La Paz, 26 nov (Prensa Latina) Simultaneamente da aprovação de uma lei eleitoral transitória e as manobras para legitimar o golpe de Estado, as autoridades de fato aumentam hoje a perseguição contra figuras do deposto governo da Bolívia.
O Executivo da auto-proclamada presidenta interina Jeanine Áñez ordenou nesta segunda-feira através da Promotoria a apreensão do ex-ministro da Presidência Juan Ramón Quintana, após uma denúncia apresentada contra ele pelos supostos delitos de terrorismo, instigação de crime e sedição.
As autoridades golpistas responsabilizam Quintana de promover atos de violência, em referência às espontâneas manifestações populares suscitadas em várias regiões da nação sul-americana em rejeição aos ataques cívico-militar que derrubou o mandato de Evo Morales.
Em apenas três dias após o fatídico 10 de novembro em que Morales anunciou sua renúncia sob coação das Forças Armadas, e para evitar confrontos fratricidas no país, o nomeado ministro de governo Arturo Murillo anunciou o início de uma ‘caçada’ contra Juan Ramón Quintana, cujo paradeiro atual se desconhece.
O mandato de prisão contra aqueles que serviram como ministro da Presidência de Evo Morales durante três períodos (2006-2010, 2012-2017, 2019), além de embaixador em Cuba (2017-2019), confirma as pretensões dos golpistas de criminalizar os expoentes do anterior governo, incluído o deposto mandatário.
Após a ruptura da ordem constitucional na Bolívia, Morales tornou-se alvo de perseguição política e judicial por parte das autoridades de fato, que adiantou um processo penal contra o líder indígena pelos supostos delitos de sedição e terrorismo, entre outros.
A administração de Jeanine Áñez baseou sua acusação na gravação de uma suposta conversa telefônica entre o mandatário e um dirigente social.
‘Eu denuncio o governo atual da Bolívia por criar uma montagem com intenção de me fazer um julgamento internacional’, disse Morales através da rede social Twitter.
‘Aos movimentos sociais que lutam pela vida e a democracia, a Promotoria inicia investigações de oficio com montagens, provas semeadas e gravações manipuladas, mas para 30 irmãos assassinados na Bolívia a bala, não há investigação, responsáveis ou detentos’, acrescentou.
Um tribunal de investigação penal enviou a prisão o vice-presidente do Movimento Ao Socialismo (MAS), Gerardo García, por suposto uso indevido de bens do Estado, ‘sem provas nem argumentos jurídicos’, de acordo com a denúncia formulada por Morales nas redes sociais, em outro evidente caso de perseguição política.
De acordo com analistas, tudo aponta a uma estratégia de restar liderança e organização às forças progressistas face a um eventual processo eleitoral, em data ainda a definir.
‘Na Bolívia terá eleições, Áñez prolongará a usurpação por mais tempo, perseguirá líderes (…), foram solicitadas garantias a Morales que Áñez negou como rearmar forças e unidade para as eleições e ganhar?’, destacou o sociólogo e jornalista argentino Marco Teruggi.
A perseguição dos líderes sociais e a criminalização dos protestos contra o golpe de Estado, contrasta com a impunidade reinante em torno da onda de violência desatada pela direita depois das eleições do 20 de outubro, bem como a brutal repressão que deixou ao menos 30 mortos após o golpe em Evo Morales.
Uma delegação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos conheceu nesta segunda-feira o depoimento de vítimas na localidade de Sacava, Cochabamba, onde o emprego desproporcionado da força por parte da polícia e do Exército -com o emprego inclusive de armamento letal- ocasionou a morte de nove pessoas no dia 15 de novembro.
O vice-presidente da Coordenação das seis Federações do Trópico de Cochabamba, Andrónico Rodríguez, disse que se tratava de um ‘massacre’, como aconteceu mais tarde na cidade de El Alto, outro dos principais centros de resistência popular contra o golpe.