Montagem: Revista Anfibia
Por Altamiro Borges
O atentado contra Cristina Kirchner na quinta-feira (1) fez soar o sinal de alerta na campanha do ex-presidente Lula. A vice-presidenta da Argentina ficou bem na mira do revólver de um nazista brasileiro e só escapou com vida porque a arma falhou na hora do disparo. Vídeos registraram a cena apavorante. Logo na sequência, o terrorista Fernando Montiel, que tem tatuagem nazista no corpo e participa de grupos de extrema-direita nas redes sociais, foi preso.
Segundo notinha da Folha, integrantes do comando da candidatura de Lula anteciparam que o atentado “exigirá um grau mais alto de atenção na campanha, embora a segurança do petista já esteja classificada no nível de risco mais alto dentro do protocolo da Polícia Federal. O efetivo, a princípio, continuará o mesmo, mas a dinâmica e procedimentos pontuais podem mudar, dependendo do evento e da ocasião”.
Lula preocupado com o clima político
O próprio Lula se mostrou preocupado com a ação terrorista em Buenos Aires. Em entrevista durante sua visita ao Maranhão, ele afirmou: “Nós precisamos ficar alertas com o que pode acontecer com o Brasil, porque temos visto todos os dias na imprensa uma insinuação. E quem faz insinuação pode cumprir… O que aconteceu na Argentina, e têm acontecido provocações no Brasil, não acontecia na política. Eu lembro que, quando eu tinha como opositores o PSDB, a gente se encontrava em restaurante, tomava uma cerveja, sem problema nenhum. Hoje, isso é impossível”.
No mesmo rumo, Monica Valente, secretária-executiva do Foro de São Paulo – articulação que congrega os partidos progressistas da América Latina – explicou que o atentado na Argentina tem raízes numa onda direitista similar à que ocorre no Brasil. “O que sempre nos preocupa é o ambiente político, de campanha de ódio e intolerância, e que gera esse tipo de atitudes, sejam elas individuais ou mais organizadas”.
A própria reação de Jair Bolsonaro reforça esses temores. Diferentemente da maioria dos governantes do mundo inteiro, o presidente brasileiro demorou a se solidarizar com Cristina Kirchner. Quando se pronunciou, ele fez de maneira fria e eleitoreira – citando novamente a facada de Juiz de Fora. “Já mandei uma notinha. Eu lamento. Agora: quando eu tomei a facada, teve gente que vibrou por aí… Apesar de não ter nenhuma simpatia por ela [Cristina], não desejo isso para ela”, afirmou o psicopata no sábado durante visita a uma exposição agropecuária em Esteio (RS).
Lingeries, vibradores e um chicote de couro
Sobre o terrorista brasileiro, ainda há poucas informações. Não se sabe se ele tinha ligações orgânicas com grupos de extrema-direita. A Folha informa que “Fernando André Sabag Montiel, de 35 anos, tem antecedentes criminais e será indiciado por tentativa de homicídio qualificado… Ele nasceu no Brasil, mas mora na Argentina desde 1993. Sua mãe é argentina e seu pai, o chileno Fernando Ernesto Montiel Araya, já foi alvo de um inquérito da Polícia Federal em 2020 que pedia sua expulsão do Brasil por ter sido condenado em uma sentença penal”.
Logo após o atentado, a polícia realizou uma operação em uma das residências do brasileiro, onde apreendeu um notebook e cem balas de calibre 9 milímetros. Segundo o jornal argentino La Nación, o imóvel estava em péssimas condições. “Além do fedor do vaso sanitário – que parecia entupido há vários dias –, a pia estava quebrada, as panelas sujas e, no chão, havia uma pilha de cobertores, roupas e alimentos. Entre os objetos encontrados estavam diversas lingeries, vibradores e um chicote de couro sintético preto”.