Havana (Prensa Latina) O Instituto Finlay de Vacinas de Cuba (IFV), criado em 1991, tem muitos sonhos realizados e outros a realizar em busca do desenvolvimento da ciência e da qualidade de vida da população.
Por: Joel Michel Varona*
Edtor de Ciência e Tecnologia
Seu nome homenageia o epidemiologista cubano Carlos J. Finlay (1833-1915), que verificou que um agente biológico transmissor da febre amarela era capaz de transmitir a daoença de um doente para um saudável.
Essa constatação foi fundamental para o combate à doença e para posteriores pesquisas sobre o que hoje se conhece como doenças transmitidas por vetores.
O IFV, entidade de pesquisa, desenvolvimento e produção, foi fundado depois que um grupo de cientistas cubanos apresentou uma vacina contra a meningite (Neisseria meningitidis), conhecida comercialmente como VA-MENGOC-BC®.
Entre as principais contribuições do centro, nos últimos anos, destaca-se a criação das vacinas Soberana 02 e Soberana Plus e da candidata Soberana 01 contra a Covid-19, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2.
A Prensa Latina visitou este pilar da ciência em Cuba, um lugar silencioso com predominância do azul e do branco, onde se respira um clima de conhecimento, de insatisfação com o que se aprendeu até agora e de vontade de saber mais.
O encontro contou com a presença de dois excelentes cientistas de reconhecido prestígio a nível nacional e internacional, que se destacam não só pelo capricho das suas togas ou pelo absoluto domínio do conhecimento dos seus assuntos, mas pela sua simplicidade e humildade.
Despojados de qualquer arrogância científico-acadêmica, insistiram, como lembrete para este Scanner dedicado à Biotecnologia, que Finlay, como todos o conhecem, não é uma lenda de poucos rostos, mas a história de muitos.
A vice-diretora de Operações Industriais, Roselyn Martínez, lembrou que a instituição nasceu com o desenvolvimento da vacina meningocócica BC e isso exigia ter capacidades produtivas em pequenas instalações, que eram casas adaptadas para esse fim.
Estes não atendiam a todos os requisitos padrão de fabricação, mas já na década de 1990 começaram a trabalhar com as capacidades tecnológicas do mais alto nível da época.
No dia 3 de dezembro foi inaugurada a primeira planta industrial, o que significou o surgimento da vacina que salvou muitas vidas em Cuba e outras latitudes graças à colaboração; Entre os beneficiários estavam Brasil, Uruguai e Argentina.
Este não é o único produto do Finlay Vaccine Institute, porque a partir de então passou a contar com instalações de alta capacidade, capazes de produzir milhões de doses de imunógenos.
Assim, foram incorporados outros produtos a essa base tecnológica criada, que responderiam ao programa ampliado de imunização do Ministério da Saúde Pública, especialmente para crianças.
Nesse caminho surge também a ideia de produzir a vacina Difteria-Antitetanus-Antipertussis com tecnologias um pouco mais atualizadas, um imunógeno já consagrado no mundo.
“É considerado tradicional, o país não tinha um padrão elevado naquela época, mas com o que tínhamos em mãos conseguimos desenvolvê-lo”, destacou.
Foi um processo progressivo; Mais tarde veio a introdução e o desenvolvimento de uma nova versão da vacina contra Salmonella Typhi, que era importada, mas causava reações adversas nas pessoas. “Conseguimos obter uma nova versão muito menos reatogênica”, destacou o especialista.
Hoje o IFV já conta com seis plantas produtivas, com plataformas capazes de obter polissacarídeos, produtos por síntese química e componentes de células inteiras.
“Isso significa que como instituição temos ampla capacidade para fazer frente à produção em larga escala de diversos tipos de imunógenos. Conseguimos não só obter os princípios farmacêuticos ativos utilizados nesses produtos, mas também chegar à fase final”, observou.
O mundo da biotecnologia é muito dinâmico, está em constante atualização e as normas regulatórias se tornam cada dia mais exigentes, e isso nos impõe processos de investimento para renovar a tecnologia, comentou o especialista.
Actualmente a instituição gere um ciclo fechado de produtos que vai desde a investigação, desenvolvimento e produção até à comercialização e distribuição, destacou.
Dagmar García, diretora de Pesquisas do IFV, lembrou que a ideia estratégica do líder histórico da Revolução, Fidel Castro, teve muito a ver com o surgimento da biotecnologia em Cuba, já que foram criados os principais centros de pesquisa no final da década de 70 e início da seguinte, e foi o seu grande divulgador.
“Naquela época não havia nenhum desenvolvimento importante nesta esfera e Fidel teve a capacidade de perceber que o futuro do setor biofarmacêutico estaria intimamente ligado à biotecnologia”, lembrou.
Foi então que foram criadas instituições em Cuba para esses fins; Naquela época, num país do Terceiro Mundo, era um luxo pensar em biotecnologia.
Algo muito interessante, tanto no Finlay Vaccine Institute como noutras entidades científicas que surgiram em plena crise económica da década de 1990, conhecida como período especial, uma fase muito complexa, “tivemos a capacidade, no meio de todas as problemas e limitações de financiamento, de desenvolvimento nesta esfera”, disse o Dr. García.
O sucesso atual da biotecnologia cubana está apoiado em mais de 30 anos de trabalho, além de ser uma das prioridades do Estado.
Cuba tem inúmeras contribuições para a comunidade internacional no campo das vacinas, aliás, o surgimento do pólo científico é muito marcado pela criação da vacina meningocócica BC.
Na década de 1980 ocorreu no país uma epidemia de meningite meningocócica, doença de progressão muito rápida, principalmente em crianças, que podem sofrer complicações em poucas horas, até a morte, como aconteceu naquela ocasião.
A partir desse momento, os cientistas deste centro assumiram a tarefa, por ordem da mais alta liderança governamental, de desenvolver uma vacina contra o meningococo B, e esta foi a única eficaz durante muitos anos, chegou até a ser líder de produto da vacina cubana biotecnologia.
A comercialização do produto permitiu faturar até 100 milhões de dólares durante vários anos e, além dos dividendos econômicos, contribuiu para o controle da doença no Brasil, no Uruguai e em outros países da América Latina.
Na década de 90 do século passado, os cientistas de Finlay lideraram o desenvolvimento da vacina conjugada contra Haemophilus influenzae tipo B, algo muito novo na época, pois era obtido por síntese química, ou seja, o antígeno não é obtido através de um biorreator como em outros tipos de processos biotecnológicos.
A síntese química, uma inovação relevante para aqueles anos, foi algo que revolucionou e até hoje continua a ser a única vacina no mundo obtida sinteticamente, embora existam outros injetáveis para combater este microrganismo, explicou o especialista.
“Nos últimos 15 anos trabalhámos diligentemente numa vacina candidata contra pneumococos, um projecto novo mas complexo”, afirmou, destacando entre os sucessos mais recentes as vacinas Sovereign, que contribuíram para o controlo da pandemia de Covid-19.19 .
Ressaltou que possuem uma combinação interessante entre a capacidade de inovar, desenvolver novos injetáveis e produzi-los para atender às necessidades do sistema nacional de Saúde Pública.
A pandemia deixou-nos, destacou, muitas lições para a nossa área, tendo em conta que há vacinas no mundo que não constam do esquema nacional de imunização devido aos seus elevados preços no mercado internacional, razão pela qual o interesse do país em ter o próprio.
“A ciência nos salvou como país, portanto, devemos continuar investindo na ciência e no desenvolvimento dessas instituições”, afirmou o cientista.