Por Manuel Robles Sosa Lima (Prensa Latina) ‘Não é para Vizcarra, é para meu país’, diz um dos cartazes que se repete nas inúmeras e raras vezes vistas marchas de protesto que percorrem quase todos os estratos sociais em rejeição ao novo presidente do Peru, Manuel Merino.
Os protestos, que tradicionalmente acontecem no centro da capital, se espalharam por quase todos os bairros de Lima, tornando inviável um governo que até quinta-feira passada carecia de reconhecimento internacional, exceto em casos menores, como o Paraguai.
A fragilidade da nova administração, chefiada pelo presidente do impopular Congresso da República, é evidente, pois nem mesmo em seu partido (Acción Popular) ele tem apoio unânime, de modo que nos círculos políticos e jornalísticos se fala de sua aposentadoria e se está considerando fórmulas para que isso aconteça.
Merino instalou seu gabinete, precedido por um veterano político conservador, Ántero Flores-Aráoz, cujo estilo pitoresco fez dele um personagem de imitadores em programas de TV de comédia anos atrás e que foi Ministro da Defesa durante o último mandato do neoliberal Alan García (2006-2011).
Além disso, figuras de extrema direita, economistas neoliberais e elementos pró-negócios se juntaram ao grupo. Tudo isso provocou a indignação dos peruanos, que consideram que pretendem usar o Congresso para estabelecer uma mão forte.
Entretanto, vários analistas acreditam que a crise política reflete outra crise profunda, causada pelo esgotamento do modelo neoliberal, que provou ser um fracasso devido à ausência de soluções oportunas para evitar a morte de peruanos pelo Covid-19.