Área desmatada em Rondônia, em agosto de 2019
De 2017 para 2018, emissões ligadas à derrubada de florestas aumentaram 3,6%, representando a maior fonte de poluentes liberados no país. Brasil é o sexto maior emissor do planeta.
DW
Estimativas divulgadas nesta terça-feira (05/11) pelo Sistema de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg) do Observatório do Clima apontam que o desmatamento foi a principal fonte de emissões no Brasil em 2018, respondendo por 44% do total.
De 2017 para 2018, as emissões ligadas ao desmatamento, que no levantamento do Seeg é descrito como mudanças de uso da terra, cresceram 3,6%, gerando cerca de 845 milhões de toneladas de carbono equivalente (CO2e). O Pará, estado com maior taxa de desmatamento, foi também o que mais poluiu.
“Grande parte das emissões do Pará ocorreram na região na BR-163 e na Terra do Meio, muito dentro de unidades de conservação e devido à invasão de terras indígenas”, detalha Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Segundo o Seeg, as emissões decorrentes da alta de 8,5% no desmatamento da Amazônia no ano passado foram em parte compensadas por uma redução de cerca de 10% na destruição do Cerrado.
No geral, as emissões brutas de gases de efeito estufa do Brasil mantiveram o patamar observado no ano anterior: 1,939 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (CO2e), contra 1,932 bilhão em 2017. O resultado, no entanto, é avaliado com cautela pelos pesquisadores que trabalharam no levantamento.
“Se a gente olha para as emissões per capita, a gente segue maior que a média mundial”, pondera Tasso Azevedo, coordenador do Seeg, ressaltando que média brasileira é de 9,3 toneladas brutas, contra 7,2 toneladas da média global.
Para o ano que vem, a expectativa é de piora do cenário. “De 2018 para 2019 esperamos um aumento muito grande de emissões, não só por conta do fogo, mas por conta do desmatamento observado neste ano”, afirma Alencar.
Na comparação entre países, o Brasil é o sexto maior emissor de poluentes, atrás de China, Estados Unidos, Índia, Indonésia e Rússia. “É uma vergonha para o Brasil, porque, diferentemente dos países que têm um gigantesco desafio tecnológico para diminuir suas emissões, como setor de energia, aqui nós precisamos diminuir o desmatamento”, comentou Ricardo Abramovay, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).
“Estamos sem política de clima no Brasil. Tudo ruiu”, diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, ao abordar o governo do atual presidente Jair Bolsonaro.
Agropecuária, energia e indústria
Responsável por 25% das emissões em 2018, a agropecuária registrou uma leve queda, de 0,7%, em comparação ao ano anterior. O principal gás estufa proveniente do setor é o metano, fruto do processo digestivo de bois, ovinos e caprinos. Como houve redução do rebanho bovino no país naquele ano, o mesmo ocorreu com as emissões.
“Esquentou tanto o abate de gado para produzir carne que o rebanho nacional chegou a cair”, diz Ciniro Costa Junior, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), comentando o aquecimento do mercado internacional. Segundo o pesquisador, 69% das emissões da agropecuária estão relacionadas à produção de carne.
Já as emissões do setor de energia, que inclui a queima de combustíveis fósseis no transporte e geração de eletricidade, foram as que mais caíram: 5%. “Isso aconteceu porque houve aumento do uso de biocombustíveis, como uso de etanol nos transportes, com uma redução no consumo de gasolina”, justifica Felipe Barcellos e Silva, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). “O uso de energia renovável também aumentou, principalmente a eólica”, adiciona.
Quanto aos processos industriais e uso de produtos, que contabilizam emissões da indústria, o aumento foi de 1%. Uma alta semelhante foi observada nas emissões por resíduos, que foi de 1,3%. O aumento, segundo pesquisadores do Seeg, se deve em parte ao aumento da população e da urbanização no país.
Criado em 2012, o Seeg gera as estimativas segundo as diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com base nos dados dos inventários do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
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