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quarta-feira, 19 março, 2025

Equador: Segundo turno presidencial em um país em crise

HispanTV – Os dois candidatos que disputarão o segundo turno, já que nenhum dos concorrentes obteve maioria, são o atual presidente, o direitista Daniel Noboa Azin, do Movimento de Ação Democrática Nacional (ADN), que obteve 44,17% dos votos, e a candidata da Revolução Cidadã, Luisa González Alcívar, da aliança Revolução Cidadã – Movimento de Renovação Total (RC-RETO), com 44%.

Uma diferença mínima torna ainda mais difícil prever qual candidato vencerá no dia 13 de abril, data definida pelo Conselho Nacional Eleitoral para esta eleição, após a expedição final das certificações, lembrando que não há recursos pendentes do primeiro turno da eleição.

Direita versus Progressismo

A disputa será decidida entre duas facções políticas cujas diferenças se expressam não apenas em sua base de apoio, mas também em sua visão de política externa. É assim que Noboa representa os setores empresariais e grupos econômicos dominantes, em aspectos que incluem também a propriedade da mídia no país sul-americano, intimamente ligada à direita política.

No caso de González, o apoio dos eleitores é definido a partir de perspectivas mundiais que costumam designar como progressistas os partidos e movimentos de esquerda, assim como aqueles grupos indígenas que já sustentaram que darão seu voto a González, apesar de designá-la como social-democrata – “Nem um só voto para a direita” foi a decisão tomada pela chamada “unidade da esquerda”. Isto, em uma assembleia plurinacional convocada por Leonidas Iza, líder indígena, junto com outras 75 organizações. Lembremos que Iza foi candidato presidencial e obteve meio milhão de votos, colocando-o em terceiro lugar nas cifras finais (1) .

Apoio, obviamente, com o ponto fundamental de que “não é um cheque em branco” e exijo um compromisso expresso do candidato González. Entre os pontos exigidos estão: não dar passagem a uma assembleia constituinte. Defesa da Previdência Social e dos direitos trabalhistas, da saúde pública e das empresas estatais. Além disso, trabalhar na questão das consultas populares em Yasuní (área do Equador rica em recursos petrolíferos e com grande número de indígenas). Soma-se a isso a recusa em continuar a causar danos ambientais ao território por meio da assinatura de contratos com empresas, principalmente europeias e americanas, ligadas à extração de recursos naturais, minerais e energia, especialmente na Amazônia equatoriana.

Da mesma forma, linhas econômicas relacionadas ao alívio financeiro e ao perdão de dívidas não apenas para os povos indígenas, mas também para os mais desfavorecidos em geral. Reduzir o imposto sobre valor agregado. Anistia para ativistas sociais vinculados à defesa dos direitos ambientais e indígenas, e reparação integral às vítimas, entre outras demandas, destacando claramente a importância vital de abordar o problema dos serviços básicos para a sociedade equatoriana. O apoio desses grupos, principalmente dentro da CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador), foi reconhecido por Luisa González, que expressou sua disposição de trabalhar em cada um dos pontos levantados.

Poderia ser uma imagem de 3 pessoas e um texto que diz "Como mulher e como Montuvia, aprecio profundamente o apoio expresso pela CONAIE. Assumo com plena responsabilidade a solicitação da construção de uma agenda programática que promova dias melhores para o Equador" LUISA GONZÁLEZ Candidata presidencial pela RC 03-13-2025 s OU !!!1º Mais um dia"

A incompetência do atual governo ficou mais do que evidente e é motivo para a necessidade de uma mudança que favoreça Luisa González. Um regime como o de Noboa é incapaz de atender às necessidades de uma população que hoje ultrapassa 18 milhões, especialmente em questões econômicas: salários, crescimento econômico, indicadores de desenvolvimento que incentivem o investimento estrangeiro direto, entre outros. Somado ao racionamento do consumo de energia elétrica em todo o espectro social, incluindo residências, empresas e serviços públicos básicos, essa situação traz consigo todos os problemas que acompanham a falta de energia de até 14 horas por dia: suspensão de aulas, redução de jornada de trabalho e empresas tendo que suspender suas operações em determinados horários.

Diversificar as fontes de energia, aumentar o investimento em infraestrutura e alavancar outras fontes de geração de energia estão entre os principais desafios enfrentados pela nova administração governamental que surgirá após as eleições de 13 de abril e que resolverá uma crise de gestão que se arrasta há mais anos do que uma nação pode suportar. Uma realidade escandalosa, fruto de uma crise de gestão que o Equador vem arrastando há décadas e que recentemente levou à deterioração de pelo menos três usinas hidrelétricas, que geram 50% de toda a eletricidade usada no Equador.

A todas essas dificuldades, soma-se uma que é frequentemente crônica em um país produtor de petróleo como o Equador: vazamentos de petróleo bruto no meio ambiente, em terras agrícolas, em aquíferos e na realocação de comunidades. Elemento que estava no centro das preocupações da CONAIE. Nesta ocasião, uma catástrofe ambiental na província de Esmeralda obrigou à declaração de emergência ambiental, com todas as dificuldades de combater esse tipo de desastre quando o Estado perdeu vigor e capacidades em múltiplas áreas, incluindo a falta de órgãos especializados para atender essas emergências.

O prefeito do município de Esmeralda, Vilko Villacís, disse que este “desastre ambiental está causando danos ecológicos sem precedentes após a ruptura do oleoduto do Sistema de Oleoduto Transequatoriano (SOTE), que teria sido causado por um deslizamento de terra. Um vazamento que já atingiu o Rio Esmeraldas e está causando danos sem precedentes. Precisamos de respostas do Governo Nacional”, disse Villacís (2). No momento em que este artigo foi escrito, esta assistência ainda não havia chegado.

Influência dos Estados Unidos e do Sionismo

A candidatura de Noboa — cujo mandato atual tem sido desastroso — representa os setores oligárquicos do Equador com apoio político, diplomático e midiático de potências europeias e, principalmente, do governo Donald Trump. Vale lembrar que Noboa foi um dos poucos convidados para a posse do bilionário americano loiro em Washington. Essa lealdade ao Norte leva, de acordo com os críticos do atual presidente, a uma clara perda de soberania e a uma dependência cada vez mais evidente dos interesses políticos, econômicos, comerciais e até militares de Washington.

A perda de soberania ficou evidente em relação à presença militar dos Estados Unidos em solo equatoriano (que havia terminado no governo do ex-presidente Rafael Correa, que fechou a base militar de Manta e declarou constitucionalmente a impossibilidade de criação de novas bases estrangeiras). Uma presença que se torna realidade com Noboa, com a ideia de apoiar o controle interno de potenciais levantes sociais, além de servir como ponto de vigilância para aquela área do Oceano Pacífico, levando em consideração a localização geográfica estratégica do Equador e a decisão de estabelecer esta base militar no arquipélago de Galápagos.

Lembre-se que em fevereiro de 2024, o governo Noboa assinou um Tratado de Cooperação Militar com os Estados Unidos. Um acordo que, a partir de dezembro de 2024, implementado por decisão do Conselho de Governo da Província de Galápagos, incluiu o “projeto integral de segurança na região insular” e as chamadas “instruções para a implementação dos acordos de cooperação entre o Equador e os Estados Unidos”. Desta forma, estudos sobre este tratado indicam que “navios, pessoal militar, armas, equipamentos e submarinos poderão ser instalados neste arquipélago declarado Património Natural pela UNESCO em 1978” (3).

Um acordo político-militar que mina a soberania equatoriana sobre as Ilhas Galápagos, um território a 965 quilômetros do continente equatoriano, com o objetivo declarado de “operacionalizar o projeto para enfrentar desafios de segurança compartilhados”. Um eufemismo clássico para a doutrina militar estrangeira dos EUA em relação ao controle de importantes zonas marítimas, neste caso o Oceano Pacífico, dada a atual disputa de Washington com a China, que agora se tornou um dos principais parceiros dos países sul-americanos que fazem fronteira com o Pacífico. 

No contexto das eleições presidenciais no Equador, durante o primeiro turno, o analista equatoriano Dax Toscano destacou a este colunista a necessidade de estar atento a duas influências externas no processo político de seu país, que implicaram, e também se confirmam hoje, um processo de desigualdade na luta pela presidência: Ele se refere ao papel desempenhado pelos Estados Unidos e pelo sionismo, em termos de apoio à candidatura de Daniel Noboa, o que acaba sendo um instrumento útil para seus interesses.

Estados Unidos que desempenharam um papel desestabilizador, especialmente durante os últimos três governos de direita: Lenin Moreno, Guillermo Lasso e o atual governo de Daniel Noboa. Tal tem sido a interferência de figuras como a chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, General Laura Richardson, que esteve no Equador em diversas ocasiões determinando a direção da política externa que o Equador deveria tomar, na área de aliados militares e econômicos, tudo isso, é claro, respondendo aos interesses, não do povo equatoriano, mas de Washington, que sustenta que esse apoio ao Equador, com Noboa hoje, “busca aprofundar a cooperação bilateral, inclusive em questões de segurança, cooperação antidrogas, migração e desenvolvimento econômico”.

Nesse contexto, não há dúvidas de que o melhor candidato para Washington é o empresário Daniel Noboa, que conta, inclusive, com o total apoio do aparato estatal, já que participa da disputa sem ter renunciado ao cargo de presidente, em detrimento de sua oponente Luisa González, que, além de não contar com essas vantagens de recursos estatais, sofre assédio midiático e uma política de lawfare contra seu entorno, assim como sofreu em sua época o ex-presidente Rafael Correa.

Durante o mandato de Noboa, ficou claro que, apesar do apoio irrestrito que os Estados Unidos deram ao seu governo, bem como de suas promessas, problemas nas áreas de economia, direitos humanos e seguridade social continuam sem solução. Para os críticos do governo Noboa e seu programa, um novo mandato deste empresário só piorará os problemas, e os níveis extremamente altos de corrupção que assolam o país dispararão, assim como o aumento do tráfico de drogas, o que poderia facilmente transformar o Equador em um narcoestado, mesmo com as Forças Armadas envolvidas.

Forças armadas e policiais são frequentemente visitadas por instrutores e palestrantes sionistas, como foi o caso do agente do Mossad Gabriel Ben Tasgal, que viaja por países latino-americanos com fundos do governo sionista israelense. Incluindo o Equador, com o aval e organização das reuniões pela embaixada israelense naquele país e até com a assistência de donos de veículos de comunicação, jornalistas e empresários alinhados à ideologia sionista. Tudo isto sob o disfarce de uma organização nacional sionista chamada Hatzad Hasheni, destinada, acima de tudo, a limpar a imagem criminosa do regime israelita e a lançar as bases da influência sionista na América Latina (4).

Para o analista equatoriano Santiago Basabe, acadêmico da Universidade de São Francisco em Quito, “embora seja verdade que Revolución Ciudadana, com Luisa González, não venceu no primeiro turno — por meros 0,17% — embora esta seja a primeira vez que eles perdem o primeiro lugar, é na verdade o mais perto que chegaram de vencer o segundo turno. Não é motivo para encher seus egos ou supor que sua base eleitoral aumentou. O que parece ter simplesmente acontecido é que seu voto cativo habitual foi acompanhado por aqueles que rejeitam firmemente Noboa.”

Basabe afirma que “Tal é o grupo dos desencantados com o presidente que, embora abertamente contrários a Correa, sentem que Noboa lhes causa mais repulsa. Tanto os cidadãos revolucionários convictos como os “anti” Noboa dificilmente mudarão de posição diante do segundo turno. Não há razão para isso. Assim, e diferentemente do candidato presidencial, González agora só tem que somar apoio” (5) Daí a importância do apoio de Leonardo Iza da CONAIE.

Treze milhões de equatorianos serão chamados às urnas em 13 de abril de 2025 para eleger, em segundo turno, o presidente do Equador para o período de 2025-2029. Antes do primeiro turno, realizado em 9 de fevereiro, afirmei que “Há uma percepção majoritária que expressa o esgotamento cidadão com os partidos políticos, incapazes de projetar soluções confiáveis ​​para o país, alimentada por elementos subjetivos, mas fundamentais, como a desesperança, onde a corrupção se enraizou profundamente, onde as presidências de Lenín Moreno, Guillermo Lasso e do atual presidente Daniel Noboa aumentaram esse flagelo” (6).

Este julgamento não mudou nada e, diante disso, a esperança de que a vitória de Luisa Gonzalez mude fundamentalmente essa desesperança aprendida será um fardo pesado, mas necessário, de suportar e superar. Somente dessa forma o Equador poderá esperar sair do buraco profundo em que se afundou durante os últimos três governos de direita.

A esperança de vitória do candidato González depende do fortalecimento do setor público e do papel central do Estado, que foi destruído por governos anteriores. E, fundamentalmente, a recuperação institucional destruída pelo convertido e ex-presidente Lenin Moreno, que entregou o Estado aos setores mais vorazes da direita equatoriana. Isso, sim ou sim, deve mudar.

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