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quinta-feira, 26 dezembro, 2024

Ba, o Patriota ou o Tio Ho viveu muito e rápido

«… infantes e cavalos sem parar combatendo. Em ataque e desdobramento como o raio há-de ser. /Rápido o pensamento e rápidos os pés, /dão-te a iniciativa e ao triunfo te conduzem».

O verso anterior é o excerto de um poema que o fundador do Vietnã, Ho Chi Minh, escreveu no cárcere e intitulou Jogo de Xadrez. E essa foi a divisa de sua vida, a partir de que, ainda adolescente, tendo como nome Ba, entrou como ajudante de cozinha em um navio francês. O nome que lhe deram seus pais, em Nghe An, foi Nguyen Tat Thanh. Então, estava longe de adotar o pseudônimo de Nguyen Ai Quoc (Nguyen O Patriota), e ainda mais longe o de Ho Chi Minh.

Ba, filho de um pai culto, mestre da língua chinesa clássica, precisava conhecer o mundo. Tinha nascido quando a sua terra não era o reino de Anã, mas sim uma recentemente fundada colônia francesa. Seus sonhos de saber mais, e conhecer e de defender a terra dos anamitas começaram nele sendo ainda adolescente, ajudante de cozinha, ofício que aprendeu mito rápido; além do outro que lhe ensinam e o que ele investiga.

Assim Ba conheceu a África, Europa e América, durante quatro anos, navegando, até se instalar em Londres, onde trabalhou como jardineiro, limpador de neve, ajudante de cozinha e tudo quanto pôde, para estudar e aprender bem a língua inglesa, o qual conseguiu. Em 1919 chegou à França, já incorporado à luta da classe operária e os residentes vietnamitas. «Rápido o pensamento e rápidos os pés», tal como escreveu em seus versos acerca do xadrez.

Em 1919 já era o fundador de um estabelecimento. Era um designer reconhecido e, paralelamente, em breve enviou à Conferência de Versalhes uma declaração de oito pontos na qual pedia o reconhecimento dos direitos do povo vietnamita à liberdade, a democracia e a autodeterminação. Sua assinatura agora era como Nguyen Ai Quoc, o Patriota. Um ano depois participou da fundação do Partido Comunista Francês, que teve lugar durante o famoso Congresso de Tours. O Patriota exortou seus colegas porque, sendo comunistas, não elegiam e lutavam tenazmente pela independência das colônias francesas na Indochina. Surpreendeu todos.

Continuou movendo rápidos os pés e, com a ajuda de comunistas franceses e lutadores das colônias francesas, fundou a União dos Povos Coloniais, e foi eleito membro permanente do Comitê Executivo. Continuou rápido e fundo Le Paria, jornal do qual O Patriota, ou Nguyen Ai Doc, é o diretor, redator-chefe, jornalista e administrador. Mas é tão sabido que colabora também em L’Humanité, órgão oficial do Partido Comunista Francês,e em A Via Ouviere, órgão da Confederação Geral dos Trabalhadores da França.

Nguyen Ai Quoc visitou a Rússia. Lenin tinha morrido e não teve a satisfação de conhecê-lo pessoalmente, mas morou na União Soviética, aprendeu a língua e estudou no Instituto Lenin. Não parou, participou de congressos e escreveu um livro que publicou na França: Processo à colonização francesa. Viajou à China e se aproximou dos vietnamitas, rapidamente fundou a associação da Juventude Revolucionária do Vietnã, precursora – assim estimou ele e como tal ocorreu – do Partido da classe operária vietnamita.

Viviam-se dias mais complexos, com a traição de Chiang Kaishek. Teve que ir mais depressa… Pouco depois foi fundado o Partido Comunista do Vietnã, que deve mudar de nome duas vezes, de acordo com as circunstâncias, e mais tarde foi aprovado o programa concebido por ele, de forma a encarar a luta que estava para vir. São os tempos da iminente Segunda Guerra Mundial.

Dessa forma decorreu a vida de Ba e de Nguyen Ai Quoc até 1940, quando Alemanha invadiu a França, a qual capitulou, e pouco depois os japoneses invadiram na Indochina. Ainda mais rápido para ele… Esteve na prisão, não parou de escrever, viveu perseguido, mas perto do Vietnã. Retornou à sua terra natal, da qual tinha saído em 19011 e em 1942. Seu afã foi interrompido. Quis pedir ajuda a Chiang Kaishek, mas foi levado à prisão por mais de um ano.

Nessa prisão hedionda, onde em alguns momentos foi considerado morto, escreveu versos clássicos na língua dos seus carcereiros: em chinês. Fê-lo assim porque, escritos em vietnamita, seus carcereiros teriam achado muito suspeitos seus versos, que não podiam ler. Acerca disso daria seu testemunho, recolhido pelos editores. Tratava-se de poemas testemunhais, considerados hoje como clássicos. Neles conta como vai passando no cárcere: «Antes de raiar o dia, com os braços atados e puxando-o com uma corda, começavam a caminhar. E na hora do pôr do sol, quando os pássaros retornavam a seus ninhos, era fechado em qualquer cela improvisada, junto com um monte de sujeira, e o prisioneiro podia se considerar feliz se o colocavam no cepo, pois com isso se livrava de passar a noite nas latrinas».

Em um dos seus versos, Ho Chi Minh disse: «É teu corpo o que está na prisão; teu espírito não pode ser preso».

Esses versos são um testemunho fiel de Ho Chi Minh. Mas se aproximava o dia… em 2 de setembro de 1945, na praça Va Dinh, Ho Chi Minh leu a Declaração de Independência da República Democrática do Vietnã. Mas ainda faltavam degraus longos e espinhosos para chegar, em 1954, à batalha vitoriosa de Dien Bien Phu contra o colonialismo francês.

E ainda faltaria mais: a luta contra o imperialismo ianque, embora tivesse atingido a meta da revolução socialista no Norte da sua Pátria. A guerra do imperialismo ianque contra o Vietnã é o que restava, mas isso não surpreendeu Ho Chi Minh, nem à sua equipe brilhante, como também não a vitória de seu povo. Ele ia depressa e acabou percebendo que viveu muito e rápido. Ele foi chamado familiarmente o Tio Ho. E assim escreveu em seu testamento: «Sejam quais forem as dificuldades e penalidades, nosso povo conseguirá a vitória total: os imperialistas estadunidenses vão ter que sair do país. A pátria será reunificada». E assim ocorreu. ●

NO CONTEXTO

As relações entre Cuba e o Vietnã têm uma base histórica e ideológica que se consolidou em 60 anos.

As visitas de trocas ao mais alto nível partidarista foram sistemáticas. Lembramos a visita realizada a Cuba, pelo secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã e presidente dessa República Socialista, companheiro Nguyen Phu Trong, em abril de 2012 e em março de 2018.

A primeira visita oficial ao Vietnã, efetuada pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro, entre 12 e 17 de setembro de 1973, foi inesquecível para cubanos e vietnamitas. Os irmãos vietnamitas não esquecem que Fidel foi o único chefe de Estado que os visitou durante a guerra.

O encontro entre o general-de-exército Raúl Castro e o presidente Ho Chi Minh marcou um ponto importante nas relações bilaterais.

Relembramos a visita realizada ao Vietnã pelo primeiro secretário do PCC, general-de-exército Raúl Castro, em julho de 2012.

Foi de grande significação a visita realizada ao Vietnã, em novembro de 2018, pelo presidente Miguel Díaz-Canel.

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