28.5 C
Brasília
sexta-feira, 4 outubro, 2024

Golpistas imprimem um comando na política externa da Bolívia

La Paz, 29 nov (Prensa Latina) O governo da Bolívia acaba de dar um forte golpe nas relações internacionais do país sul-americano, com a criação de novos laços estratégicos para a consolidação e legitimação do golpe de Estado.
A chanceler designada Karen Longaric informou ontem na quinta-feira a decisão da autoproclamada presidenta interina Jeanine Añez de restaurar os laços diplomáticos com Israel, interrompidas em 2009 pela administração do derrubado mandatário Evo Morales em protesto aos ataques sionistas contra a ocupada faixa de Gaza.

Sob o mandato de Morales, em dezembro de 2010 a Bolívia reconheceu o Estado da Palestina e dois anos mais tarde apoiou seu rendimento à Organização das Nações Unidas; em novembro de 2013, os dois países estabeleceram relações diplomáticas.

A postura anunciada pelas autoridades golpistas, com o objetivo declarado de ‘reativar a cooperação que oferecida por Israel a Bolívia em diferentes áreas como a educativa, científica, cultura, agricultura ou turismo, supõe um novo passo de 180 graus de La Paz quanto a sua projeção internacional.

Desde o golpe em Morales em 10 de novembro, após uma onda de violência da oposição, somada ao motim das forças policiais e o pedido do Exército à renúncia do chefe de Estado, em menos de três semanas o regime de fato reestruturou em sua totalidade o mapa de relações exteriores construído durante 14 anos.

Nesse sentido, a administração de Jeanine Añez anunciou a ruptura de vínculos diplomáticos com o governo venezuelano de Nicolás Maduro, e em seguida reconheceu o dirigente opositor Juan Guaidó como presidente encarregado, num gesto complacente com os Estados Unidos e seus aliados.

A mudança forçada do papel da Bolívia no palco internacional trouxe consigo a remoção de seus cargos dos embaixadores designados pelo governo de Evo Morales; ‘todos foram demitidos de suas funções (…) no entendimento de que não eram embaixadores de carreira, senão representantes e gestores políticos’, justificou a chanceler Longaric.

Além disso, a sintonia com as políticas radicais de choque aplicadas no âmbito interno, Añez retirou o país de foros de integração como a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América-Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP) e a União de Nações Sul-americanas (Unasul).

Na terça-feira passada a presidenta de fato designou a Walter Serrate Cuellar como novo embaixador dos Estados Unidos, depois de 11 anos de relações bilaterais no nível de Gerente de Negócios.

Numa decisão de carácter soberano marcado, em 2008 o governo da Bolívia expulsou o então embaixador estadunidense em La Paz, Phillip Goldberg, em face da interferência de Washington nos assuntos internos do país sul-americano.

Da mesma forma, a administração de Evo Morales cessou a presença em território boliviano da Administração para o Controle de Drogas (DEA) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), organismos com amplos expedientes de desestabilização política e social na área.

Em recentes declarações de seu asilo político no México Evo Morales denunciou à embaixada estadunidense em La Paz de conspirar um golpe de Estado que o derrubou e provocou o derramamento de sangue na Bolívia, com resultado mais de 30 mortos como consequência da repressão aos movimentos sociais.

Segundo a entrevista publicada no jornal La Jornada com o título Caí na armadilha; o golpe se firmou na embaixada dos EUA. Evo explicou que tudo começou com as discussões para modificar a constituição para uma nova reeleição com o que ele não estava de acordo.

Começou uma guerra suja com base na mentira, liderada pela embaixada dos Estados Unidos, disse ele; ‘faltando quase dois meses para as eleições, convoquei ao encarregado de Negócios (…) e mostrei-lhe como pessoas com cargos da embaixada iam a algumas regiões a chantagear aos colegas do campo’.

Além disso, um relatório parcial da Organização dos Estados Americanos relatou supostas irregularidades nas eleições do 20 de outubro, nos quais Morales saiu vitorioso no primeiro turno com 47 por cento dos votos e mais de 10 pontos percentuais sobre o opositor Carlos Mesa.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS