O 1% mais rico do mundo ficou com 82% da riqueza mundial criada ano passado. Já os 50% da população mais pobre não ficaram com nada. É o que mostra um novo relatório da ONG britânica Oxfam. Segundo o estudo, em 2017, o mundo viu surgir um novo bilionário a cada dois dias. No Brasil, em um momento de crise, a riqueza dos milionários nacionais cresceu 13%. O trabalho insalubre e mal remunerado de muitos tem garantido a riqueza extrema de poucos.
À véspera do Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne a elite política e econômica do mundo, entre 23 e 26 de janeiro, a Oxfam divulgou o relatório “Recompensem o trabalho, não a riqueza”. Nele, aponta que, em 2017, o 1% mais rico elevou o seu patrimônio em 762 bilhões de dólares, o suficiente para acabar sete vezes com a miséria no mundo.
“A economia segue sendo muito boa para quem já tem muito e péssima para quem tem pouco”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, em comunicado à imprensa. Os resultados do estudo fazem cair por terra a tese da meritocracia, de que qualquer um pode ascender por esforço e méritos próprios. Segundo a Oxfam, aproximadamente dois terços das fortunas dos bilionários podem ser atribuídos a heranças, monopólios e compadrio.
A entidade fez entrevistas com mais de 70 mil pessoas e concluiu que mais de três quartos das pessoas concordam ou concordam enfaticamente que a distância entre ricos e pobres em seu país é muito grande, variando de 58% na Holanda a 92% na Nigéria. Contrariando o discurso do Estado mínimo, em voga no Brasil pós-golpe, 60% concordam que é responsabilidade dos governos reduzir esse fosso.
Para a Oxfam, a atual situação de desigualdade é resultado de “uma tempestade perfeita”. “Na base da pirâmide, direitos trabalhistas estão sendo minados e com eles o poder de negociação dos sindicatos. Empresas estão se consolidando cada vez mais e se encontram sob uma enorme pressão para oferecer retornos cada vez mais altos aos seus acionistas. Esses retornos geralmente são garantidos à custa dos trabalhadores e oferecem um maior incentivo para a evasão fiscal em larga escala. As empresas usam a mobilidade dos seus investimentos para promover uma “corrida para baixo” entre países em termos de tributação e salários”, critica.
Gênero
A desigualdade tem também um forte componente de gênero. Atualmente, há 2.043 bilionários (em dólares) em todo o mundo. Nove entre dez deles são homens. Em todo o mundo, mais homens do que mulheres são proprietários de terras, ações de empresas e outros bens de capital; 53 os homens recebem mais para desempenhar as mesmas funções que as mulheres e estão concentrados em empregos de maior remuneração e status.
As mulheres fornecem, anualmente, US$ 10 trilhões em cuidados não remunerados para sustentar a economia global. “A desigualdade de gênero não é um acidente e nem é nova: nossas economias foram construídas por homens ricos e poderosos em benefício próprio. O modelo econômico neoliberal piorou essa situação – redução de serviços públicos, corte de impostos para os mais ricos e a corrida para baixo em matéria de salários e direitos trabalhistas afetaram mais as mulheres do que os homens”, diz o texto.
Brasil
De acordo com a ONG, no Brasil, as cinco pessoas mais ricas do país detêm um patrimônio equivalente à metade da população brasileira. O número de bilionários brasileiros em 2017 passou de 31 para 43, com patrimônio acumulado de US$ 549 bilhões, o que equivale aum aumento de 13%. Enquanto isso, 50% dos brasileiros mais pobres viram a sua parte nos rendimentos nacionais reduzida de 2,7% para 2%.
Rafael Georges, coordenador de campanha da Oxfam no Brasil, explicou que os dados da pesquisa, fornecidos pelo Banco Credit Suisse, indicam que há uma tendência de aprofundamento da desigualdade social no Brasil.
“A concentração de riqueza é muito cruel e eficiente para quem está no topo. Se você tem bastante patrimônio, consegue gerar renda e consequentemente mais patrimônio. Quando a economia [brasileira] começou a esboçar alguma recuperação, esta parcela da população [mais rica] experimentou um momento favorável. Já as pessoas que estão na parte de baixo da distribuição patrimonial, ou seja, a metade mais pobre da população, acabaram perdendo o pouco que tinham ou aprofundaram suas dívidas”, acrescentou Georges.
Sistema falido
Para a ONG, o crescimento sem precedentes do número de bilionários não é um sinal de uma economia próspera, mas um sintoma de um sistema extremamente problemático, já que mais de metade da população mundial tem um rendimento diário de entre 2 e 10 dólares.
“O boom de bilionários não é um sinal de uma economia próspera, mas um sintoma de um sistema econômico falido”, disse Winnie Byanyima, diretora executiva da Oxfam International.
O relatório defende que a economia não precisa ser estruturada como está. “Podemos criar uma economia mais humana, que priorize os interesses de trabalhadores comuns e de pequenos produtores de alimentos, e não os daqueles com super salários e donos de grandes fortunas. O texto afirma ainda que é preciso “rejeitar a adesão dogmática à economia neoliberal e a influência inaceitável das elites nos nossos governos”.
Segundo a entidade, isso poderia ser feito, principalmente, concebendo economias mais igualitárias e usando a tributação e os gastos públicos para redistribuir e promover uma maior equidade.
Do Portal Verrmelho