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quinta-feira, 18 setembro, 2025

Cuba – 10 anos após a visita do Papa Francisco

Havana (Prensa Latina) Há dez anos, nesta mesma data, o Papa Francisco chegou a Cuba. Comemoramos este aniversário no contexto de um 2025 singular, quando comemoramos 90 anos de relações diplomáticas ininterruptas entre Cuba e a Santa Sé e, meses atrás, Jorge Mario Bergoglio faleceu lamentavelmente.

Por Enrique González

Colaborador da Latin Press

O Papa Francisco visitou Cuba de 19 a 22 de setembro de 2015, um evento histórico que marcou a terceira visita à ilha em um período relativamente curto: 17 anos. Poucos acreditavam em tal possibilidade na época, pois uma visita de Bento XVI depois da de João Paulo II já era inimaginável.

Há opiniões divergentes nos círculos religiosos, acadêmicos, políticos e diplomáticos sobre se essas três visitas foram obra do “acaso” ou, ao contrário, representaram uma continuação da orientação da Santa Sé para o nosso país.

Este não é o tema deste artigo, mas acreditamos que não tenha sido coincidência. Francisco chegou a Cuba como uma continuação dos caminhos trilhados por João Paulo II e Bento XVI.

A visita também ocorreu no contexto do 80º aniversário das relações diplomáticas entre Cuba e a Santa Sé, e em um momento posterior à chamada mediação do Vaticano no processo de restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos.

Francisco foi convidado ao nosso país pelo então presidente, general do Exército Raúl Castro, que fez uma visita privada ao Papa em maio de 2015. O líder da Revolução Cubana visitou o Papa para agradecê-lo pessoalmente por seu papel no processo de reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos.

Entre os antecedentes da visita, seria apropriado mencionar como, desde o início de seu pontificado, alguns meios de comunicação tentaram “forçar ideologicamente” a parcialidade do papa argentino em relação a Cuba, manipulando, até certo ponto, um pequeno livro escrito em 1998 pelo então cardeal Jorge Mario Bergoglio, intitulado “Diálogos entre João Paulo II e Fidel Castro”, escrito no contexto da histórica visita de João Paulo II a Cuba.

Nesta obra, Bergoglio concentrou suas ideias nos ensinamentos de Wojtyla durante a viagem deste à ilha, destacando a importância do diálogo honesto e transparente entre o Vaticano e o governo cubano.

Certamente, como João Paulo II, ele criticou alguns aspectos do “socialismo cubano”. Mas, ao mesmo tempo, defendeu a missão da Igreja em Cuba e se opôs ao bloqueio dos EUA contra nosso país.

Ele enfatizou como a visita de João Paulo II abriu canais de comunicação e fomentou um diálogo importante para o bem-estar do povo cubano. Bergoglio valorizou a atitude de diálogo e respeito entre João Paulo II e Fidel Castro, e enfatizou como esse diálogo foi fundamental para a futura coexistência e colaboração entre as duas partes.

Ou seja, ao contrário das tentativas de “exploração ideológica”, o livro refletia o pensamento de Bergoglio sobre o papel do diálogo em contextos sociais e políticos relativamente complexos como o nosso. O ensaio ainda enfatizava como o papa polonês, na época, ajudou a abrir o diálogo entre o cristianismo e o marxismo.

Como outro precedente válido, devemos considerar o pensamento de Bergoglio. Francisco chegou a Cuba como o primeiro papa jesuíta latino-americano. Seu pensamento foi forjado na Argentina na década de 1970, com base no que foi chamado de “Teologia do Povo”. Uma teologia baseada na importância dos movimentos populares para alcançar novos objetivos.

Ele também foi influenciado pelo peronismo e sua defesa dos interesses populares, dos humildes. Tudo isso, somado a uma referência à Revolução Cubana, marcou sua formação intelectual latino-americana, pelo menos teoricamente. Nosso povo e nosso projeto social sempre lhe interessaram.

Francisco chegou a Cuba em 19 de setembro de 2015, com certas tendências progressistas, diferentemente das ideias conservadoras e anticomunistas com as quais João Paulo II chegou. Ele também chegou em uma época diferente e em um contexto com o precedente de duas visitas papais e uma cultura nacional bem desenvolvida nesse sentido.

Durante quatro dias, ele realizou sua peregrinação por Cuba como “Missionário da Misericórdia”, celebrando três missas: em Havana, Holguín e Santiago de Cuba (Basílica Menor do Santuário Nacional de Nossa Senhora da Caridade do Cobre). A celebração incluiu homilias repletas de mensagens de paz, amor e esperança. O presidente cubano esteve presente em todas elas, demonstrando respeito ao Papa e à Igreja Católica.

A acolhida popular dada a Francisco pelo povo cubano, crentes e não crentes, foi ampla e profunda.

O Papa Francisco manteve um encontro privado no Palácio da Revolução com o então presidente Raúl Castro, discutindo, entre outros temas, o “bom estado e o desenvolvimento favorável” das relações bilaterais entre Cuba e a Santa Sé, no contexto do 80º aniversário de relações diplomáticas ininterruptas entre os dois Estados.

Um momento particularmente significativo foi a visita de cortesia ao líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz, realizada em sua casa. Os dois discutiram temas relacionados à preservação da paz, à sobrevivência humana e à causa dos pobres. O encontro durou aproximadamente 40 minutos e transcorreu em um clima de amizade e respeito.

Cuba, por sua vez, ofereceu a Francisco o melhor de sua cultura e de seu povo. O Ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez Parrilla, disse: “Este é um evento extraordinário e memorável.” “Cuba recebe o Papa Francisco com apreço, respeito e hospitalidade. Trabalhamos para tornar a visita memorável, para que seja uma visita que ele merece por seu pontificado, por suas posições, que inspiram admiração na América Latina e no Caribe, e por ser o primeiro Papa latino-americano.” De fato, foi.

Em 22 de setembro de 2015, a aeronave da Alitalia, com o Papa e sua comitiva a bordo, decolou às 12h30, horário local, do Aeroporto Internacional Antonio Maceo, em Santiago de Cuba, com destino aos Estados Unidos, na segunda etapa de sua histórica viagem.

Sem dúvida, sua presença em Cuba marcou um novo passo na consolidação da aproximação entre Igreja e Estado, juntamente com um chamado para continuar superando divisões e ressentimentos do passado.

A viagem foi um momento importante na relação entre Francisco e Cuba, que se deu por meio de uma aproximação profunda e sensível e de um sincero respeito pela história e pela dignidade do povo cubano.

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