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sexta-feira, 29 março, 2024

Chávez, 66 anos: “Um líder que divide a História em duas, um antes e um depois”

Mural em homenagem a Hugo Chávez em Caracas, capital da Venezuela; nesta terça (28), o ex-presidente completaria 66 anos – Juan Barreto/AFP
Em comemoração ao aniversário do comandante, ministro venezuelano e dirigentes populares relembram suas histórias
Brasil de Fato 

O líder político latino-americano Hugo Chávez (1954-2013) completaria 66 anos nesta terça-feira, 28 de julho. Um dia antes, na última segunda-feira, o Brasil de Fato realizou uma transmissão ao vivo especial, junto com a Alba Movimentos, para recordar a trajetória e o legado do ex-presidente venezuelano.

Participam do “Especial Chávez Vive” o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, e o membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stedile; além de Manuel Bertoldi, representante da Alba Movimentos, e Claudia de La Cruz, integrante da Assembleia Internacional dos Povos. A apresentação foi realizada pela jornalista Michele de Mello, correspondente do Brasil de Fato em Caracas.

Durante o evento, Chávez foi relembrado pelo seu carisma, humildade, alegria e solidariedade, mas também por sua valentia frente aos constantes ataques dos Estados Unidos, e pela sua visão revolucionária à frente da República Bolivariana da Venezuela, a qual comandou até sua morte, em 2013.

Na ocasião, os participantes recordaram a participação de Chávez em projetos estratégicos desenvolvidos na Venezuela e em territórios intercontinentais, como a criação da Escola Latino-americana de Agroecologia e outros comentados a seguir.

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Petrobronx

Claudia de la Cruz, militante da Assembleia Internacional dos Povos, recordou a visita de Chávez ao Bronx, no subúrbio de Nova York, em 2005, após ter participado da 60° Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Ela relembra o encontro com o então presidente venezuelano durante um evento com militantes negros e latinos dos EUA e a surpresa de ter recebido um líder de Estado em seu bairro.

“Isso é muito significativo, porque nos Estados Unidos os presidentes não frequentam os bairros. E esse bairro só foi visitado por dois presidentes, o primeiro, Fidel, o segundo, Chávez”, diz Claudia.

Naquela ocasião, como narra Claudia, Chávez ouviu dos integrantes da comunidade que uma de suas maiores necessidades era enfrentar o frio, pois não podiam pagar as altas tarifas de energia elétrica para ter calefação em suas casas.

Após esta visita e até a morte de Chávez, entre 2005 e 2013, quase dois milhões de norte-americanos se beneficiaram do programa de fornecimento gratuito de combustível para calefação implementado pelo presidente venezuelano.

O projeto atendeu habitantes de 25 estados da nação norte-americana e foi desenvolvido através da Citgo, atualmente embargada pelas sanções do governo estadunidense à Venezuela.

“Um projeto solidário, um projeto humano, com o caráter bolivariano de estender a mão. E assim começa o projeto de PetroBronx, um projeto que se estendeu do Bronx ao sul dos Estados Unidos, que é um espaço geográfico onde vive muita gente pobre, muita gente negra e latina. E que deu a milhares de pessoas a oportunidade de sobreviver ao frio”, resume a militante.

Nesse sentido, Claudia de la Cruz afirma que a solidariedade de Chávez é um dos maiores valores transmitidos por ele aos militantes de diversas gerações e países.

“Essa ação e muitas outras ações de solidariedade da Revolução Bolivariana comandada por Chávez são coisas que ficam na memória e fazem parte dos aprendizados que deveríamos multiplicar sempre”, conclui.

Há uma valentia revolucionária, subversiva, muito profunda em Chávez – Claudia de la Cruz

Escolas Latino-americanas de Agroecologia (ELAA)

João Pedro Stedile, da direção nacional do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) recorda a importância de Chávez para a criação das Escolas Latino-americanas de Agroecologia (ELAA), um projeto da Via Campesina.

Como recapitula Stedile, a proposta nasceu durante a visita de Chávez ao Brasil, no contexto do Fórum Social Mundial, também em 2005. Naquela ocasião, o líder venezuelano visitou um dos acampamentos do MST, localizado no município de Tapes, no Rio Grande do Sul.

O dirigente do MST relembra com alegria a visita de Chávez ao território do movimento: “Em clima tão fraterno, ele colocou o chapéu de camponês brasileiro, o pano verde da Via Campesina, passamos muito bem o dia. Nessa cerimônia com a Via Campesina lançamos o que seria um grande plano, as Escolas Latino-americanas de Agroecologia”.


Hugo Chávez durante a visita ao Assentamento Lagoa do Junco, do MST, no Rio Grande do Sul (2005) / Jefferson Fernandes/AFP

A primeira experiência do ELAA se deu no assentamento Lagoa do Junco, visitado pelo comandante. Hoje, o assentamento carrega seu nome, como conta Salete Carolo, da direção nacional do MST:

“Um ano após a sua morte, nós decidimos fazer uma homenagem a Hugo Chávez, por reconhecer todos os valores e legado que ele nos deixou. E rebatizamos o assentamento para Assentamento Hugo Chávez Lagoa do Junco”.

A dirigente comenta a importância de Chávez para os movimentos populares da região que orientou a homenagem.

“Chávez partiu muito cedo, mas nos deixou um grande legado, um grande valor, que é a defesa da soberania nacional dos nossos territórios e do nosso país”, diz.

Na Venezuela, um ano após a visita do líder ao Brasil, foi criado o Instituto de Agroecologia Paulo Freire (IALA). A experiência das Escolas Latino-americanas de Agroecologia se estenderia, posteriormente, a outros países como Paraguai e Nicarágua.

“Quando veio ao Brasil, foram momentos muito alegres, talvez os momentos mais felizes que tive em ambientes políticos foram com a presença de Chávez – João Pedro Stedile”
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União cívico-militar

Para Jorge Arreaza, ministro de Relações Exteriores da Venezuela, um dos maiores legados do líder da Revolução Bolivariana foi a reforma das Forças Armadas empreendida a partir do Ministério do Poder Popular para a Defesa (MPPD) criado por Chávez.

Segundo o chanceler Arreaza, a reestruturação da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), cuja uma das estruturas são as Brigadas Bolivarianas, integradas por civis, é um dos pilares que sustentam a continuidade do projeto de Chávez, hoje liderado por Nicolás Maduro.

“Neste sentido, aprendemos muito sobre nossas Forças Armadas. Não posso negar que, nos últimos 5 anos, quando império passou a acreditar que com a morte de Chávez, ele desapareceria. Isso é mentira, Chávez existe. Quando dizemos que Chávez vive, é porque ele está vivo e isso é o que nos dá resistência. E nas Forças Armadas Hugo Chávez fez um trabalho de formação, de reestruturação, reorganização, de mudança da doutrina, da pedagogia. E elas vêm sendo o grande pilar nestes meses e anos de ataques militares e mercenários”, diz o ministro.

Arreaza reitera também que esta união entre militares e civis em defesa da pátria venezuelana só foi possível porque Chávez reunia duas grandes qualidades, a primeira delas, uma visão que unia passado e futuro.

“Hugo Chávez vivia seu presente trazendo do passado o que tinha que alimentar o projeto comum de um povo, algo que vem de sua história. Mas, como Bolívar, Chávez viajava ao futuro. Eu me lembro uma vez que Chávez derrubou os paradigmas e modelos de futuro. Porque, ao falar de futuro falavam de 2020, de 2025, com carros voando, pessoas com alimentação tecnizada, como o senhor Tesla, pois [em referência a Elon Musk]. E Chávez dizia que quando ele ia a uma comuna que funcionava bem, era como uma viagem ao futuro. Ele submergia nas raízes populares da organização e dizia que ali estava o futuro”, conta o chanceler.

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“E, ao ser presidente, também não deixou de ser povo, e pôde governar com o povo. Isso é o bonito de Chávez – Jorge Arreaza”

A segunda característica de Chávez, segundo Arreaza, era a ideia de que uma independência verdadeira dependia do vínculo com o povo, sua origem e base política.

“Não depender de nada nem de ninguém a não ser dos nossos povos. Que sejam os povos os que mandam, isso é Chávez. De modo que isso não é muito difícil se nos encontramos com as nossas bases, com os nossos povos, se não deixamos de ser povo em nenhuma responsabilidade, como Chávez fez. Ele continuava conversando com os estudantes, com os soldados, com os tenentes, nunca deixou de ser povo, de sentir as dores do povo, as necessidades do povo. E, ao ser presidente,  também não deixou de ser povo, e pôde governar com o povo. Isso é o bonito de Chávez”, resume.


Debate realizado na última terça (27) pelo Brasil de Fato e Alba Movimentos recordou o legado de Chávez na América Latina / Brasil de Fato

Ao comentar o legado de Chávez, a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) afirma a importância de homenagear Chávez em um contexto como o atual, no qual a Venezuela é vítima de constantes ataques pelo governo dos EUA e seus aliados na região, como o governo de Jair Bolsonaro.

“Chávez sempre representou uma cooperação desinteressada e ninguém representou melhor do que ele o espírito libertador de Simón Bolívar – Dilma Rousseff”

Este é um encontro oportuno para reafirmar a clarividência de Chávez quanto ao caráter imperialista e golpista dos Estados Unidos, confirmado mais uma vez pelas denúncias recentes do FBI e do Departamento de Justiça na Lava Jato e de Elon Musk, na Tesla, grande multinacional norte-americana, no golpe perpretrado contra Evo Morales na Bolívia”, diz Dilma Rousseff.

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Em vídeo gravado para o evento, a ex-mandatária, assim como fizeram Claudia e os demais debatedores, ressalta o caráter solidário de Chávez e sua importância para a integração da América Latina.

“Em nosso continente, seu compromisso revolucionário se expressou na grande generosidade das suas relações com todos os povos oprimidos da América Latina. Chávez sempre representou uma cooperação desinteressada e ninguém representou melhor do que ele o espírito libertador de Simón Bolívar.”

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