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quinta-feira, 25 abril, 2024

Dívida e escravidão

  “Ousei rasgar o espesso e misterioso véu que cobria o Tesouro,

            persuadido de que a desconsolação pública e a extinção do patriotismo

          andam a par da miséria pública; de que a ruína dos Estados, a queda

           dos Impérios são consequência das desordens das finanças”.

            (Manuel Jacinto Nogueira da Gama, Visconde de Baependi, 1823)

Gustavo Adolfo Dodt da Cunha Barroso, jornalista, historiador, membro da Academia Brasileira de Letras, escreveu, em 1934, Brasil – Colônia de Banqueiros, editado pela Civilização Brasileira. Nele retrata a história dos empréstimos estrangeiros ao nosso País por mais de um século, de 1824 a 1934.

Inicia aquele trabalho com a citação de um viajante inglês, Henry Koster, que em 1818, ou seja, quando Dom João VI ainda se encontrava no Brasil, observava que o País já cessava de “depender de Portugal para se tornar colônia da Grã-Bretanha”. E acrescenta Gustavo Barroso: “Livres de Portugal em 1822, não nos libertamos da metrópole comercial inglesa senão lá para 1834 …… e passamos a um jugo pior: fomos transformados em colônia da casa bancária judaica Rotschild, em colônia do super-capitalismo internacional”.

A dominação pelas finanças é a própria história do mundo pós Revoluções do século XVIII. Mas, a partir das decisões denominadas neoliberais de 1980, por Margaret Thatcher e Ronald Reagan, e da queda do Muro de Berlim, em 1989, a “banca”, como denomino o sistema financeiro internacional, tomou conta do mundo, daí o professor e economista Marcos Coimbra designá-lo “donos do mundo”.

O fenômeno da dívida é secular, bíblico, a tal ponto ser considerada a usura um pecado pelos cristãos. Mas, usando as necessidades e, após, gerando estas próprias necessidades, efetivas ou não, verdadeiras ou não, a dívida, que é o tradicional modo de remuneração e de conquista da banca, toma no mundo contemporâneo um sentido ainda maior. Ela passa a ser o verdadeiro e único poder sobre os Estados Nacionais.

Hoje, referir-se aos Estados Unidos da América (EUA), como principal interessado na destruição econômica da Rússia, torna-se uma simples metáfora, pois atrás dos EUA está o poder da banca. O mesmo poder-se-ia dizer do Reino Unido, da França, da Alemanha, do Japão – todos estes exemplos para ficar nos mais poderosos países do mundo, do G7 – com governos que se apresentam politicamente como socialistas, conservadores, trabalhistas ou liberais.

É óbvio que governos de tão diferentes matrizes políticas e ideológicas só poderiam agir tão harmonicamente e com tamanha concordância se representassem um mesmo poder: do sistema financeiro internacional.

Resta-nos desvendar este poder, a banca.

Como é evidente, o poder da banca é tanto maior quanto mais invisível ela for. Fica, então, mais protegida de ataques e contestações. E não lhe é difícil assim estar, pois domina amplamente os meios de comunicação, dominando os Estados controla seus segredos e suas agências de inteligência, formando-se então um véu que o Visconde de Baependi não mais conseguiria rasgar.

Mas ficam as pistas na contínua e acelerada concentração de renda que se verifica desde 1990. E os mecanismos para estas concentrações são as “crises”. Que são as “crises”? Os instrumentos para as transferências de renda de todos os demais agentes econômicos – produtores industriais ou de matérias primas, transportadores, comerciantes etc – para a banca e, adicionalmente, serem concentradoras de renda, mesmo dentro de seus próprios agentes. Veja, por exemplo, o número de bancos existentes no Brasil ou na Suíça em 1990 e em 2015. E assim fortalecida a banca avança cada vez mais, provocando ruína desde pessoais até nacionais e plurinacionais como se vê no norte da África e no Oriente Médio.

Era esperada uma crise em 2015 ou 2016, pois entre as duas últimas – 2001, na Argentina, e 2008, nos EUA – mediaram sete anos. Não saberia explicar a demora, talvez alguma disputa interna à banca, talvez a necessidade de ter no Governo dos EUA uma sólida governante, mas a “crise” de 2017 parece ser um segredo de polichinelo. Qual será o local, o epicentro?

Arrisco, sob minha inteira responsabilidade, sugerir que esta próxima crise será europeia, com o euro. Vejamos o que a imprensa tem comunicado em vários países: o retorno do megaespeculador George Soros ao mercado financeiro com apostas “pessimistas”, a situação de insolvência dos bancos europeus, a incapacidade de os  Estados Nacionais Europeus continuarem se endividando, a redução do euro nas reservas da República Popular da China, detentora das maiores reservas mundiais, o aparecimento mais significativo dos dólares australianos e canadenses no sistema monetário internacional e as declarações do Primeiro-ministro japonês durante a recente reunião do G7. Ora a moeda-chave da banca é o dólar. Para “aquecê-lo” basta criar uma crise na segunda mais importante moeda-reserva. E, como brinde, um problema adicional para a Federação Russa que tem a Europa como importante parceiro comercial.

Lembremos que o nacionalismo é o grande inimigo da banca e os BRICS, onde a Rússia tem destacado papel, são um exemplo de política nacionalista. Como se concluem muitas análises financeiras prospectivas: a conferir.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado.

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