Menino, nem te conto! Não vou mentir. Nunca te vi mais gordo, mas já simpatizo contigo. Te conheci há duas semanas, quando li a dissertação de mestrado do Joaquim da Silva Lopes sobre ninhos de aves da Amazônia defendida no Programa de Pós-Graduação em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Lá me deslumbrei com a foto do teu ninho, uma obra prima digna de figurar na Bienal de Veneza. Foi amor e leitura à primeira vista, o que me fez entrevistar o novo mestre sobre as aves e seus ninhos.
As penas do Japu
Como é que ele fez seu trabalho de campo? O pesquisador acadêmico Joaquim da Silva Lopes vestiu-se com a pintura corporal do Baniwa Malimaaka, acostumado desde sua infância a observar o voo do Japu no entorno de sua aldeia. Ele já conhecia sua plumagem linda e chamativa, seus cantos maviosos e seus ninhos pendulares. Mas em junho de 2024, acompanhado de seu pai, foi até o igarapé Miriti e lá os dois encontraram 19 ninhos caídos nas folhas de uma bacabeira de sete metros, ao lado de um ninho de vespas.
No trabalho de campo, seu Antônio, o pai de Joaquim Malimaaka, foi semeando pelo caminho narrativas, que caíram em terreno fértil e foram registradas no 1º capítulo da dissertação. Na cosmologia e na história oral do povo Baniwa, ele destacou a importância simbólica e espiritual do Japu, cuja origem está ligada às narrativas de transformação e à relação entre humanos, espíritos e natureza.
Com essa pesquisa, Joaquim Malimaaka obteve o diploma de mestre. Mas todo mundo ganhou com esse momento histórico, no qual “indígenas se tornam agentes sociais que refletem, questionam e produzem conhecimentos”, como sinaliza Ana Carla Bruno, antropóloga do INPA, instituição cujo diretor, o ecólogo Henrique Pereira, reconhece “a importância da aproximação da academia ocidental com as ciências indígenas amazônicas e a relevância da política de inclusão e de diversidade social”.