Por Fausto Triana
Entretanto, o fato de que Piñera atingisse preferências na ordem de 42 por cento e o senador independente Alejandro Guillier apenas de 22 por cento, não é suficiente para determinar o próximo inquilino do Palácio de La Moneda.
Caso for imprescindível, se efetuará em 17 de dezembro com a esperança das forças de centro-esquerda de fechar fileiras e derrubar ao antigo inquilino do Palácio de La Moneda (2010-2014), quem se aponta no coletivo do Chile Vamos.
A questão é muito mais complexa. O senador Guillier conta com o apoio do bloco de centro-esquerda Nova Maioria (no poder), mas sem a Democracia Cristã (DC), que vai às eleições de forma isolada.
A senadora Carolina Goic, atual líder da DC, também não parece muito convicta de se somar ao conglomerado que respalda ao Guillier, fato que para alguns se trata de uma estratégia com o objetivo de conseguir espaços políticos.
Em solitário, a DC não teria a mesma influência e, a esperança de que Goic for a carta competidora de Piñera em segunda volta é muito longínqua.
Observadores consideram que o ex-governante decidiu retornar a La Moneda desde o próprio dia em que entregou a banda presidencial à socialista Michelle Bachelet.
Com aparições furtivas no início, foi ganhando aos poucos.
Piñera deixou sempre o véu enigmático de seus eventuais duvidas a retornar à arena eleitoral e não perdeu ocasião para atirar estocadas contra a administração de Bachelet, sempre que viu a possibilidade de obter rendimentos.
A enorme popularidade da chefa de Estado, triunfante nas urnas com mais de 60 por cento, decaiu estrepitosamente como resultado de um escândalo do tráfico de influência e corrupção de sua nora e seu filho Sebastián Dávalos.
O problema com o Dávalos e sua esposa estalou em pleno período de férias em 2015 (verão austral). O pior é que trouxe arrastos. Foi enlodado com a crise a respeito dos políticos e a corrupção.
Embora Bachelet, após o mau momento pessoal, reagiu com energia e fez tudo a seu alcance pela transparência e probidade, não pôde fugir da surriada de críticas da direita que era até esse instante o foco do assunto.
O programa de reformas da Presidenta foi deste jeito escolhido como cabrito expiatório da desaceleração, apesar de que a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) advertiu de um panorama sombrio para toda a região.
PIÑERA E ESPECTRO DE COMPETIDORES
A economia do Chile mostra um panorama mais alentador face 2018, mas mantém um olho aberto ante as eleições presidenciais.
Sem mencionar diretamente a candidato algum, o Banco Central assinalou de todo jeito que o clima de negócios e investimentos dependerá em certos domínios dos resultados das eleições.
No seu Relatório de Percepção de Negócios, apoiado numa enquete com especialistas, exprime um sentir focado em 2018, algo que a própria Cepal adiantou há vários meses.
Segundo a Cepal, as perspectivas da região para o próximo ano são promissoras em linhas gerais quando cederá a crise da desaceleração como conseqüência dos preços das matérias primas.
Uma questão essencial que com olhar longo, trata de capitalizar Sebastián Piñera. Sua imagem de homem de negócios de êxito lhe favorece para consolidar a idéia de ‘salvador da economia chilena’.
‘Em relação à melhora nas perspectivas para 2018, a maioria dos consultados liga o desempenho de seus negócios, e em alguns casos a materialização de projetos de investimento, aos resultados eleitorais’, anotou o prova litográfica do Banco Central.
Além dos senadores Guillier e Goic aparecem pela terceira vez nas eleições Marco Enríquez-Ominami, pelo Partido Progressista (PRO), quem subiu nas enquetes sem muito impacto.
Beatriz Sánchez, aspirante pela Frente Ampla (ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL), uma coalizão de pequenos partidos e movimentos de esquerda, seguem ao Guillier nas sondagens a uma distância de pelo menos 10 pontos percentuais.
Sánchez, uma jornalista que surgiu junto com a criação há menos de um ano da ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL, tenta surpreender se tornando na opositora de Piñera. Sua inexperiência poderia virar em erro.
Enríquez-Ominami é ainda um jovem político que vem das fileiras do jornalismo embora com a vantagem de conhecer de cor o ambiente das urnas. É filho do Miguel Enríquez, assassinado líder do Movimento de Esquerda Revolucionário.
Embora com tropeços mútuos, Guillier parece inclinado a dar sua pancada nas costas ao Goic e vice-versa, se algum dos dois chegar à segunda volta. De forma mais vertical Enríquez-Ominami o anunciou ao senador independente.
Beatriz Sánchez, porém, reitera que prefere fazer como no futebol, esperar às semifinais, com a idéia de poder ser ela quem acompanhará a Piñera.
Portanto, não se pode falar ainda de um frente comum contra o magnata, quem igual, segundo as consultas, ganharia sem problemas a presidência da República.
Para completar o espectro de candidatos, estão os ‘outsiders’, bem à esquerda o senador Alejandro Navarro (País) e Eduardo Artés (União Patriótica), e na ultra-direita José Antonio Kast.
Paradoxalmente, Kast conseguiu até cinco por cento de respaldo nas enquetes com suas idéias de reconhecimento a Augusto Pinochet e o passado de ditadura do Chile; contra o aborto sancionado em lei para três causais e o projeto de matrimônio igualitário.
Tudo indica que Kast dará seus votos a Piñera em segunda rodada, mas não fica claro se Navarro e Artés farão o mesmo com o aspirante de centro-esquerda que conseguir chegar.
A interrogante que não deixa de inquietar a uma parte dos mais de 14 milhões de chilenos com direito ao voto é se, de fato, será necessário alargar o processo até 17 de dezembro.
De momento, salvo resultados inesperados, o prognóstico aponta a que a cor política do Chile trocará em 11 de março de 2018, quando Bachelet entregará o mando, presumivelmente outra vez ao Sebastián Piñera.