Certamente que já muitos se questionaram porque a operação militar da Rússia se está a arrastar tanto no tempo. De certo modo, assemelha-se a um marcar passo com apenas pequenos sucessos táticos e alguns recuos. Não há avanços significativos do exército russo no espaço estratégico e nem marchas forçadas decisivas de enormes colunas para as grandes cidades, contrariamente ao que se aprendeu sobre a sua doutrina. Parece que tudo está de alguma forma agarrado ao mesmo lugar e alguns até comparam o que está a acontecer com a Primeira Guerra Mundial, que a certa altura se transformou numa guerra de trincheiras.
Os próprios russos se interrogam porque não está a ocorrer uma mobilização em grande escala, ao nível de um a um milhão e meio de homens, a lei marcial não está a ser introduzida no país e – é até curioso assinalar – ainda se verifica uma razoável dissidência.
Penso que a resposta a tudo isso é para que, os guerreiros de bancada russos e também os russófilos de outras paragens, não fiquem numa situação de grande stress e tensão, bem como toda a Rússia. Porque a operação militar não existe só na frente de batalha. A operação militar continua no interior do próprio país, na economia e na cultura, a operação militar prossegue na política internacional da Rússia. A operação militar é uma Terceira Guerra Mundial de um novo tipo. E o seu objetivo é extremamente amplo e ambicioso – vencer não só na frente, mas também construir uma nova economia industrial moderna e um novo sistema de relações internacionais, com um mínimo de perdas para o país. O ideal é que o país continue a viver a sua vida normal, as pessoas cuidem da sua vida, a economia não só funcione, mas também se desenvolva, e muitos processos passem a ser invisíveis, mas com a certeza que todos sentirão os seus resultados. Para que os cafés e restaurantes, os cinemas e as salas de espetáculos continuem a funcionar, os supermercados fiquem cheios de géneros, para que sejam construídas novas casas e estradas. Os homens da frente são duplamente heróis, porque não só lutam contra o nazismo, como garantem a vida normal e tranquila do país, fazendo esforços incríveis.
Uma das principais tarefas da operação militar é vencer sem esforço perceptível. Pretende-se que seja como no judô em que muitas vezes se usa não a própria força, mas a força do oponente, em que a força deste se transforma em fraqueza. E não estou a referir-me à Ucrânia. O inimigo da Rússia e dos seus aliados é o Ocidente alargado, cuja situação se está a deteriorar em todas as frentes, de uma forma bastante rápida e incontrolável. Resultam óbvios os enormes problemas da economia, especialmente na Europa, problemas que a certa altura se podem tornar críticos, o descontentamento das pessoas, as falsidades dos “meios de comunicação mais honestos e independentes”, dos quais a população começa a ficar farta, porque simplesmente é impossível mentir assim tanto, sem que as pessoas se apercebam.
O Ocidente está a fazer enormes esforços para apoiar um cadáver que mantem vivo artificialmente e que é a Ucrânia, onde não há economia, onde a crise demográfica é tal que os doentes, e possivelmente as mulheres, já podem vir a ser chamados para as fileiras da guerra.
Na Ucrânia, a população está extremamente assustada, cansada, amordaçada pelos seus próprios vigaristas no poder, e só sobrevive graças a esmolas do Ocidente. Toda esta associação – Ucrânia / Oeste – é extremamente instável. Não se podem dar ouvidos às declarações de Borrells e Stoltenbergs sobre um apoio infinito à Ucrânia. Isto são apenas chavões que não significam nada.
A realidade é completamente diferente. Não tem as mesmas cores do arco-íris como as bandeiras que enchem as praças e ruas das cidades europeias. O que, aliás, também é extremamente irritante para o cidadão europeu comum.
E, ao mesmo tempo, a Rússia está a acumular forças e a preparar as suas reservas, em grande escala e equipadas com as armas mais recentes. As fábricas militares funcionam em três turnos e o afluxo de voluntários ao exército continua imparável. A Rússia prepara-se com calma para a batalha decisiva, que quase certamente vencerá. Não só contra o neonazismo ucraniano, mas também contra o Ocidente alargado, porque essa vitória poderá mudar tanta coisa na política internacional, que nem sequer podemos imaginar. Porque então, mesmo os países que atualmente aderem a uma neutralidade cautelosa, sem ainda terem escolhido definitivamente um lado, voltar-se-ão decisivamente para a Rússia.
E como resultado dessa eventual vitória, a Rússia também mudará. Vai seguramente melhorar as suas capacidades e finalmente libertar-se do pesadelo dos anos 90, que ainda está muito vivo. E isso deve acontecer com calma e de forma despercebida, para não interferir na vida normal de um cidadão russo comum. Se alguém não entende isso, também não entende nada…
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