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quinta-feira, 3 outubro, 2024

BRUCUTU E O PEDAGOGO ENERGÚMENO

Da redação

Observando as alocuções do Presidente Jair Messias, seu rigor vernáculo, as construções elegantes e, acima de tudo, a profundidade do pensamento, fica-se em dúvida: quereria referir-se ao preceptor ou a alguém que teve obnubilada sua razão?

Na castiça manifestação oral da segunda-feira, 16 de dezembro, à saída da Residência Oficial, enunciou que a TV Escola tinha programação “totalmente de esquerda, ideologia de gênero. Os caras estão há 30 anos. Tem muito formado em cima dessa filosofia do Paulo Freire da vida, esse energúmeno, ídolo da esquerda”.

Paulo Reglus Neves Freire, recifense, nascido em 1921 e falecido aos 2 de maio de 1997, é mundialmente conhecido e respeitado como notável pedagogo, dos maiores de seu tempo.

O livro “Pedagogia do Oprimido”, no qual propõe um método de alfabetização dialético, se diferenciando do “vanguardismo” dos intelectuais da esquerda tradicional, defende o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como modo de ser realmente democrático.

Este livro é a terceira obra mais citada, nos trabalhos acadêmicos da área das ciências humanas, no mundo, à frente de clássicos como “Vigiar e Punir” de Michel Foucault e “O Capital” de Karl Marx.

Tentemos, com nossas poucas luzes, entender o ofuscante pensamento do Jair.

Qual a relação entre a “ideologia de gênero”, defendida por tantas e tão diferentes pessoas, e a programação da TV Escola.

Na parcela mais retrógrada da sociedade, há um sentido excludente e autoritário, de superioridade masculina. É estar no momento mais animal da espécie, quando a força física era a única forma de sobrevivência.

Desde este primórdio da espécie até hoje, muitas transformações ocorreram nas sociedades humanas.

No Brasil, durante a campanha eleitoral, os adeptos de Bolsonaro divulgaram que outro candidato, Fernando Haddad, distribuíra livro sobre educação sexual para crianças de seis anos. Segundo eles, Haddad teria incluído a obra no projeto “Escola sem Homofobia”, enquanto era Ministro da Educação, entre 2005 e 2012. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decretou a afirmação como “fake news”, isto é, como uma informação falsa e proibiu que a campanha de Bolsonaro usasse o termo “kit gay” para atacar Haddad.

Notável esta precocidade infantil, com fluente leitura aos seis anos, e com tal compreensão, difícil até para muitos adultos já formados.

Mas parece que a questão de gênero, talvez mal resolvida em muitas pessoas, também incomoda a atual equipe no poder.

Com tanta questão urgentíssima, como o emprego, para ser resolvida, é curiosa esta fixação no sexo.

Será alguma reflexão tão abstrata, tão sublime, que não alcance nossa vã filosofia?

Por agora, fiquemos na constatação que, com toda certeza, entre as dezenas, talvez centenas de milhões de leitores de Paulo Freire, não se conte Jair Messias. É pena, mas revela parte das razões dos atuais descaminhos da educação no Brasil.

É a sina escolhida por parcela da população que não se importa com emprego, habitação, educação, transporte, mas na diferença entre homem e mulher.

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