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Sputnik – Durante o 11º Congresso da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), realizado para marcar os 45 anos da entidade, Ualid Rabah, presidente da entidade, relembrou a história da federação e voltou a explicar o contexto dramático atual da causa palestina. Líder fez paralelo com 1948, quando palestinos foram forçados a deixar suas casas.
Fundada em 1979, a Fepal surgiu com o propósito de integrar a diáspora palestina à luta nacional do povo. “Ela nasce para defender a comunidade palestina no Brasil, organizar, preservar suas tradições e a língua, e conectar essa diáspora à sua pátria-mãe, a Palestina”, explicou Rabah à Sputnik Brasil.
Rabah ressaltou que o congresso desta sexta-feira (2) ocorre em um momento excepcional: “Estamos diante da primeira limpeza étnica televisionada da história, o que chamamos de ‘Nakba 2’. Este congresso carrega a marca do genocídio palestino em Gaza e da tentativa de extermínio de seu povo”, disse.
O presidente da Fepal traçou um paralelo com a Nakba de 1948, quando milhares de palestinos foram forçados a deixar suas casas. “Hoje, 40% da população palestina é refugiada, a maior população de refugiados de todos os tempos”, afirmou.
Rabah destacou dados alarmantes, tais como 2,5% da população ter sido exterminada, com 52 mil desaparecidos entre os escombros.
“É a maior matança de crianças da história, com 45% das vítimas sendo crianças, um número três vezes maior do que o registrado durante todo o período nazista.”
O líder da Fepal denunciou ainda o que chamou de “solução final” e “um genocídio de um novo tipo”, comentando abortos involuntários e o elevado número de mulheres grávidas entre as vítimas. “Estamos diante de um experimento social genocida que elimina tanto os ventres quanto as crianças que nasceram. É um extermínio programado para colapsar a capacidade reprodutiva da população palestina.”
A refugiada palestina Noura Badem, que não fala português, relatou em árabe que veio no primeiro avião ao Brasil quando a guerra se intensificou, em outubro de 2023. Ela afirmou que “os filhos dela gostam muito do Brasil e não gostariam de voltar a morar na Palestina”.
Badem ainda define a situação como “desesperadora” por ainda possuir oito irmãos em território palestino.
Apoio do Brasil aos refugiados palestinos de Gaza
Rabah reconheceu o apoio do governo brasileiro na recepção de refugiados palestinos. Ele lembrou que o Brasil acolheu refugiados do Iraque em 2007 e da Síria em 2011, e agora resgatou brasileiros e palestinos de Gaza. “O Brasil demonstrou seu compromisso com os direitos humanos ao resgatar os que estavam no campo de extermínio em Gaza”.
Além disso, Rabah destacou a adesão do Brasil à petição da África do Sul para a investigação do genocídio em Gaza, ressaltando que “é necessário parar esse extermínio e investigar esses crimes”.
Segundo ele, a comunidade palestina no Brasil é grata pelo apoio, mas vive com grande angústia: “Estamos testemunhando um extermínio que nenhum povo gostaria de vivenciar, é como se as câmaras de gás dos campos de concentração fossem transmitidas ao vivo. Esse é o nosso campo de extermínio de Gaza sendo televisionado”.
Faiza Daoudi, secretária da Fepal para assuntos de refugiados, explicou que seu trabalho é voltado ao suporte à refugiados de diversas origens e religiões, não apenas palestinos. “Eu apoio os refugiados palestinos que estão aqui no Brasil e fora do Brasil também. Temos um canal para cuidar de todos os tipos de refugiados, independente da raça ou religião”.
Nascida no Brasil, ela é filha de refugiados que deixaram a Palestina em 1948, durante a Nakba, quando centenas de milhares de pessoas foram forçados a deixar suas casas após a criação do Estado de Israel.
“Meus pais saíram da Palestina em 1948, foram primeiro para a Cisjordânia e, depois de algum tempo, seguiram para a Jordânia. Eu vim para o Brasil em 1978, casei com meu marido, que também é refugiado palestino e já estava aqui.”
Ela ressalta que o momento atual é particularmente difícil para os palestinos, em meio ao que também descreve como um genocídio em Gaza. “Estamos atravessando um momento muito difícil, mas é ainda mais importante que a nossa causa seja conhecida e que lutemos juntos.”
Mariana Ramos, estudante de filosofia da Universidade Federal do ABC (UFABC), também participou do evento e defende que as mudanças precisam começar nas estruturas da sociedade. “Hoje o que eu vejo é essa chacina, esse genocídio contra inocentes. A gente já viu isso na história e não quer ver se repetir. Não podemos nos acostumar com a banalidade do mal.”