Pedro Augusto Pinho*
Em 1946, Wilhelm Reich, médico austríaco, seguidor de Freud, escreveu “Discurso ao homem comum” (Rede an den kleinen Mann). No Brasil foi traduzido por Waldéa Barcellos, para Martins Fontes, com o título “Escute, Zé Ninguém” (2ª edição em 2007).
Reich, nascido em 1897, viu surgir o nazismo. E, como profundo estudioso da mente humana, entendeu que este bárbaro pensamento político nascia na própria incompreensão individual e, talvez remetendo ao título da célebre obra do filósofo J.G. Fichte (Discursos à Nação Alemã – Reden an die deutsche Nation), tenha se dirigido não às elites mais ao Zé Ninguém, a todos nós.
Vivemos hoje, no Brasil, tal estado de mistificação, tão grande farsa no domínio da compreensão social e humana, que não nos escandaliza uma empresa de petróleo inglesa vir ditar, sem subterfúgios, os procedimentos que o executivo e o judiciário pátrios devam adotar para que seus lucros sejam maximizados.
Ao mesmo tempo, idiotas, midiaticamente empurrados como cordeiros, nos apavoramos com venezuelanos, talvez inexistentes, que estejam invadindo o norte do Brasil (!). Inexistentes pois são fruto da prática conspiratória, como as armas químicas iraquianas e tantas mentiras que o poder divulga entre os povos.
A classe média tem contornos difíceis – pois não se caracteriza apenas pela economia, nem pelo grau de instrução, nem por qualquer parâmetro social, político ou intelectual – no entanto, nunca foi identificada pela sagacidade com que identifica os fenômenos civilizatórios. Sempre correu, como manada, atrás de quem lhe acenasse com um bombom. Isto mesmo, muito pouco.
No facebook, li frase significativa: a classe média está a 5 mil reais da classe que ela menospreza e a 5 milhões da classe que ela lambe as botas.
O modelo político no qual vivemos ajuda muito ao Poder na farsa, na fantasia democrática que nos quer impingir.
Não farei análise dos 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na verdade eles poderiam ser resumidos a três, quatro, quando muito cinco, como pretendo demonstrar. Nem há tamanha divergência de interesses nem filosofias a serem seguidas, nem ideologias do poder. Basicamente temos o interesse ou desinteresse na questão nacional, a prioridade na atendimento da elite ou no atendimento do povo e, talvez, algumas discrepâncias operacionais.
E por que tantos? Para criar a mistificação democrática e ter a mesma pregação colonial partindo de várias fontes, com vários discursos, vários argumentos na certeza de que um lhe impressionará. E deste modo você estará ajudando a destruir seu País, a enfraquecê-lo, a humilhá-lo, pensando que combate, por exemplo, a corrupção.
Começo pelo partido que representa os interesses da escravidão e do latifúndio, os mais antigos no Brasil, que muda sistematicamente de nome e hoje se identifica pela sigla DEM (Democratas).
Idênticos interesses nesta escravidão física e mental, no rentismo não tributado estão os denominados evangélicos. Nunca a palavra de Cristo esteve tão longe das práticas destes pastores políticos e argentários. Sua pregação moralista não encontra eco nas suas próprias condutas e na de seus dirigentes.
O mais rico destes é o da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), do Bispo Macedo, de seu sobrinho, Prefeito e Bispo Crivella, que construiu um império midiático de televisão, rádio e imprensa. Tem a sigla PRB (Partido Republicano Brasileiro). São seus congêneres: PSC (Partido Social Cristão), PSDC (Partido Social Democrata Cristão), PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro).
Neste conjunto, do mais profundo atraso social e político, enumeraríamos as denominadas legendas de aluguel. Elas poderiam servir a qualquer um, mas atendem principalmente aos melhores pagantes, que estão nestes proprietários financeiros e fundiários e nos capitais alienígenas.
Um segundo grupo agrega os representantes dos interesses estrangeiros no Brasil. Tem como principal representante o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), e como acólitos o PPS (Partido Popular Socialista), o PP (Partido Progressista) o PSD (Partido Social Democrático), a REDE (Rede Sustentabilidade) e o SD (Solidariedade). Desculpe-me se esqueci algum. Pois muitas vezes aqueles que se dizem defensores da ecologia, da preservação da natureza, apenas querem evitar a industrialização do Brasil, mantendo-nos sem soberania econômica e tecnológica.
Outra característica maior, além da defesa dos interesses estrangeiro, é o combate ao Estado. Apresentam-se como neoliberais, a ideologia da banca (sistema financeiro internacional). Também abrigam siglas de aluguel.
Há um partido tão desfigurado, tão política e ideologicamente disforme que pode, como efetivamente o faz, abrigar escravistas, entreguistas, populistas e até nacionalistas e democratas. É um partido bonde ou, em melhor designação latina, ônibus (omnibus, de todos ou com todos). É o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Não é o caso de justificá-lo pela sua formação, mas inquirir como se manteve assim após a constituição de 1988.
O terceiro grupo é muito diversificado, mas tem em comum a oposição formal aos grupos já apresentados. Ao designar formal sua oposição, mostro sua fragilidade em constituir o maior partido brasileiro; suas hesitações, suas inseguranças, seus receios de retrocesso. Esquecem que a falência das privatizações, nos períodos FHC, eram respondidas com “tem que aprofundar mais” e continuavam privatizando. Já foram dados tantos passos atrás que nenhum mais é possível.
Como representantes dos interesses da soberania nacional (soberania social, econômica, tecnológica e política), da construção da cidadania, dos benefícios para a maioria da população, eles deveriam, não tivéssemos o sistema político tão fraudulento, obter maior adesão popular.
Admito, sem conhecer, que haja neste grupo também suas siglas de aluguel. Mas o que, a meu ver, mais dificulta é, no afã de alistar pessoas, não ser seletivo quanto aos valores e consistência da convicção dos candidatos.
A relevância desta seleção não se aplica aos dois grupos inicialmente enunciados, pois seus objetivos não são nacionais nem os do povo brasileiro. Naqueles partidos estão concentrados os mais corruptos políticos brasileiros.
Cabe uma consideração sobre a corrupção na política, em todo e qualquer sistema e local. Política e corrupção andam juntas desde a Roma antiga. Ou não teria existido Brutus. E corrupção não é apenas colocar no seu bolso privado, ilicitamente, o dinheiro público. Corrupção são mordomias, vantagens de classe ou individuais, e principalmente advogar, no governo, interesses particulares e, pior, dos estrangeiros.
Ao assumir uma função pública, é o interesse de todos, do País, da população nacional que deve prevalecer. É uma disfunção que a democracia parlamentar burguesa trás em sua constituição: a representatividade da parte, o bairrismo, o corporativismo.
A idealização de partidos sem ideologia, representando distritos, é a exacerbação deste erro. Todo partido deveria ter clara e obrigatória sua definição filosófica, social, econômica, política, ideológica. O único acerto é termos apenas partidos nacionais e não estaduais como na República Velha.
O maior partido do último conjunto é o Partido dos Trabalhadores (PT), adiciono o PDT (Partido Democrático Trabalhista), o PCdoB (Partido Comunista do Brasil), o PMN (Partido da Mobilização Nacional), o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados), o PCB (Partido Comunista Brasileiro), o PCO (Partido da Causa Operária), o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e o PPL (Partido Pátria Livre). Talvez esteja omitindo algum que ainda não pode se apresentar aos eleitores.
O economista Ranulfo Vidigal, analista percuciente, no Monitor Mercantil escreveu: “nas diferentes alas de nossa escola de samba eleitoral em 2018, temos a ala progressista, antiglobalização e ambientalista com forte presença nas universidades e na mídia. Outra ala na esquerda é o segmento antiimperialista, que busca a superação do processo de exploração capitalista” (Começou o jogo eleitoral, 23/02/2018).
Efetivamente, neste grupo de partidos existem aqueles que dão mais atenção às denominadas questões sociais e os que dão às questões nacionais.
As Forças Armadas (FFAA) tem hesitado, hoje e ao longo da nossa história, a lutar pela soberania brasileira – tenho convicção, não prova, que foram também, como todos nós, vítimas da pedagogia colonial – e, desde o empoderamento da banca, muitos de seus quadros deixaram-se dominar pelo canto da sereia do neoliberalismo. Elas não tem mostrado clareza quanto a distinguir os interesses da banca e os do País. O desmonte da Petrobrás e a entrega do pré-sal são um exemplo. As decisões arbitrárias nefastas à engenharia brasileira pela Lava Jato, outro exemplo.
Voltemos ao tema de Reich. Está o homem comum capaz de encontrar seu lugar? Ele tão simplesmente e apenas letrado, que não teve oportunidade, nem a escola lhe propiciou, do letramento social? Que em tal descaracterização política, como que nos impõe a atual legislação, saiba defender seu País, sua família, sua vida?
Proponho, sem qualquer qualificação que não seja de um brasileiro que coloca seu País acima de tudo, que as forças nacionalistas, estejam à direita ou à esquerda do espectro político, unam-se às populares para derrotar o atraso e o entreguismo, cujos partidos que os representam enunciei.
Pela paz, pela unidade nacional, pela urgente reforma política e pela educação libertadora!
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado