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Sputnik – As relações comerciais entre Brasil e Oriente Médio têm visto um aumento significativo nos últimos tempos, mas poderiam ser “ainda mais dinâmicas” se firmadas nos moldes dos acordos bilaterais do Mercosul, afirma Tamer Mansour, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) à Sputnik.
Nos últimos dias, autoridades brasileiras lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin retornaram à Arábia Saudita para dar seguimento a acordos discutidos em novembro do ano passado durante a visita do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
O Brasil e a Arábia Saudita contam com uma relação comercial de mais de 50 anos, quando na esteira da Crise do Petróleo, em 1970, “a Arábia Saudita teve a iniciativa de trocar petróleo por frango halal brasileiro”, afirma Tamer Mansour.
Desde então houve uma parceria estratégica entre os dois países, na qual o Brasil contribui para a segurança alimentar dos povos árabes e, em troca, recebe hidrocarbonetos (petróleo, gás natural e carvão) e fertilizantes, “essenciais à competitividade do nosso agronegócio”.
No entanto, a relação econômica entre as duas regiões não se limita somente ao comércio de produtos. Mansour sublinha que há também um bom fluxo de investimentos entre o Brasil e os países árabes.
“Calculamos que entre 2004 e 2019 os países árabes aportaram um total de US$ 13,71 bilhões [R$ 72,14 bilhões] em investimentos no Brasil”, disse Mansour. Desse montante, cerca de US$ 1,69 bilhão (R$ 8,89 bilhões) são de origem saudita.
Por outro lado, o Brasil faz aportes na região. Duas companhias de alimentos brasileiras, a BRF e a JBS, têm unidades produtivas na Arábia Saudita. Os fundos de investimento brasileiros ainda podem participar de iniciativas do Fundo de Investimento Público (PIF, na sigla em inglês), fundo soberano da Arábia Saudita. Dessa forma, explica Mansour, suas atividades ficariam lastreadas “pelo que talvez seja o maior conjunto de ativos administrados em todo o mundo”.
Acordos Mercosul e mundo árabe
Para a CCAB, no entanto, as relações comerciais e de investimento do Brasil com todo o mundo árabe “poderiam ter um andamento ainda mais dinâmico se o Brasil, no contexto do Mercosul, efetivasse mais acordos de livre-comércio com os países árabes“.
Atualmente, detalha Mansour, existe apenas um acordo bilateral em vigor: Mercosul-Egito. Em vigência desde 2019, o acordo vem “transformando a relação comercial do Brasil com o país norte-africano, introduzindo no comércio bilateral um conteúdo até então inédito”, destaca o secretário-geral.
“Hoje o Egito é um fornecedor relevante de frutas ao Brasil. Na contrassafra brasileira de laranjas, por exemplo, os brasileiros essencialmente consomem laranjas egípcias.”
Essas negociações bilaterais do bloco com outros membros da Liga Árabe já existem, diz Mansour, mas estão paradas “por sensibilidades”. “Elas precisam ser retomadas.”
É o caso, por exemplo das tratativas Mercosul-Conselho de Cooperação do Golfo, Mercosul-Marrocos e Mercosul-Líbano.
O Conselho de Cooperação do Golfo é uma organização de integração econômica composta por Omã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar, Bahrein e Kuwait.
Um dos principais pontos ignorados por empresários brasileiros, diz o especialista, é olhar para os países árabes apenas como um mercado consumidor. Na verdade, os países do golfo podem atuar como uma plataforma dos produtos brasileiros para o resto do mundo, garante o secretário-geral.
“O golfo fica no meio da maior rota de comércio do mundo, entre Ocidente e Oriente. Fica próximo da África Oriental, que registra expressivas taxas de crescimento e renda. Fica a algumas horas da Europa por avião e a poucos dias de navio.”