A economia chinesa voltou a surpreender o mundo ao registrar um crescimento de 5,2% no segundo trimestre de 2025, mesmo após anos enfrentando as pressões de uma guerra comercial iniciada pelo governo de Donald Trump. O crescimento está acima das expectativas do mercado e reflete uma estratégia clara de resiliência frente ao chamado “tarifazo”, o pacote de tarifas que visava conter a ascensão industrial e tecnológica da China. Em vez de ceder, o país asiático diversificou mercados, fortaleceu a indústria interna e buscou alternativas multilaterais de cooperação, sobretudo entre os BRICS. A aposta deu resultado.
O crescimento chinês neste trimestre foi impulsionado, sobretudo, pelo setor externo. As exportações aumentaram mais de 5,8% em relação ao ano anterior, com destaque para a venda de veículos elétricos, maquinário de alta precisão e semicondutores. A China vem demonstrando que é possível não apenas resistir a sanções unilaterais vindas de potências como os Estados Unidos, mas crescer mesmo sob elas. Isso é particularmente importante num mundo cada vez mais marcado por disputas econômicas que se travam em torno de cadeias de suprimentos, propriedade intelectual e controle tecnológico.
A resistência ao tarifazo de Trump não se deu apenas por uma política reativa. Ao contrário, a China apostou em planejamento de longo prazo. Investiu em inovação, direcionou crédito público para setores estratégicos e intensificou relações comerciais com países do Sudeste Asiático, África e América Latina. Enquanto isso, os Estados Unidos, presos a uma política de confronto, viram parte de sua própria indústria sofrer com o aumento de preços e com a ruptura de cadeias globais. A guerra comercial, que pretendia conter o avanço chinês, acabou reforçando a necessidade de países como a China buscarem autonomia e novos arranjos econômicos fora do eixo tradicional EUA-Europa.
Essa experiência é profundamente significativa para países como o Brasil. Em vez de depender exclusivamente de mercados tradicionais e ceder diante de pressões externas, a lição é clara: resistir com inteligência e articulação internacional pode garantir não apenas soberania, mas também crescimento. O cenário global não é mais dominado por um único centro de poder, e os BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — surgem como uma alternativa viável de integração econômica e diplomática entre países do Sul Global.
O caso chinês demonstra que a soberania nacional, num mundo globalizado, não significa isolamento. Ao contrário: trata-se de construir as próprias bases industriais, tecnológicas e diplomáticas de forma sólida o suficiente para negociar de igual para igual. Significa não aceitar passivamente as imposições de potências hegemônicas, mas encontrar alianças alternativas e fortalecer o próprio mercado interno. O Brasil tem potencial para isso. Com recursos naturais abundantes, capacidade produtiva e um mercado interno robusto, pode e deve usar os BRICS e outras plataformas internacionais para articular sua inserção global com independência e estratégia.
O crescimento da China em meio à guerra tarifária é, portanto, mais do que um dado econômico. É um sinal claro de que resistir às imposições imperialistas e apostar em um modelo próprio de desenvolvimento é possível — e necessário. Não se trata apenas de proteger setores econômicos, mas de afirmar uma visão de mundo em que os povos possam decidir seu destino sem serem reféns de interesses alheios. A soberania, nesse contexto, é uma escolha política, e também uma condição para o futuro.