Ao longo da vida, deparei com grandes nomes da história.
Com extraordinários revolucionários.
Do mundo.
E do Brasil.
Sobre alguns deles, escrevi.
Posso lembrar Marighella e Lamarca.
Ou Waldir Pires, com quem convivi anos, e sobre o qual fiz biografia, dois volumes.
Estive com o grande Apolônio de Carvalho.
Revolucionário de três mundos.
Com Prestes, mais de uma vez.
Fernando Santana.
Haroldo Lima.
Ana Montenegro.
Clara Charf.
Muitos, muitas e me desculpo por tantas e tantos não citados.
Jorge Ferrera, um revolucionário.
Não quer parecer grande.
No entanto, é.
Com uma característica singular: não tem qualquer preocupação em ocupar a ribalta.
Se a ribalta acontece, ele a ocupa com serenidade.
Sem pretensão de luzes.
É daqueles revolucionários dispostos à luta, sempre.
Destacar-se ou não, depende da luta, das tarefas confiadas a ele.
É uma consequência, só isso.
Fiquei comovido ouvindo-o contar, ele com 13 anos, e se movimentando, em Havana, militando com aquele idade, puto da vida com a invasão mercenária de Playa Girón.
Resistindo, correndo de um lado a outro, nas proximidades do Porto de Havana, e conclamando o povo à resistência à agressão dos EUA.
Dali em diante, jamais deixou a militância.
Ouvi tudo isso, agora, nessa viagem.
Eu já o conhecia de andanças pelo Brasil.
Pude vê-lo numa mesa, ao lado de Fidel Castro, em Salvador, creio 1993, quando o líder da Revolução Cubana recebeu representantes da esquerda baiana, ocasião em que pude entregar a Fidel um exemplar de “Lamarca, o Capitão da Guerrilha”.
Andei com Ferrera por Conceição do Coité, município do grande companheiro Assis.
Já esteve em outra terra, também querida, Santa Maria da Vitória.
A convite de Joaquim Lisboa Neto, o Kinkas.
Também conhecido como Quincas Berro D´Água tal a semelhança com o personagem de Jorge Amado.
Ele posterga um livro, pronto na cabeça dele.
Não escrito, no entanto.
Ferrera foi crescendo politicamente.
Recebendo mais e mais responsabilidades políticas.
Até que a Revolução considerou necessário municiar o militante de mais teoria.
A Revolução Cubana preserva a teoria.
Pode-se dizer esforço de preservação oriundo dos ensinamentos de Lênin, a ensinar que sem teoria revolucionária não há prática revolucionária.
Ou então dos passos seguidos por um dos mais profícuos intelectuais cubanos, e dirigente da Revolução, a ensinar sempre a necessidade do conhecimento, o grande José Martí.
Fidel sempre revelou: seu primeiro inspirador foi José Martí.
No ano de 1972, dão a notícia a Ferrera: iria passar um ano na União Soviética.
Cursar a Escuela Superior del Konsomol.
Foi uma experiência única.
Sentia-se reconhecido pela Revolução.
Isso lhe fazia bem.
Dava ainda mais disposição para a luta.
Passa 1972 e 1973 estudando.
Logo ao regressar, destacado para integrar a Direção Nacional dos Comitês de Defesa da Revolução.
Um ano depois, membro do Secretariado Nacional dos CDR.
As tarefas iam tornando-se mais complexas.
E mais arriscadas.
Entre 1978 e 1979, cumpre missão internacionalista.
O internacionalismo é prática permanente da Revolução Cubana.
É enviado ao Yêmen do Sul.
No momento da guerra entre aquele país e a Arábia Saudita.
Dirigia uma missão de assessoramento para a criação dos Comitês de Defesa Populares, inspirados certamente nos Comitês de Defesa da Revolução.