César Fonseca
O velho neoliberal Estadão anglo-saxão ocidental, de pretensa roupa nova, está encantando os desavisados, com uma cruzada contra os antidemocratas.
Com dois editoriais brilhantes, “Coisa de mafiosos” e “Aprendizes de Bolsonaro”, arrasa com o ultradireitista Donald Trump e seus discípulos na periferia capitalista tupiniquim, Bolsonaro, Caiado, Zema e Tarcísio, representantes máximos da direita e ultradireita, que se juntaram em 2018 para colocar o fascismo no poder.
Tenta passar um verniz na direita separando-a da ultra direita, mas as marcas do crime contra democracia estão gravadas.
Contraditoriamente, o Estadão estava contra Lula, dizendo que era difícil escolher entre a esquerda e a alternativa Bolsonaro, com sua economia neoliberal fascista, violadora dos direitos constitucionais dos trabalhadores.
Na prática, o Estadão confundiu Bolsonaro com democracia e tapou os olhos para a sua gestão fascista: Congresso comprado com emendas secretas e rendição ao mercado com Banco Central Independente.
A teoria na prática é outra.
O Estadão é uma falsidade contraditória.
Agora chora a democracia destruída por Trump.
O que a cria dos Mesquitas deseja é uma direita honesta, reta, guardiã dos valores democráticos ocidentais etc, não essa que Trump está comandando e exportando para a América do Sul, com Milei, na Argentina, e Bolsonaro, no Brasil etc, fascista.
Uma ingenuidade; Trump acaba de abraçar a antidemocrática economia de guerra que o Estadão apoiou quando praticada por Biden, Democrata.
A ditadura neoliberal se aliou à ditadura fascista, com a armação do golpe em 2022 e 2023.
Em toda essa trajetória, o Estadão se manteve calado, por concordar inteiramente com a política econômica da direita, que se aliou à ultradireita em nome do neoliberalismo essencialmente antidemocrático, golpista.
SEMIPRESIDENCIALISMO, DITADURA PARLAMENTAR
A farsa antidemocrática do semipresidencialismo foi aceita pelo Estadão, representante das classes conservadoras, com total ausência de crítica, enquanto golpe político claro na democracia defendida pelo jornal.
Tal modelo de ditadura parlamentar inconstitucional fascista, chamado semipresidencialismo, é ideologicamente amparado pela direita que Estadão, Globo e Folha representam.
São os representantes dos interesses de classe que se impõem pelo domínio do Banco Central Independente, para ditar a taxa de juro e o nível da expansão da sobreacumulação de capital e a superexploração do trabalho, de modo a evitar queda da taxa de lucro.
Nenhum compromisso com a democracia.
Sob silêncio do poder midiático, Bolsonaro criou a ditadura parlamentar ao transferir ao Congresso atribuição para executar o orçamento secreto, enquanto cuidava do que lhe era essencial: dar o golpe em Lula.
O IMPÉRIO NEGA A DEMOCRACIA
A previsível (pode dar zebra?) prisão de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal será uma inversão relativamente ao que acontece com aliados de Trump, como na Argentina, de Javier Milei, onde a justiça portenha passa pano para crimes financeiros do presidente como os que estão sendo investigados/engavetados.
Trump tolera tranquilamente a quadrilha financeira que governa a Argentina, mas não a opção política soberana lulista de rechaçar as imposições do império, agora, redobradas, como castigo tarifário para os que participam do BRICS.
Bolsonaro é o preferido porque com ele no poder, estaria ocorrendo o mesmo que na Argentina.
Para agradar Washington, o Estadão enfia a cabeça na areia, como avestruz, silenciado acriticamente ao BRICS.
Milei descolou do BRICS – comportamento oposto ao de Lula, que irrita Trump: defesa total dos BRICS como instrumento da desdolarização.
Estadão nada fala da desdolarização que Trump considera negação dos Estados Unidos, da democracia americana, que ele antecipadamente está destruindo.
Dessa forma, o posicionamento ideológico do Estadão em defesa da velha democracia sem eficácia alguma na Era Trump, é louvável, mas não se pode deixar de ressaltar que ele apoia integralmente o neoliberalismo econômico, razão direta do avanço da destruição da democracia, defendida pelo vetusto midiático paulista ultra-conservador.
Ambiguidade midiática total.
CONFLITO FREUDIANO
Sem dúvida, o Estadão está em conflito consigo mesmo: a velha democracia ocidental, com forte viés francês, legalité, liberté e fraternité, que sempre abraçou, sobrevive como mera aparência.
Uma dor no coração dos Mesquitas, agora, dominados pelo mercado financeiro especulativo, pró-destruição da democracia trumpista; afinal, o sistema, tal como metamorfose ambulante, vai se flexibilizando, para se adaptar à nova ordem imperialista, sempre mais à direita.
O Estadão se rende a esse capitalismo com infraestrutura econômica e superestrutura jurídica em colapso, que não mais sustenta sobreacumulação de capital, diante da queda da taxa de lucro, especialmente, frente à concorrência chinesa.
O Estadão está entre a China e os Estados Unidos e busca uma nova utilidade.
Por isso, os investidores miram a China; lá enxergam a eficiência marginal do capital(o lucro)
Os Estados Unidos viraram o oposto: a miragem da falência.
São Paulo, por exemplo, está diante da expectativa de empobrecimento relativo diante do golpe tarifário: as empresas perderão valor na bolsa e as expectativas de lucro financeiro, na compra de papéis do Tesouro, para se protegerem, exigirão subsídios estatais para salvar a economia paulista.
O Estadão, como direita, antevê o seu fim diante do possível triunfo de Trump, de derrubar Lula e colocar no seu lugar um novo Hitler tupiniquim.
Mas, com o modelo econômico concentrador de renda e promotor de exclusão social, que o Estadão apoia, estarão se fortalecendo as bases fascistas do novo regime que Trump quer implantar no Brasil.
PERIGO FASCISTA
O fascismo se ergue quando a conjugação equilibrista neoliberal marginalista de infraestrutura econômica e superestrutura jurídica deixa de funcionar.
A direita e a ultradireita estão divididas, sem rumo, especialmente, depois do golpe tarifário trumpista.
O neoliberalismo, como diz o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, está falido; insistir nele é entregar o ouro aos bandidos.
As saídas neoclássicas (liberais e neoliberais), vigentes no século 19, e keynesianas(concessão do Estado dominado pelas elites para complementar taxa de lucro cadente do capitalismo neoliberal), no século 20, deixaram de cumprir a lei máxima do sistema capitalista: o utilitarismo.
A ideologia utilitarista, suprassumo ideológico do capitalismo pragmático, entra em crise total.
Nega a máxima de que “tudo que é útil é verdadeiro, se deixa de ser útil, deixa de ser verdade” (Keynes).
Keynes, maior economista do século 20, abandonou o marginalismo e seus mestres, como Alfred Marshall, porque deixou de acreditar nos seus pressupostos básicos de laissez faire; partiu para o Estado intervencionista, como arma para continuar a superexploração do trabalho como principal fator de sobreacumulação de capital.
O Estadão se acomodou à nova ordem, sempre.
O marginalismo, que considera o salário como produto marginal do trabalho, mero custo de produção, excluída toda política de valorização do salário, como a que Lula concedeu nos seus dois primeiros mandatos, é a lei do valor do capital que o Estadão apoia, que leva ao fascismo.
Enfim, o Estadão vê-se mergulhado até o pescoço em suas contradições de classe.