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sexta-feira, 26 julho, 2024

Energia – Brasil na contramão do mundo

Pedro Augusto  Pinho*

Na biografia de Leonel Brizola, José Augusto Ribeiro escreve, advertindo que jamais se soube ao certo o autor da reflexão que segue:

“o projeto da Eletrobrás foi encaminhado pelo presidente Getúlio Vargas, que se suicidou. Foi sancionado, depois de sua aprovação pelo Congresso, pelo presidente Jânio Quadros, que renunciou. E a Eletrobrás foi instalada pelo presidente João Goulart, derrubado em 1964. Nenhum dos presidentes que tiveram alguma coisa a ver com a criação da Eletrobrás chegou ao fim de seu mandato” (José Augusto Ribeiro, “O Brizola Desconhecido”, Centro de Memória Trabalhista, Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, Brasília, 2022).

Poderia acrescentar que o presidente Ernesto Geisel que não só ampliou a atuação da Eletrobrás, como levou a Petrobrás para o mar e criou a Nuclebrás, sofreu o golpe na sucessão, sendo obrigado a colocar na presidência quem abriria as portas do poder nacional para seu maior inimigo, as finanças internacionais.

Quais as mais recentes notícias envolvendo a energia? As monarquias do golfo pérsico, depois de décadas de conflito, parecem se encaminhar para o redesenho do mapa desta reunião onde estão, somadas, as maiores reservas de petróleo do mundo atual: Arábia Saudita, República Árabe do Egito, Reino Hachemita da Jordânia, República do Iraque, Estado do Kuwait, Reino de Bahrain, Estado do Catar, Emirados Árabes Unidos, além da Líbia, Síria, Iêmen e Irã, com suas diferenças religiosas, até então, se sobrepondo ao interesse anticolonial comum (Dinâmica Global, 12/07/2022).

A França reestatiza sua energia. Na última quarta-feira (06/07/2022), a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, afirmou que vai nacionalizar completamente a empresa EDF – Électricité de France. “Posso confirmar hoje que o Estado pretende controlar 100% do capital da EDF”, afirmou Borne (conforme AEPET – BA).

A Alemanha dá marcha-ré e resolve colocar, por seu lado, o gasoduto ligando-a com a Rússia em funcionamento. “O vice-chanceler e ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, fez um apelo público ao Canadá para liberar a turbina do gasoduto Nord Stream que está presa no país americano devido às sanções impostas à Rússia. O equipamento é fundamental para os fluxos de gás para a Europa, informa o site de notícias russo RT” (publica o Monitor Mercantil).

Os Estados Unidos da América (EUA) operam suas refinarias em níveis máximos, utilizando 95% da capacidade, com maior demanda de petróleo bruto que, com a proximidade do outono-inverno, devem ter aumento de preço (AEPET, com notícia da oilprice).

Poderia mostrar outros eventos recentes onde os Estados Nacionais assumem suas responsabilidades com as populações e o controle da energia, que a ideologia neoliberal impunha ser do “mercado”.

Hoje há a certeza da explosão de crise financeira muito maior do que a de 2008-2010, devida a imensa quantidade de papéis sem lastro dando suporte aos fundos de investimentos negociados por todo mundo. O bem informado leitor perguntará: e a República Popular da China (RPC) não será engolida neste tsunami? Muito pouco. A RPC tem empréstimos, em seus próprios documentos de dívida, para cerca de 50 países, representando em média cerca de 15% de seus produtos internos brutos (PIBs). Nada alarmante. Por outro lado, a RPC tem grande parte da dívida estadunidense sob seu controle que derrubaria ainda mais o dólar estadunidense, beneficiando sobretudo o rublo e o próprio renmimbi, hoje valendo perto de R$ 0,80. Não se deve esquecer que a Nova Rota da Seda é principalmente um investimento comercial, de grande interesse para a produção industrial e a prestação de serviços chineses.

Neste cenário o Brasil de Bolsonaro faz o papel de idiota, alienando, como o fez nesta segunda-feira (11/-7/2022) o que havia de Estado Nacional na Gaspetro (Petrobrás Gás S.A), holding de distribuição de gás com volume diário de quase 30 milhões de m³ (Monitor Mercantil).

A British Petroleum – BP PLC (BP) é empresa britânica integrada de petróleo e gás com operações em mais de 70 países. Suas operações de upstream foram responsáveis pela produção de 2,4 milhões de barris de óleo equivalentes (BOEs) por dia, em 2020. Em termos de receita, é a quarta maior empresa de petróleo do mundo desde 2020, após as chinesas PetroChina e Sinopec e a estatal Saudi Aramco. Há 71 anos edita a BP Statistical Review of World Energy, fonte de referência para trabalhos na área da energia.

Até onde vai a memória deste modesto escriba, em 2022, pela primeira vez, não coloca a tabelas das Reservas Mundiais de Petróleo.

De acordo com a Investopedia (25/10/2021): “em 30 de junho de 2021, a BP tinha 283.569.587 ações totais em circulação”. E apresenta os cinco principais acionistas institucionais da empresa: State Street, BlackRock, Dimensional Fund Advisors, Fisher Investments, e Menora Mivtachim que representavam 27,43% do capital da BP.

A State Street Corporation é empresa financeira, com sede em Boston, Massachusetts, e a maior acionista institucional da BP. A State Street Corporation possuía cerca de 26,8 milhões de ações da BP, em 30 de junho de 2021, o que representava 9,5% da empresa.

A BlackRock é a maior empresa de gestão de ativos do mundo com US$ 9,5 trilhões sob gestão, em 30 de junho de 2021. A BlackRock possuía, aproximadamente, 16,3 milhões de ações da BP (30/06/2021), o que representava 5,7% da empresa.

A Dimensional Fund Advisors, Inc. é outra gestora de ativos estadunidense com clientes na América do Norte, Europa e Ásia. A Dimensional Fund Advisors, Inc. possuía 14,1 milhões de ações da BP, em 30 de junho de 2021, o equivalente a aproximadamente 5% das ações em circulação.

A Fisher Investments, sediada em Camas, Washington, é também gestora de investimentos, que administra mais de US$ 188 bilhões em ativos em todo o mundo. A empresa oferece diversos serviços financeiros a instituições e clientes particulares. Em 30 de junho de 2021, a Fisher Investments possuía aproximadamente 12 milhões de ações da BP, totalizando 4,2% da empresa.

A Menora Mivtachim Holdings Ltd. é empresa israelense do setor de seguros, negociada na Bolsa de Valores de Tel Aviv. A empresa e suas subsidiárias oferecem todos os tipos de seguros, e, também, fundos mútuos, hipotecas, gerenciamento de portfólio e serviços de subscrição por meio de suas subsidiárias. Em 30 de junho de 2021, Menora Mivtachim possuía 8,6 milhões de ações da BP, o que representava 3% do total de ações em circulação.

A crise econômica mundial não é apenas financeira. É a crise decorrente da filosofia neoliberal na qual trabalho e produção não têm importância; tudo se resume no maior e mais rápido enriquecimento e na concentração de bens e rendas. Ora, o trabalho e a energia, no Sistema Internacional de Unidades (SI) são dados em joule, mostrando a íntima correlação entre eles. A mais importante informação para avaliar a energia fóssil está nas reservas; além de sabermos o tempo que poderemos contar com elas, nos mostra o resultado dos investimentos em pesquisa exploratória e desenvolvimento tecnológico.

Por que a estatística de empresa que tem as gestoras de ativos como grandes acionistas oculta esta informação? Porque mostrará a falácia da energia renovável, a estupidez do fechamento da produção de energia nuclear e a contradição da redução da energia hidrelétrica no contexto mundial. Também indicará que, além dos países muçulmanos, a grande concentração de petróleo (líquido, gás e condensado) está na América Latina, especialmente Venezuela e Brasil. A União Latina que se formou e poderá voltar a existir, com o mundo muçulmano e a Confederação dos Estados Independentes (CEI), integrada pela Armênia, Belarus, Cazaquistão, Federação Russa, Moldávia, Quirguistão, Tadjiquistão, Ucrânia, Uzbequistão, Azerbaidjão e Turcomenistão, liderados pela Rússia, representam praticamente todo petróleo do mundo. E como ficam os EUA e a Europa Ocidental? E como poderão enfrentar a crise que se avizinha, sem energia e com frio?

A política imposta pelo governo Bolsonaro-Guedes mão só é contrária ao que o mundo está fazendo como, igualmente, ao interesse nacional, e nos levará, brasileiros, inevitavelmente, para dias ainda piores do que vivemos desde o golpe de 2016.

Imagine se perdurar por novo quadriênio, com estes ou com outros dirigentes, esta nefasta política! É fundamental exigir clara e insofismável defesa do controle e da operação da energia pelo poder do Estado Nacional Brasileiro. Reestatização da Eletrobrás, da Petrobrás, reerguimento da Nuclebrás e do Programa Nuclear Brasileiro. Estas são metas inadiáveis.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado

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