Neste 8 de março, cerca de 100 mil mulheres se manifestaram na praça do Congresso em Buenos Aires. Uma estrondosa, e decidida marcha de mulheres, sobretudo jovens e guerreiras, estudantes e trabalhadoras. A juventude não está alienada e as mulheres não dão um passo atrás. Num momento particular de início de um governo dito libertário, onde as ameaças à democracia, à liberdade de expressão, de gênero e aos direitos humanos se acentuam, este tsunami de mulheres, idosas e aposentadas também, gritando pelos seus direitos, deixa um sinal importante para o que poderá ser o próximo 24 de março, dia da Memória, Verdade e Justiça.
A juventude, as mulheres e a classe trabalhadora (incluindo domésticas) mesclam decisão, união e solidariedade nestes atos, que tiveram início na greve geral de 26 de janeiro convocada pelos sindicatos contra a política econômica e os reajustes de Milei. Cordões de sindicatos (CGT, CTAs, ATEs), organizações de bairro, partidos políticos e movimentos sociais acompanharam e criaram o clima de solidariedade, não rendição, alegria, cantos e danças, tambores e força. Cartazes dos sindicatos (CGT e JSP): “O povo não pode ser a variável dos reajustes”, “Comer, estudar, ter saúde, bilhete do ônibus, não são um privilégio”. Não faltaram cartazes de solidariedade às mulheres, mães e crianças vítimas do genocídio contra o povo palestino.
O protesto contra o ataque à liberdade de imprensa e o direito à informação se fez presente no 8M. As mulheres se solidarizaram com os 700 trabalhadores da Telam, Agência Nacional de Notícias, suspensos inesperadamente no início do mês, com corte no serviço de cabo, no site web de notícias, e local custodiado à força pela Polícia Federal e da Cidade. O presidente Milei dá inicio ao seu desmantelamento das instituições estatais, no campo informativo, e preanuncia intervir na TV Pública, na Rádio Nacional e no Conicet (Ciência e Tecnologia). FATPREN, SiPreBa, CGT, CTA, UTEP e vários sindicatos, intelectuais e jornalistas tem se manifestado na defesa da Telam.
A maré de cor violeta dos movimentos pela igualdade de gênero, e a dos lenços verdes das mulheres que lutaram e conquistaram o “Aborto Legal, Seguro e Gratuito” rechaçam a ameaça do governo atual de revogar a Lei IVE (interrupção voluntária da gravidez) sancionada em janeiro de 2021 no governo de Alberto e Cristina Fernandez. O Ministério de Mulheres, Gêneros e Diversidade daquela gestão peronista, foi reduzida atualmente à Subsecretaria de Proteção contra a Violência de Gênero. Além disso, o governo Milei anunciou o fechamento do INADI, órgão estatal criado em 1995 contra a discriminação, a xenofobia e o racismo. Enfim, motivos de bronca sobram contra os femicídios, homofobia e discriminações para as jovens mulheres que pulavam e gritavam: “Quem não salta, votou no Milei!”.
Neste Dia Internacional da Mulher, ocorreu um fato insólito e provocador por ordem da secretária da Presidência, Karina Milei, irmã do presidente. Foram retirados todos os quadros com imagens das personagens históricas da Argentina expostas no Salão das Mulheres na Casa Rosada. Quem eram? Evita, Alfonsina Storni, Lola Mora, Tita Merello, Mercedes Sosa, Blackie, Cecilia Grierson, Victoria Ocampo, as Mães da Praça de Maio e as Mães dos caídos na guerra das Malvinas, Mariquita Sánchez de Thompson, Juana Azurduy, Aimé Painé, Alicia Moreau de Justo, Lohana Berkins, e várias outras. O salão passou a chamar-se Salão dos Próceres com quadros de San Martin, Carlos Menem, Juan Alberdi, Sarmiento, Belgrano, etc… É neste clima de tensão que 100 mil mulheres transformaram o Salão das Mulheres na Praça das Mulheres argentinas neste 8 de Março.
No final do ato, leram um Documento que transcende a questão feminista, assinado por todas organizações que aderiram a este 8M. … “Estamos num histórico 8M contra a extrema direita que hoje está encarnada no governo de Javier Milei e Victoria Villaruel. Estamos perante um governo autoritário que representa a reação patriarcal, que fala da motosserra para celebrar um plano sistemático de pilhagem e fome e para destruir os direitos da classe trabalhadora e do povo, porque está ao serviço dos capitais internacionais que vêm para acabar com os nossos bens comuns e pela nossa vid;, e para isso necessitam de um povo que passe fome, sem trabalho, sem moradia, sem educação e sem saúde pública”.
O texto está desenvolvido em 6 pontos:
– Estamos aqui contra a fome e os cortes
– Estamos aqui pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito
– Estamos aqui pelo trabalho e contra as demissões
– Estamos aqui para dizer “abaixo o DNU”. Basta de extrativismo contra os corpos e territórios!
– Estamos aqui para dizer abaixo ao protocolo repressivo da Patrícia Bullrich. Basta de violência institucional!
– Estamos aqui contra as violências machistas!
Final do documento:
“Dizemos Nem um passo atrás. Não temos medo do Milei. Nós fomos uma maré e seremos um tsunami!”
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