Hugo Dionísio [*]
As contradições entre o discurso proferido e a prática são tão presentes e monstruosas que, como uma qualquer mobília caseira, por elas passa o povo sem as ver, seguro que está de que, mesmo não as olhando, elas, inamovíveis, inexoráveis, incontornáveis, se encontram lá, intocadas, ocultadas pela indiferença de uns, pela cobardia de muitos e pela ignorância, de outros. É assim! É pelo peso excessivo da sua presença, que as ameaçadoras contradições, que tão árdua e crescentemente moldam as nossas vidas, são mantidas secretas.
Olhar para estas contradições é penoso, revoltante e tortuoso. O olhar deixa-nos revoltados, primeiro, para depois vir a amargura, a frustração, a depressão e, por fim, a indiferença causada pela sensação de impotência. Esta sensação de impotência também pode, no ignorante – sem culpa assim tornado –, ser transformada em ódio, regra geral, contra os menos culpados, contra os elos mais fracos de uma realidade que oprime de forma direta, mas também subliminar… uma opressão que tantas vezes deixa escondida a sua origem real, a sua natureza e a sua causa. As consequências esmagam-nos com a sua realidade concreta, mas são as causas que oprimem.
É assim que sinto o que se passou em Lisboa, por estes dias, com a realização da 69ª sessão do Bilderberg. Antes totalmente secreto, não foi sem ameaça e vítimas que se tornou visível. Mas, uma vez mais, “visível”, não significa “reconhecível” ou “identificável” em relação ao que realmente é. Uma vez mais, o Bilderberg é uma das causas da contradição que nos esmaga.
O Bilderberg, assim chamado porque nasceu no Hotel Bilderberg nos Países Baixos por iniciativa das pessoas mais ricas e influentes do mundo. À data, desse mundo constavam gente importante como a coroa britânica, neerlandesa, gente do clube de Roma e muitos outros, tratando-se de um clube restrito que constitui, na prática, a câmara corporativa do império anglo-saxónico, conjugando os mais importantes interesses políticos dos partidos da governação (ministros presentes e futuros), os mais relevantes interesses económicos, comunicação social e defesa. A Indústria, hoje, ocupa um lugar pouco importante, tendo sido trocada pelas tecnológicas da Internet.
Gente eleita pelo poder que o dinheiro compra dedica-se, durante alguns dias, a discutir o domínio do mundo e a sua repartição pelos interessados aí representados. Qualquer sinal de democracia é uma mera miragem ou utopia irrealizável. A democracia liberal, na sua forma milenar, garante a eleição dos mais fidedignos governantes que o dinheiro consegue comprar e a comunicação social promover, não mais sendo do que o instrumento histórico que garante um reinado sem convulsões, estabilizadas e desarmadas que ficam as mentes e as massas.
Para se ter uma ideia do “peso” real destas coisas da “democracia”, de Mário Soares para cá, apenas Passos Coelho não foi pré-aprovado pelo Bilderberg! Nada que não se tenha resolvido com uma presença após a eleição. Mas este facto marca tanto que, Passos não tem poiso nas mais importantes estruturas do poder ocidental. Para além dos primeiros ministros, já lá foram receber a bênção imperial e a cassete ideológica muitas outras figuras, de Medina a Rio, passando por Portas e muitos outros possíveis governadores. Apenas contam os dispostos a prosseguir o reinado neoliberal. Ninguém mais. Os identitários, que também os cá temos, disfarçados de “esquerda radical” fazendo o trabalho do império, ficam na Open Society de George Soros. A Iniciativa Liberal está hoje representada também, através dos CEOs do costume.
Passar pelo Bilderberg significa a iniciação nas coisas dos deuses, significa sair da muralha que constitui o comum dos mortais, o acesso aos segredos divinos. E não se pense que é porta aberta a qualquer um que o consiga. Implica passar por determinados locais, principalmente durante a fase de estudo, pois são esses locais que garantem a formação (ou formatação) de ouro, platina ou diamante. Não acreditem quando vos disserem que um determinado “jovem” levantou (raise) milhões em investimento para uma start-up. Esse “jovem” teve de passar por determinados locais, ou não lhe colocam o dinheiro nas mãos. Desculpem revelar-vos que as portas do Olimpo não são igualitárias!
Para se ter uma ideia da importância destas coisas, este ano discute-se a Ucrânia, claro, a desdolarização, como não poderia deixar de ser, a “liderança” dos EUA no mundo (não lhes chega o ocidente), inteligência artificial para nos invadir as mentes, a China, Índia e Rússia, como fatores dissonantes…
Se há guerra mundial; se o regime neonazista do comediante louco continua a receber armas, mercenários africanos e árabes a quem prometem dinheiro e cidadania europeia; se o regime que ocupa a Ucrânia continua a receber milhares de milhões dos nossos impostos; se o tik-tok é proibido e com ele o acesso da China às coisas das mentes, do conhecimento e do dinheiro; se os nossos dados pessoais continuam ao dispor da CIA e FBI; se a soberania dos estados membro da UE se continua a degradar; se a UE continua a comportar-se como uma região administrativa do estado de Washington DC; se a inteligência artificial é colocada ao serviço da humanidade ou dos interesses económicos… Entre outras decisões importantes, é ali que encontram a resposta que lhes trilha o caminho subsequente, mais tarde constatável nos “atos” de Úrsula, nas prioridades de Costa, nos ataques de Montenegro, nas efabulações da IL, na propaganda de Portas ou nos achaques de Costa. Nada sai fora da caixa, nem um milímetro…
O site noticioso www.theepochtimes.com/ divulgou a lista de presentes. Entre as gentes da NATO, Comissão Europeia, Casa Branca e muitos ministros, é só escolherem entre banqueiros, CEOs de tecnológicas, barões da comunicação social e jornalistas (os futuros diretores de redacção é aqui que recebem a confirmação de um estrelato programado e recebem a medalha da ordem da propaganda do império), dissidentes russos, chineses e turcos, grandes firmas de advogados, todos, todos, mas mesmos todos, apenas do ocidente. De Portugal a lista é a seguinte:
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Pinto Balsemão (o polo de contato para o país)
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Durão Barroso (não há maior servidor que este!!!)
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José Luis Arnaut
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Duarte Moreira da “Zero Partners” (consultoria financeira)
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Nuno Sebastião da Feedzai (start-up’s tecnológicas, unicórnios e outras formas de exploração)
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Miguel Stilwell de Andrade da EDP
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Filipe Silva da Galp
O quê? Acham que se chega a “CEO” de uma coisa destas, a “partner” de uma coisa daquelas, a ministeriável de um país da OTAN, sem a devida bênção de quem realmente detém o poder de criar e destruir, com sanções, embargos, guerras e bloqueios tudo o que vive, nasce, cresce e morre? Acordem, que o processo é muito “democrático”. É esta a “eleição” que realmente conta! Quem ganhar esta “eleição”, passa a poder ganhar as outras todas!
Como? Sim… É esta verdadeira “eleição original”, uma primária a sério, que conta. Ganhando está, um servidor fica capacitado para receber os milionários apoios financeiros, humanos e logísticos que compram tempo de antena nas TVs, horas de comentário em hora nobre, convites para conferências e seminários televisionados, avenças em programas de encher chouriços e boa imprensa… Todo um exército a louvar as suas qualidades enquanto “eleito”. Esta “eleição”, a par de outras, como a da ida a Davos, funciona como um sinal apenas reconhecível pelos da mesma espécie. Todos os membros da matilha recebem o sinal, reconhecem-no e sabem como se comportar face ao mesmo. A partir daí, nasce um novo génio da lâmpada que nos passa a ofuscar a vida. Em vez de concretizar desejos, impede-os de se concretizarem. E o facto é que, a cada eleição, o povão afaga a lâmpada e sai sempre a mesma magia: o fim dos seus desejos e a constatação da terrível realidade.
Eis o que significa a “democracia” liberal. Lamento desiludir-vos. Mas, se pensavam que aquelas diretivas comunitárias que se discutem no Parlamento Europeu, aquelas iniciativas da Comissão Europeia de que Úrsula tanto se orgulha e tantas agendas para isto e para aquilo que são aplicadas, as “recomendações” do semestre europeu, vinham mesmo do povo, como numa democracia, ou dos representantes do povo, como numa democracia representativa…. Lamento desiludir-vos, uma vez mais. Perante vós apenas tendes servidores e todos os “valores” europeus, não passam de buracos negros vazios de vida que nos sugam para a morte e a desgraça. A governação não passa de um processo de aplicação de regras estandardizadas que têm de ser seguidas, sob pena de punição severa.
Para terem uma ideia da forma como está gente olha para o mundo e para os seres humanos que têm o “azar” de não pertencerem a esta meia dúzia de brancos iluminados, aqui ficam dois exemplos:
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Na Inglaterra os migrantes passaram a ser monitorizados 24/7 com pulseiras electrónicas como um qualquer cão que leva o Chip. A gravidade assume proporções olímpicas quando o primeiro ministro deste país é de descendência indiana e permite a privatização das políticas de migração, que levou cinco empresas do sector a fazerem esta bela coisa. Multimilionário não é sinónimo de “livre”, muito pelo contrário;
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Na Florida (EUA) os cidadãos chineses foram proibidos, por lei, de comprarem propriedade (imobiliária, participações sociais em empresas, por exemplo), apenas e só por serem chineses. Isto acontece num estado governado por um descendente de migrantes Italianos. Se és chinês, levas com um carimbo da foice e martelo e… A ver vamos onde chega. Se não chegará onde tantas vezes já se chegou na história humana.