Pedro Augusto Pinho*
A Petrobrás que Luiz Inácio Lula da Silva recebeu de Fernando Henrique Cardoso, em 1º de janeiro de 2003, era muito menor do que aquele então ex-presidente recebera do antecessor, Itamar Franco. Ela, a Petróleo Brasileiro S.A., já perdera o monopólio da execução das atividades de propriedade da União, o imenso patrimônio do povo brasileiro, constituído das reservas de petróleo no Brasil e todas as operações necessárias ao abastecimento nacional, exceto a venda a varejo dos derivados, mas que incluíam as operações de refino, transporte por dutos, operação de terminais, distribuição em regime de concorrência de produtos obtidos do petróleo, e sua pesquisa e lavra.
O ex-professor Cardoso, hoje grande fazendeiro e proprietário de valiosos imóveis em São Paulo, Paris e Nova Iorque, obtivera do Congresso Nacional a lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, que abria a soberania brasileira, no importantíssimo campo da energia fóssil, à especulação internacional.
Presidete Lula não buscou retomar para o povo brasileiro esta riqueza, nem mesmo quando a Petrobrás, dando mostra de sua elevadíssima capacitação técnica, descobriu uma “Arábia Saudita” nas águas oceânicas brasileiras, o pré-sal.
Perdida esta oportunidade, as “aves de rapina”, como o estadista Getúlio Vargas denominava os capitais estrangeiros que só vêm ao Brasil para se apropriar de nossas riquezas, nada nos deixando senão a poluição e a miséria, corromperam todos os estamentos nacionais para se locupletarem com o pré-sal, além das riquezas que sempre aqui amealharam.
E desta ânsia, desejo irrefreável e ilimitado, surge o golpe de 2016 e o esquartejamento da Petrobrás – a maior empresa brasileira, a quem devemos, nós brasileiros, parcela importante da nossa industrialização, o estabelecimento das indústrias petroquímicas, de fertilizantes, de energia da biomassa, de mineração e a projeção internacional do Brasil como detentor de tecnologia em diversas áreas da engenharia.
Tudo está sendo entregue como em fim de feira, valor de xepa, à ganância dos capitais apátridas, sem que nada fique no Brasil, nem mesmo os valores da corrupção que estão em paraísos fiscais, como já confessaram ministros e outros altos dirigentes no Estado brasileiro.
Os presidentes que se sucedem na Petrobrás, deste a designação de Michel Temer, o golpista, nada mais fizeram do que esquartejar este patrimônio brasileiro, aplicar a modalidade única no mundo para prejudicar os consumidores de derivados de petróleo, a que deram o nome de Preço de Paridade de Importação, PPI, ou seja, os preços cobrados no Brasil não são de um país autossuficiente em petróleo, com refinarias capazes de abastecer o país, malhas de dutos e bases de distribuição que alcançam os mais longínquos rincões de nossa Pátria. Não, somos luxemburgueses, país sem petróleo nem refinarias, que dependem das importações e das flutuações das moedas, consequentemente. Nossos preços, para produtos brasileiros, são cobrados em dólares estadunidenses. Mas os salários, não; não são pagos assim.
Agora, com os campos terrestres vendidos, com o pré-sal entregue, com os campos marítimos indo aceleradamente para mãos estrangeiras, refinarias em fila para venda, o xisto, todas subsidiárias fora dos balanços patrimoniais, o que resta da Petrobrás entregue por Itamar Franco a Fernando Henrique Cardoso? Os imóveis, em valiosos pontos do Rio de Janeiro, de Salvador, de São Paulo e outras capitais e grandes cidades brasileiras.
Então Jair Bolsonaro indica para presidente da Petrobrás um corretor de imóveis, como se lê no currículo que Caio Mário Paes de Andrada fez divulgar pela imprensa.
E o Comitê de Elegibilidade da Petrobrás, composto de Francisco Petros e Marcelo Mesquita, representando os acionistas minoritários, Luiz Henrique Caroli, designado por Bolsonaro ou Paulo Guedes, e, por ação divina (?), pois não está clara a origem das escolhas, Ana Silva Matte e Tales Bronzato, resolvem dispensar as exigências da Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016, promulgada por Michel Temer, Alexandre de Moraes, Henrique Meirelles e Dyogo Henrique de Oliveira, que exige tempo de experiência e formação compatível com o cargo, e declaram, na sexta-feira, 24 de junho de 2022, que Caio Mário “está elegível”.
Óbvio, só restando imóveis para vender, o corretor de imóveis, com alguma experiência em aplicações financeiras, é a pessoa mais indicada para acabar com aquela que já foi um orgulho da capacidade e dedicação do povo brasileiro.
Curioso que neste comitê, com todo respeito que sempre nos merecem as pessoas, quaisquer que sejam, tenha Matte e Petros. Poderia ser alguma premonição para os aposentados da Petrobrás e subsidiárias?
*Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado, com 25 anos de trabalho na Petrobrás. Um cidadão nacionalista e patriota, diplomado e ex-professor na Escola Superior de Guerra. Todas informações utilizadas estão nas mídias ou no Diário Oficial.