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quinta-feira, 28 março, 2024

Fora Rede Globo: democratização da comunicação deve passar pelo debate

 Tatiana Félix
Adital

Para transmitir conteúdo televisivo, as empresas privadas concorrem à concessão de um espectro público, que é renovado de tempos em tempos. A Rede Globo, por exemplo, principal emissora do país, utiliza um espaço público para veicular sua programação. Embora tenha a maior audiência, também recebe muitas críticas, sobretudo, em relação ao seu noticiário envolvendo política, no qual demonstra parcialidade e desigualdade nas informações. No atual cenário de crise política, agravada pela cobertura midiática, e aproveitando que a concessão da emissora vence em 2018, movimentos sociais realizam, nesta sexta-feira, 1º de abril, o “Grande ato pela cassação da concessão da Rede Globo”, em todo o país

Para a secretária geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Renata Mielle, em entrevista à Adital, este não é o momento de defender a cassação da emissora, pois acredita que essa não é a melhor bandeira para discutir a democratização da comunicação. Segundo ela, quando se fala em leis para regulamentar e democratizar a comunicação no país, os grandes veículos acusam de que isto promove a censura. “Então, defender a cassação é dar motivo para falarem em censura”, assinala.

correiodobrasilRenata explica que o Fórum defende o Marco Regulatório das Comunicações e que o processo de renovação de concessão e outorga seja “mais transparente, republicano, com audiências públicas e informações claras para a sociedade”. E não garanta a renovação automática, como vem acontecendo. “Não existe uma avaliação do uso que foi feito do espectro público, se houve violação de direitos humanos”, comenta. Para ela, é necessário ter um processo mais democrático de concessão, que permita que outros grupos econômicos também possam concorrer à utilização daquele espaço que é público, “é do povo brasileiro”.

Cobertura midiática e crise política

Renata Mielle diz que é indiscutível, hoje, a parcialidade dos principais grupos de comunicação na cobertura de política e economia. Segundo ela, os últimos meses foram importantes para se “desnudar o caráter político que os meios de comunicação têm”. Já que o discurso adotado é pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores – PT), através da construção de uma narrativa que acusa, julga e condena, e tem como alvo principal a Presidência da República e o PT.

Sobre as manifestações populares que acusam a mídia de ser golpista, devido à parcialidade nas notícias, Renata acredita que elas podem, sim, ter impacto sobre o modo como os veículos retratam cada caso. “Por exemplo, a Rede Globo cobriu ao vivo o discurso da Dilma na ocasião da posse do Lula como ministro, e a Dilma fez uma crítica aos meios de comunicação, e isto gerou pequenas manifestações na hora, do tipo “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Após a transmissão ao vivo, a repórter justificou que entendem a população. Então, no mínimo, agora, eles estão sendo obrigados a se justificarem”, comenta.

Para ela, a Rede Globo entrou numa rota sem volta, pois assumiu, claramente, um lado no cenário político do país e trata, de forma diferenciada, as manifestações, usando palavras “cirurgicamente”. “Eles fazem convocações para as manifestações contra o governo, entram com links ao vivo, elogiam e falam em ‘povo brasileiro’. Quando os atos são do movimento social, contra o impeachment, eles não fazem entradas ao vivo e chamam os manifestantes de militantes, e não mais de povo brasileiro”, compara.

REPRODUÇÃOOutra evidência da manipulação política e midiática é a escolha da data para a votação do processo do impeachment, feita pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – Rio de Janeiro): dia 17 de abril, um domingo. “Porque a pauta do impeachment vai ser votada num domingo? Porque o Eduardo Cunha faz manobra com a Globo, para que a votação seja transmitida ao vivo, exaustivamente, para que as pessoas se manifestem nas ruas e tudo isto seja televisionado. Os meios de comunicação são a inteligência e o motor do golpe. Neste momento, estão apostando todas as fichas para derrubar o governo Dilma”, analisa, sem prever, no entanto, qual será o resultado de tudo isso.

Comunicação: o quarto poder que ameaça a democracia

Para reverter a manipulação dos grandes meios, que são concentrados nas mãos de poucos, Renata Mielle afirma que o caminho não é simples e deve percorrer o campo do debate e da luta por uma mídia mais diversa, plural, com espaço para todos. “O movimento social tem que fortalecer o debate sobre a comunicação e os veículos alternativos. A Internet abre espaço para outras ideias. A sociedade começa a se incomodar com o discurso de ódio, com a seletividade”, observa.

Emnota publicada no último dia 08 de março, o FNDC manifesta sua preocupação diante da forma como os meios privados de comunicação divulgam notícias sobre a Operação Lava Jato e a crise política, e alerta que o monopólio na comunicação ameaça a democracia. Para o Fórum, a falta de isenção dos meios é um “ataque ao direito dos cidadãos à informação plural e diversa”.

reproducao“A cobertura espetacularizada das prisões e ações de busca e apreensão promovidas pela Polícia Federal tem se afastado cada vez mais do Jornalismo, ao fazer vazamentos seletivos de informações, ao dedicar manchetes criminalizando e condenando pessoas e instituições que estão sob investigação, muito antes de haver decisões do Judiciário sobre o real envolvimento e comprovação das denúncias”, expressa o FNDC, criticando a desigualdade na publicação de notícias envolvendo partidos contrários ao governo e a minimização das denúncias contra o deputado Eduardo Cunha, réu no Supremo Tribunal Federal.

Mobilização Popular

Além do “Grande ato pela cassação da concessão da Rede Globo”, que acontecerá nesta sexta-feira, 1º, em frente as sedes da Globo em todo o país, a Frente Povo Sem Medo também realizou, em São Paulo, a “Mobilização em defesa da democracia: a saída é pela esquerda”, no último dia 24 de março. De acordo com Janeslei Albuquerque, secretária nacional de Relação com os Movimentos Sociais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o objetivo do ato foi o de “denunciar o golpismo capitaneado pela Rede Globo” e alertar sobre a tentativa de derrubar o governo da presidenta Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores – PT), “como derrubaram o Jango [presidente João Goulart, 1961 – 1964], como tentaram fazer com Juscelino [presidente Juscelino Kubitschek, 1956 – 1961], como fizeram com Getúlio [presidente Getúlio Vargas, 1930 – 1945 e 1951 – 1954]”.

Tatiana Félix

Jornalista da Adital

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