Ollantay Itzamná*, colaborador de Prensa Latina
No caso de Sandra Torres, candidata do partido Unidade Nacional de Esperança (UNE), ela já foi presa por crimes de associação ilícita. No caso de Bernardo Arévalo, resta o benefício da dúvida sobre sua promessa de “lutar contra a corrupção”. Embora em 2015 a Guatemala já tenha eleito um “outsider na luta contra a corrupção”, Jimmy Morales, que acabou sendo pior que seu antecessor preso.
Seja quem for o vencedor, o sistema neoliberal, ligado à indústria do narcotráfico, continuará a desapropriar os territórios com mais violência do que antes. Nenhum dos dois partidos políticos questiona a validade do sistema neoliberal na Guatemala.
Se o sistema neoliberal continuar a prosperar, então o exército de emigrantes guatemaltecos expulsos para os EUA. vai continuar crescendo. Em 2027, não haverá mais seis em cada dez guatemaltecos vivendo na pobreza, mas a pobreza consumirá talvez 65% ou mais da população.
Se Bernardo Arévalo vencer, é provável que, por influência da juventude sensível que o rodeia, tente fazer algumas reformas simbólicas ou cosméticas nas instituições do Estado ou nas políticas públicas. Mas, se possível, essas reformas serão mínimas, já que o Congresso da República e a economia legal e ilegal são controlados pelo chamado “pacto corrupto”.
Neste contexto hipotético, Arévalo não terá escolha senão aproximar-se o mais possível da Embaixada dos Estados Unidos (se não o fizer, poderá ter o mesmo fim que Jacobo Árbenz ou Otto Pérez). Mas, a Embaixada não permitirá que Arévalo se aproxime dos atores sociopolíticos antineoliberais ou antiimperiais que certamente continuarão nas comunidades e nas ruas da Guatemala. O setor popular indígena-camponês financiado pelas migalhas da USAID não poderá defender Arévalo dos ataques da oligarquia.
Caso Sandra Torres vença, ela ainda terá o apoio da Embaixada gringa, além da oligarquia legal e ilegal do país. O aparato estatal continuará seu acelerado processo de entropia (autodestruição) ocupado pelo crime organizado. Mas, as condições de vida das pessoas continuarão a piorar. E a resistência à desapropriação e ao saque neoliberal dos territórios continuará a crescer.
Com o partido Semilla, é provável que o Estado crioulo racista respire ou tente se revitalizar, mas certamente será em benefício do habitual e das cinzas dos povos. Assim como aconteceu nos dois séculos da República. Com o partido da UNE, é provável que o aparente Estado nos territórios desmorone mais rapidamente, dando origem, no mínimo, a processos de auto-organização das comunidades e dos povos para gerir suas vidas. Mas a violência e a insegurança continuarão a aumentar.
Em resumo, a esperança transformadora para as grandes maiorias não reside em nenhuma das duas opções. Em 2027, a guatemalteca continuará buscando a promessa de mudanças estruturais, e esperançosamente com algumas lições aprendidas. Porque não acredito que esses povos tenham nascido condenados ao eterno placebo.