20.5 C
Brasília
sexta-feira, 26 julho, 2024

AUSTIN CONDENA GOLPISMO BOLSONARISTA MAS REPUDIA LULA ALIADO DOS BRICS

César Fonseca
A presença do secretário de defesa americano, Lloyd Austin, nessa semana, no Brasil, para participar da XV Conferência de Ministros da Defesa das Américas(CMDA)levanta ambiguidades e conforma leituras variadas sob ponto de vista geopolítico; aparentemente, ela visa enquadrar o presidente Bolsonaro em sua tentativa de golpear as instituições, desmoralizar o poder civil e melar as eleições de outubro, rompendo com a democracia,  ao atacar as urnas eletrônicas com discurso falso de que a justiça trabalha a favor da candidatura Lula; ocultamente, ela, sem dúvida, representa receio de Washington sobre previsível vitória lulista, o que não agrada o governo americano por entender que Lula fortaleceria os BRICs, adversários maiores do império em perspectiva para os próximos tempos, no plano geopolítico global; Bolsonaro potencializou esse receio ao afirmar, depois de conversa com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, que Lula é aliado da Rússia; o tripé Brasil-China-Rússia, alicerce maior dos BRICs, tira o sono de Tio Sam. Para a Casa Branca, tal possibilidade seria desastre, especialmente, no contexto da Guerra da Ucrânia, onde a OTAN/EUA fracassa na tentativa de desestabilizar governo Putin mediante sanções comerciais; o tiro saiu pela culatra em forma de inflação mundial, que atormenta o ocidente e deixa Joe Biden, completamente atarantado, passível de perder eleições parlamentares, nos Estados Unidos, prenunciando volta de Trump.
ESCALADA INFLACIONÁRIA GLOBAL
Tudo piora, porque a escalada inflacionária nos Estados Unidos leva o Banco Central(FED) a puxar a taxa de juros básica, o que intensifica fuga de dólar para os Estados Unidos e, consequentemente, desestabilização da economia ocidental; nesse contexto, a China avança na concorrência com os Estados Unidos e amplia aliança com a Rússia na expansão econômica da rota da seda, no cenário asiático, tema interessa ao Brasil; com Lula presidente, os BRICs fincam nova geopolítica internacional, diante da qual perde força a hegemonia americana, com o dólar, como moeda padrão, entrando em ebulição; nesse sentido, a presença de Austin, fiscal do império, ganha relevo cada vez maior, no momento em que começa a campanha eleitoral, em que Lula desponta como favorito; o alerta de Austin aos militares brasileiros sobre sua eventual tendência em apoiar às loucuras fascistas bolsonaristas, aumenta fragilidade do governo em suas pretensões antidemocráticas;  embora o potencial aliado de Bolsonaro, ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira, durante a CMDA, reafirma que o compromisso do Brasil com a Organização dos Estados Americanos(OEA) é o de garantir democracia, ficam dúvidas no ar; afinal, o histórico da OEA não é confiável; são sobejas as provas de que, controlada pelos Estados Unidos, a OEA tem sido avalista de golpes contra a democracia, na América Latina, com aval americano; isso ocorre sempre que avançam demandas populares por maior participação no poder; as palavras do secretário de Defesa americano, portanto, guardam ambiguidades que se correlacionam não com os interesses do Brasil, mas, sobretudo, com os dos Estados Unidos.
FISCAL DO IMPÉRIO
Austin, é bom lembrar, está engajado no comando da OTAN para tentar vencer as forças russas, na Ucrânia, de modo a desestabilizar o governo Putin; em abril, ele esteve com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, articulando com as forças nazistas que perdem a guerra, seis meses depois da invasão das tropas russas, interessadas, agora, diretamente, na derrubada de Zelenski; ele chega ao Brasil uma semana depois de Zelenski conversar com Bolsonaro e afirmar que Lula é aliado de Putin, ou seja, do maior adversário de Joe Biden; terá ou não esse assunto sido debatido entre o secretário americano e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira, em Brasília, na XV CMDA? Seria ingenuidade afirmar que não. Não seria em decorrência dessa entrevista entre Bolsonaro e Zelenski o motivo central da presença de Lloyd Austin para rechaçar propensão brasileira de aproximar-se dos BRICs, com Lula eleito, ferindo interesses geopolíticos de Washington? Aumentariam ou não resistência americana à ascensão lulista ao poder? Que pesa mais, para os interesses dos Estados Unidos: pregação antidemocrática de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas ou vitória lulista, que resultaria em triunfo geopolítico dos BRICs x geopolítica unilateralista americana de preservar a Doutrina Monroe, da América para os americanos? Há, portanto, imbricamento geral entre a presença de Austin, no Brasil, a ação golpista de Bolsonaro, detonando a justiça eleitoral, e o avanço de Lula rumo ao terceiro mandato, para remover o bolsonarismo ultraneoliberal fascista; este, como é notório, jogou o Brasil na miséria e o fez recuar da 6ª para a 13ª posição econômica mundial, depois do golpe neoliberal de 2016, que afastou a presidenta Dilma Rousseff por meio de impeachment sem crime de responsabilidade para justificá-lo.
CRIME CONTRA CONSTITUIÇÃO
No plano eleitoral, Bolsonaro pratica, abertamente, crime contra a Constituição de 1988, buscando envolver os militares no seu jogo de interesse antinacional; o Ministério da Defesa, que estava sob comando civil, conforme mandamento constitucional, passou a ser ocupado por militares. Inconstitucional! Atentado claro à carta maior que Bolsonaro jurou defender ao tomar posse; por que os próprios militares, diante dessa aberração bolsonarista, aceitaram ser braço armado da ilegalidade? Deixaram de cumprir o próprio art. 142, que diz respeito às forças armadas, no sentido de que devem ser guardiãs da lei e da ordem, da normalidade constitucional; ocupando Ministério da Defesa, por ordem autoritária de Bolsonaro, deixam de sintonizar-se com as instituições; ferem, portanto, a soberania nacional, ao exercitarem, ilegalmente, sua função constitucional. Lugar de militar é no quartel, não na área política; Ministério da Defesa é cargo político. Precisa um militar estrangeiro, como o general Lloyd Austin, chegar aqui e puxar orelhas das autoridades do atual governo? O presidente não tem falado outra coisa nos últimos dias senão em claro rompimento das instituições, se forem utilizadas urnas eletrônicas na eleição de outubro, contra as quais se posiciona por não emitirem voto impresso; a convocação dos embaixadores estrangeiros ao Palácio do Planalto pelo presidente para dar o recado fatídico de alertar para o golpe superou todas as expectativas negativas que o mundo alimenta em relação a Bolsonaro.
CONVOCAÇÃO ESCANDALOSA PARA O GOLPE
A reiteração de Bolsonaro aos seus aliados, na convenção do PL, lançando-o candidato, para participarem, protestando contra as urnas eletrônicas, em 7 de Setembro, soou como convocação para a ação golpista, inconstitucional; deixou, evidentemente, de ser um brado de Independência ou Morte, no momento, em que se comemora o bicentenário do famoso grito do Ipiranga de Dom Pedro I, para ser o seu contrário; agora, pela boca bolsonarista, trata-se de Dependência e Morte, ou pior ainda, Morte da Independência; o alerta do militar americano é como se fosse o do porta-voz dos embaixadores internacionais que servem, diplomaticamente, no Brasil, absolutamente, contrários ao destempero político-diplomático de Bolsonaro, a rebaixar a nação à condição de sub colônia internacional. Bolsonaro despertou nos ministros do STF e TSE a disposição da luta pela legalidade. É nesse cenário que o general Austin atua como fiscal do império de Tio Sam.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS