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quarta-feira, 25 dezembro, 2024

Cimeira do G20: O desafio entre declarações e resultados concretos

Havana (Prensa Latina) A Cúpula dos Líderes do G20 no Brasil mostrou um cenário de contradições entre as metas anunciadas e as práticas dos países mais desenvolvidos, o que põe em dúvida o cumprimento do que foi acordado em questões cruciais que afetam o mundo, disse o brasileiro. cientista político Beto Almeida.

Por Orestes Hernández Hernández

Colaborador da Imprensa Latina

A título de ilustração, citou a agenda climática, que constitui um dos imperativos dos governos, das sociedades e da comunidade mundial, em geral,, mas que permanece entre as grandes questões sem soluções aprofundadas.

Em conversa com a Prensa Latina, o jornalista também indicou que antes do início do conclave se notavam contradições entre os objetivos divulgados pelos organizadores e as políticas das nações com maior peso geopolítico, entre elas, a agenda climática.

Sobre o assunto, o analista internacional deu o exemplo de como antes de chegar à Cúpula – realizada nos dias 18 e 19 de novembro -, o presidente americano, Joe Biden, prometeu contribuir com 500 milhões de dólares para a recuperação da Amazônia e, finalmente, apenas 50 milhões foram realizados.

“O que é muito revelador da real vontade de recuperação climática por parte da maior potência capitalista do mundo nesta questão, uma vez que a soma corresponde ao equivalente a um dia de despesas militares em apoio a Israel no genocídio na Palestina,” contrastou. O G20 é formado por Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, República da Coreia, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, África do Sul e Turquia, mais duas organizações regionais: a União Africana e a União Europeia.

Criado em 1999, a soma dos seus habitantes constitui dois terços da população mundial e 85 por cento do Produto Interno Bruto mundial.

Segundo Almeida, o firme compromisso com a questão climática é altamente discutível, porque a vontade e as ações concretas para alocar recursos para esse fim na prática continuarão a ser um problema sem uma solução fundamental ou resultados eficazes dado a magnitude da crise.

O mundo, disse ele, passa por uma situação crítica devido a um modo de produção que causa poluição do ar, envenenamento de recursos hidráulicos e desertificação de solos agrotóxicos que causam milhões de mortes e doenças a cada ano, sem sinais de que os governos dos países os países mais desenvolvidos querem fazer progressos na mitigação destes problemas.

Almeida alertou que esta questão não pode ser resolvida apenas com a introdução de novas tecnologias como preconiza o documento final da Cimeira, porque “é necessária uma discussão séria e aprofundada que promova mudanças fundamentais nos conceitos de produção para alcançar o equilíbrio ambiental”.

Mencionou a utilização de recursos biológicos na agricultura sem manipulação genética nas mãos de multinacionais, a maioria delas pertencentes a países que dominam a mesa do G20 e que causam milhares de mortes todos os anos por doenças não transmissíveis em nações pobres.

Para fazer face às alterações climáticas, os membros da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovaram o Acordo de Paris na COP21, em dezembro de 2015, com vista a reduzir o aumento da temperatura global para menos de dois graus Celsius e, dados os graves riscos, esforçam-se para atingir 1,5.

Enfatiza-se que a implementação do Acordo de Paris é essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e serve como um roteiro para ações que irão reduzir as emissões e construir resiliência climática.

Contudo, especialistas no assunto concordam que ações urgentes são essenciais para mitigar os efeitos, mas observam certa inação por parte dos países com maior desenvolvimento industrial.

Antonina Ivanova, pesquisadora da Universidade Autônoma da Baja California Sur, reconhece que embora os ODS tenham fornecido uma plataforma para criar um apelo universal à ação para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir que todas as pessoas desfrutem de paz e prosperidade, as condições do processo de produção atual não são sustentáveis.

Em artigo recente sobre o assunto, o professor também destacou que o sistema atual deteriora o meio ambiente, provoca insuficiência de água potável e o que existe é utilizado de forma irracional na produção em massa de alimentos, em granjas pecuárias e avícolas e em currais, o que gera mutações de consumo. bactérias e vírus que criam novas doenças.

O especialista destacou ainda que “o rápido crescimento da população mundial, a expansão descontrolada de áreas urbanas com poucos ou nenhuns serviços de saúde, a desflorestação descontrolada que nos aproxima dos habitats naturais das pragas” são também condições que colocam os animais em risco. objetivos propostos e agravar a crise climática.

A SOLUÇÃO PARA A FOME E A POBREZA NUM LABIRINTO

Almeida recordou outra das promessas do presidente norte-americano, que antes de chegar ao conclave revelou a decisão de repor o Fundo da Associação Internacional de Desenvolvimento do Banco Mundial, como uma contribuição dos Estados Unidos para a Aliança Global contra a Pobreza e a Fome.

Mas, “como é que vamos fazer uma aliança contra a pobreza e a fome se estamos a financiar a morte e a destruição na Palestina, o que é igual à pobreza e à fome?”

A respeito deste assunto, destacou que nos preparativos para a Cúpula houve forte pressão sobre o Brasil para que a questão do genocídio em Gaza fosse ignorada.

“Esta questão não foi incluída na carta social do G20 entregue aos organizadores. A razão é que muitas das organizações não governamentais, que redigiram este documento, são financiadas pela “Sociedade Aberta” do magnata George Soros, um aliado incondicional de Israel.

Biden chegou ao Rio de Janeiro, local do encontro, como um presidente derrotado nas eleições, e oferecendo através de promessas não cumpridas pouco compromisso com ações com paz, com a erradicação da fome e da pobreza.

Almeida descreveu a adesão dos Estados Unidos à Aliança Global contra estes flagelos como “questionável, insincera e hipócrita”.

UMA CIMEIRA VAZIA DE PROJETOS INTEGRATIVOS

Almeida, também presidente da emissora de televisão “Ciudad Libre” de Brasília, expressou sua opinião sobre o balanço da cúpula do G20.

“Esses países, ao contrário do que foi alcançado na reunião do Grupo Brics ampliado em Kazan, há algumas semanas, concluíram sem projetos concretos de integração produtiva”, disse ele.

Fazendo uma comparação programática entre os dois esquemas, você percebe uma diferença muito clara.

“Os Brics tomaram ações concretas para promover a criação de um banco para apoiar projetos de expansão produtiva que gerem empregos, superem os níveis de desenvolvimento de muitos países, intercomunicação e integração de diversas regiões do mundo”, frisou.

Referiu-se ao porto recentemente inaugurado pelo presidente chinês Xi Jinping no Peru, que permitirá a construção de uma rota ferroviária que ligará o Atlântico ao Pacífico, favorecendo o crescimento do Sul Global.

“Nesta cimeira do G20 não há notícias de projetos desta natureza, mas pelo contrário mantêm-se ideias conservadoras, protecionistas e seletivas”.

Observou que no G20 há países que promovem bloqueios como o que os Estados Unidos mantêm contra Cuba, ou medidas contra a Venezuela, o Irão e a Nicarágua, por isso não se pode esperar que “esses países poderosos tenham uma agenda construtiva e projetos que ajudam o desenvolvimento.”

“Será então possível acreditar que estes países têm um compromisso sincero com uma aliança contra a fome e a pobreza? Não, de jeito nenhum”, afirmou o analista internacional.

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