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Os laços econômicos entre a China e a América Latina nos últimos anos mostram um grande crescimento, e a Argentina não constitui exceção. Em entrevista à Sputnik especialistas comentaram as principais direções no comércio sino-argentino.
De acordo com o diretor da Câmara Argentino-Chinesa de Produção, Indústria e Comércio, Ernesto Fernández Taboada, entrevistado pela Sputnik Mundo, hoje em dia na China cerca de 750 milhões de pessoas moram em cidades, sendo que metade delas representam uma classe média que possui bastante dinheiro e que cresce mais a cada ano.
“Assim, a demanda de produtos importados tem crescido, e o governo chinês planeja aumentar as importações”, assinalou o analista.O gigante asiático é o principal destino da soja e da carne exportadas da Argentina. Além disso, os investimentos chineses em mineração e exploração de hidrocarbonetos têm crescido, bem como a compra dos alimentos semiacabados.
Vale ressaltar que não obstante ser a nação mais populosa do mundo e ocupar a segunda maior área depois da Rússia, somente 15% de todo o território chinês são utilizados para agricultura. Por sua vez, a Argentina é o sétimo maior país do mundo, tendo 80% de zonas aráveis, apontou Taboada.
“Exceto o Brasil e os EUA, não há muitos países que possuam um potencial similar para produzir produtos alimentícios, dos quais a China vai sempre carecer: eles podem produzir dentro de sua economia para somente 30% de sua população, precisando importar para cerca de 70%”, comentou à Sputnik Patricio Giusto, diretor do Observatório Sino-Argentino.
Ele indicou também que a China está mais interessada nas exportações da produção agrária, e não somente em matérias-primas, mas também em produtos acabados. É por isso que o grupo chinês Alibaba já está operando na Argentina, acrescentou.O interesse da Alibaba, a maior empresa de e-commerce no mundo, pela carne e mariscos argentinos apresenta somente uma pequena parte da estratégia comercial e econômica do gigante asiático no território deste país. A China é um dos principais investidores na Argentina em tais áreas como agricultura, mineração e hidrocarbonetos, bem como na construção de infraestruturas.
“As grandes empresas começam a entrar no mercado estrangeiro. Ao longo de muitos anos a América Latina se apresenta como um destino atrativo para investimentos, enquanto a China precisa de uma boa infraestrutura na região para produzir mais produtos alimentícios, assegurar um transporte de qualidade, mais linhas de alta tensão, estações hidrelétricas, mais capacidade de produzir energia. Isso é algo que a China está disposta a financiar, porque está em linha com seus interesses”, apontou Giusto.
Enquanto isso, a guerra comercial entre a China e os EUA vem se intensificando como resultado da política protecionista do presidente norte-americano Donald Trump. Nesse âmbito, os países emergentes que fornecem matérias-primas e recursos, como a Argentina, estão sendo afetados.De acordo com Giusto, a postura isolacionista dos EUA e a imposição unilateral de tarifas gera uma grande incerteza e complica a vida dos países de média dimensão, tornando-os mais vulneráveis. O analista acredita que o governo dos EUA receia que a China conquiste a América Latina simplesmente por ambições de domínio internacional, expulsando os EUA das posições de liderança regional.