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quinta-feira, 21 novembro, 2024

GUERRA COMO IDEAL ECONÔMICO, PAZ COMO IDEAL HUMANO, FRAUDE COMO PRINCÍPIO DE PODER

Pedro Augusto Pinho*
As palavras introdutórias do pensador alemão Axel Honneth em seu livro de 2011, “O Direito da Liberdade”, remete-nos à questão central deste artigo: “uma das grandes limitações de que padece a filosofia política da atualidade é estar distante da análise da sociedade e, desse modo, fixada em princípios puramente normativos” (na tradução da edição brasileira, Martins Fontes, SP, 2015).
Desde que o financismo se tornou o poder mundial, nos anos 1980, levantou-se a cortina que cobria toda doutrinação sobre a sociedade construida sob o manto ideológico de séculos atrás: o liberalismo de Adam Smith (1776). Apenas recordando: John Nash, Prêmio Nobel de Economia em 1994, demonstrou matematicamente a falácia do postulado que “o máximo nível de bem-estar social ocorreria sempre que cada indivíduo, egoisticamente, perseguisse seu bem-estar pessoal”. E mais, além da Teoria dos Jogos de Nash, Richard Lipsey e Kelvin Lancaster, com seu Teorema do Segundo Melhor, mostravam que o maior ganho se dava em oposição ao postulado dos monetaristas e da midiaticamente elogiada escola de Expectativas Racionais de Robert Lucas. Em resumo: a sociedade humana estava sendo desenhada sobre  pilares falsos e com a compreensão errada a respeito dos objetivos econômicos, consequentemente das ações políticas, que lhe impunham como única e inelutável. A sequência das crises, nas áreas periféricas e até uma delas no centro europeu de poder, fortaleceram o modelo financista mas desvendaram sua estratégia. Ao fim, a última crise, de 2008, com a oportunidade de governos cordatos deu-se nos Estados Unidos da América (EUA), centro do império, repercutindo até hoje pelo mundo.
Acrescentemos a esta farsa do liberalismo – quer neo, como se referem os crentes do fim da história, quer ultra, como no esclarecedor “Uma Estranha Ditadura”, de Viviane Forrester (UNESP, SP, 2001) – a guerra, que é o fim da disputa capitalista.
Tópico número 1. A louvada competitividade só pode terminar na guerra. Se devo “vencer” meus inimigos com tecnologia e preço, chegaremos ao limite que só a destruição física consagrará um vencedor. Se o sangue sempre corre, nas disputas fundiárias brasileiras e nas economias marginais urbanas, apenas como exemplos, o que se dirá dos confrontos geopolíticos, abundantemente plantados em todo mundo contemporâneo. Fiquemos em exemplos onde já se impunha o poder financeiro estadunidense: guerra cambojana-vietinamita  1977-1991; invasão do Panamá 1989-1990; guerra do golfo 1990-1991; guerra civil da Somália 1992-1995; Haiti 1994-1995; Bósnia 1994-1995; Kosovo 1998-1999; Afganistão 2001-2014; Iraque, Paquistão, Iémem, Líbia e Estado Islâmico, ainda em curso.
Tópico número 2. O modelo concentrador por definição, expulsa sistematicamente algum par. Esta eliminação não se resume à apropriação da riqueza mas à destruição de suas bases, ou seja, áreas econômicas, regiões ou locais que lhe serviam de suporte. A História da África, o continente que mais sofreu a agressão capitalista, é uma sucessão de demolições econômicas, sociais, étnicas e políticas. Apenas recordando, o imperialismo britânico deslocou o holandês, o germânico e o otomano, do sul ao norte do Continente. Enquanto houve áreas abertas, como o oeste dos EUA, eram assassinadas etnias, escorraçadas populações e ampliado o espaço para competição capitalista. Mas agora não existe área desocupada. Tem-se que exterminar o concorrente, ou uma crise de ativos não rentáveis ocorrerá. É o que vemos na Ucrânia, na Síria e, em breve, na América do Sul. Quem não quer ver, por contrariar seus interesses, por não suportar a angústia ou por simples e comum desinformação não estará livre das consequências. A guerra é resultante da crise do capitalismo.

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Finalmente o Tópico número 3, que a citação inicial nos remete. Toda construção desta “democracia” contemporânea focava a representação plutocrata. Não começou agora, com o poder financeiro, rentista. Ela sempre dominou a expressão política do judiciário e do legislativo. Apenas o executivo, pela identificação personalizada, podia se afastar dos interesses econômicos majoritários. Na primeira república brasileira não houve este confronto, mas a necessidade industrial das forças armadas, entre outras convergentes razões, promoveu a Revolução de 1930, cujas conquistas até hoje são combatidas e questionadas. O fim dos governos militares marcou a construção da república financeira, neoliberal (sic). Foi assim exacerbado o judiciário, o poder sem voto. E tendo alcançado o executivo, malgrado todo empenho do capital, uma Presidente não hostil, mas não simpática à expansão financista, provocou-se o golpe que ressuscita como um fantasma a combater a Revolução de 1930.
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E com ignorantes e corruptos vassalos, o poder no Brasil se candidata a entrar na guerra da próxima crise do capitalismo, que este articulista prevê para muito breve. Não bastam eleições em 2018, o Estado tem que se aproximar das demandas nacionais e populares. Não pode continuar como resultado da norma, da filosofia do século XVIII. Por um Brasil contemporâneo, livre, justo e soberano.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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