Mesmo porque o próprio diretor do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Dieter Kosslick, tinha citado o filme Damless, dos irmãos David et Nathan Zellner, como um o filme feminista da competição internacional, porque a personagem Penélope (Mia Wasikowska) sabe reagir diante dos homens. Entretanto seria exagero considerá-lo como uma reação ao movimento #metoo., mesmo porque seu projeto era anterior à eclosão do movimento feminista de denúncia.
O filme em si, no qual uma espécie de cowboy romântico que ir libertar a mulher amada, Penélope à força, para com ela se casar, não se enquadra na denúncia do assédio, mas na decisão feminina de escolher com quem quer viver. O filme mostrando a personalidade forte da mulher cowboy poderia ser considerado uma espécie de paródia feminista, jogando com uma inversão de comportamentos, na qual o homem apaixonado tem fantasias românticas e é fraco, enquanto a mulher sabe bem o que quer e pode mesmo decidir viver sozinha sem o apoio masculino.
Porém, o filme pode ser considerado, e seus próprios realizadores usam essa referência, como um western feminino, no qual é a mulher quem empunha a espingarda, impõe sua vontade e parte com seu cavalo como um cowboy. Em todo caso, ela não aceita um casamento, mesmo no nome do amor como lhe quer impor o ingênuo Samuel (Robert Pattinson), mesmo porque já vivia com outro.
Uma jornalista italiana quis saber com o ator Robert Pattinson se ele mesmo, como homem, acredita no verdadeiro amor como acreditava o apaixonado Samuel. “O amor é alguma bem mais complicada, mas Samuel é alguém um tanto ingênuo com uma visão um tanto poética da vida, sem perceber que o amor e a vida são coisas mais complexas”.
Como surgiu essa ideia de uma mulher tão forte e decidida? “Nós sempre gostamos de western, mas como queríamos fazer um filme, achamos que existem sempre certas linhas padrões, depois de visionarmos um bocado de filmes dos anos 50. Vimos que existem poucas mulheres no papel principal, mas que logo se tornam objeto do desejo ou mulheres objetos que o homem herói acaba conquistando. Esse é o esquema clássico do western, mas queríamos fazer alguma coisa diferente. Pegamos então todas as linhas gerais inerentes a um western, seus conflitos e emoções, e decidimos colocar uma mulher no centro.”
“Cada vez que fazemos um filme, nada é definitivo. Vamos evoluindo com os elemento de dramaturgia que, como na vida, a tragédia e a comédia estão coladas uma na outra. E quisemos que houvesse essa alternância entre a comédia e a tragédia. Gostamos de fazer filmes inéditos e nesse filme o desenvolvimento é bem particular. as histórias se entranham e há espaço para o lado cômico. as diversas peças do puzzle vão se colando.
Mia, você é uma mulher bonita, já lhe aconteceu de ser perseguida por homens, como no filme? “O que é engraçado com Samuel, o personagem do filme, é que ele não tem uma ideia clara sobre Penélope, mas só imaginações sobre essa mulher. Isso pode acontecer de se fazer ideias sobre uma pessoas que, na verdade não conhecemos bem, mo no filme. Quanto à pergunta, sim, sim, aconteceu também comigo”.
Foi facil fazer esse filme? ” Um filme sempre toma muito tempo para ser feito.Nunca escrevemos um argumento para passar imediatamente às filmagens. O texto incial é reescrito diversas vezes. E a filmaagem foi o desafio final.”
O que voces dois pensam do movimento #balancetonporc? pode causar mudanças em Hollywood? “É incrivel, diz Mia (ex-Alice no País das Maravilhas), eu estava a maior parte do tempo na Austrália e acompanhei tudo isso à distância. Foi uma primeira manifestação à qual participei. as pessoas se sentiam ligadas e acho que vai provocar importantes modificações em Hollywood. É a maneira como as mulheres sãoo vitas nos filmes ou como elas são representadas que está em fase de mudar”
“Quanto mais virmos na tela o papel de mulheres fortes e poderosas, que são ouvidas e respeitadas, que sabem quem são e que vão ao encontro do que delas se espera, melhor será”, diz Mia.
“Isso era uma das coisas mais terríveis que poderia acontecer a alguém, foi como uma barragem que arrebentou e tudo sai e é revelado. Isso é formidável”, acrescenta Robert Pattinson.
Resumo oficial da produção – Samuel Alabaster, mais um novato ou principiante que um pioneiro, se lança na vasta extensão da região selvagem americana. Ele está à procura de Penélope, o amor de sua vida e a mulher com quem quer se casar. Tem como acompanhantes sua guitarra, o pequeno ponei Butterscotch, que trouxe como presente de casamento, e Parson Henry, o homem que contratou como mestre de cerimônias, ligado numa bebida. E assim esse grupo heterogéneo parte, mas logo que superam alguns obstáculos iniciais Samuel conta toda a verdade: Penélope deve ser libertada das garras de um seqüestrador – se necessário pela força. Seu raptor aparentemente a mantém presa numa cabana isolada.
Entretanto, parece que seus planos para libertar a futura noiva foram forjados sem o consentimento dela e a fogosa Penélope não está a fim de se tornar a senhora Alabaster. … Assim como o herói e seu pequeno pônei, assim também é ousada a interpretação dessa balada pelo western – através da sátira, da comédia e da paródia. No entanto, uma dimensão séria é assegurada, pelo menos, pela resistente heroína do filme, bastante capaz de impor sua própria vontade com uma espingarda na mão.
Direção e roteiro: Os irmãos David (1974) e Nathan (1975) Zellner, nascidos em Greeley, Colorado, estão escrevendo, dirigindo, produzindo e aparecendo nos filmes há mais de uma década. Entre seus curtas e trabalhos premiados estão Goliath, que foi exibido no Festival de Cinema de Sundance de 2008, e Kid-Thing, que teve sua estréia internacional no Fórum de 2012 na Berlinale. Seu filme de 2014, Kumiko, o Caçador de tesouros, protagonizado por Rinko Kikuchi, também foi exibido no Fórum e foi indicado para dois prêmios. Damsel é o primeiro western deles. Filmes – 2001 Frontier 2008 Goliath 2011 Kid-Thing 2014 Kumiko, the Treasure Hunter 2017Damsel
Elenco:Robert Pattinson (Samuel)
Mia Wasikowska (Penelope)
David Zellner (Parson Henry)
Nathan Zellner (Rufus)
Robert Forster (Old Preacher)
Joe Billingiere (Zachariah)
*Rui Martins está em Berlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.