18.4 C
Brasília
quinta-feira, 28 março, 2024

Café Filho edição 2015

Mário Augusto Jakobskind

A história do Brasil através dos tempos retorna algumas vezes de forma repetitiva, mas sempre como farsa. A história dos vices deve ser lembrada. Em 1954, por exemplo, quando da crise que resultou no suicídio do Presidente Getúlio Vargas, que como se sabe acabou o banquete golpista, o vice Café Filho, egresso das fileiras do partido de Ademar de Barros, o tal político conhecido como “roubou, mas fez”, acabou se aliando aos golpistas, traindo o titular do cargo e o Brasil. Não durou muito tempo.

Na ocasião, Café Filho contava com o apoio ostensivo de uma mídia golpista, onde se destacava, além da Tribuna da Imprensa, o panfleto de Carlos Lacerda, o jornal O Globo, comandado pelo empresário Roberto Marinho.

Agora, em 2015, de novo surge um vice-presidente que já não esconde o desejo de ocupar o cargo no lugar da Presidente Dilma Rousseff. Trata-se de Michel Temer, considerado pelo agora pedetista Ciro Gomes como o “capitão do golpe”.

A imprensa nacional, de novo capitaneada por O Globo, passou a endeusar Temer, com matérias especiais sobre ele. E todas muito simpáticas ao vice-presidente, que passou a ser uma nova edição farsa de Café Filho.

Michel Temer dificilmente conseguiria chegar à Presidência numa eleição direta e por isso ele não se incomoda de coroar a sua carreira política ocupando o cargo máximo da nação brasileira através de um impedimento de Dilma Rousseff, impedimento, diga-se de passagem, sem base legal, a não ser pela investida de grupos que querem voltar a gerenciar o Estado brasileiro.

O “capitão do golpe” em outras ocasiões se alinhou com partidários do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quanto a isso não há dúvidas.

Conta-se até uma história nos bastidores políticos que quando remanescentes do PMDB fundaram o PSDB, Michel Temer queria aderir, mas foi aconselhado pelos próprios tucanos, entre os quais Mario Covas, a permanecer no PMDB, pois nesse partido poderia ser de utilidade para a nova sigla que estava sendo criada.  Temer sem pestanejar obedeceu a “ordem” e durante todos os anos manteve-se fiel ao PSDB, mesmo sendo vice-presidente numa composição com o PT.

Neste momento novamente os partidos de direita como o PSDB e o DEM, incluído também o PPS, um agrupamento formado por ex-comunistas, que como todos ex de qualquer espécie acabam se tornando muito mais realistas do que o rei, voltaram às boas com Eduardo Cunha. O deputado Roberto Freire que o diga. E tudo em nome do “pragmatismo” político por ter Cunha aceito o ritual de uma nova forma de golpe de estado.

Eduardo Cunha joga todas as suas cartas, mesmo queimado, na ascensão de Michel Temer. O presidente da Câmara acredita que se tal acontecer, o amigo e correligionário vai tentar de todas as formas livrar a sua cara. Faz parte do jogo do PMDB. Cunha sabe perfeitamente que se a decisão sobre o seu futuro ficar na dependência apenas da Justiça, poderá perder as bocas. É o que pelo menos se espera.

Ele conta com os correligionários, haja vista à ação vergonhosa de alguns deles na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, que fazem o possível e impossível para livrar a cara de Cunha.

É neste quadro lamentável que vive o Brasil. Diariamente tem havido surpresas, muitas delas negativas, inclusive o não pronunciamento judicial imediato sobre a continuidade de Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados e até mesmo a sua prisão, já alardeada até pelo peemedebista Rena Calheiros, presidente do Senado.

Café Filho, ou melhor, Michel Temer aguarda com ansiedade o desenrolar dos acontecimentos e sem perder tempo já está pensando na formação de seu ministério para levar adiante o seu projeto Brasil, apoiado pelo PSDB. Tanto assim que nos bastidores já se fala até na indicação do senador José Serra, o tal político mencionado no site WikiLeaks como prestador de serviços às multinacionais petrolíferas, entre as quais a Chevron.

Aliás, vale uma pergunta que não quer calar: Serra seria Ministro de um governo brasileiro ou funcionário da Chevron?

Se o momento atual do Brasil é considerado ruim podem imaginar o que seria num governo de “união nacional” entre a facção golpista do PMDB, o PSDB, o DEM e o PPS?  Serra e outros do gênero, entre os quais Moreira Franco,  o tal “gato angorá”, segundo Leonel Brizola, ocupariam grandes espaços para levar adiante um projeto que em pouco tempo levaria o Brasil para o abismo total.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS