem a lição. Se estivessem preocupados com direitos humanos exigiam negociações e que se estabelecesse um armistício parando os combates.
Zelensky foi ouvido e aplaudido no Congresso dos EUA e também em parlamentos da UE. A audiência concedida nos parlamentos da UE ao presidente da Ucrânia mostra o carinho com que os nazifascistas são apoiados pelo ocidente.
Falou também para os deputados da AR. Como de costume, a dita esquerda “radical” portuguesa não faltou à chamada e disse: presente. Um único partido, o PCP, teve a dignidade de não participar neste dislate. Os “comentadores” não deixaram fugir a oportunidade de o atacar, branqueando o nazifascismo do regime de Kiev.
25/abril/2022
Este artigo encontra-se em resistir.info

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