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domingo, 8 dezembro, 2024

AS QUADRILHAS QUE GOVERNAM O RIO DE JANEIRO

Paulo Mateus Cavalcante*
A política no Estado do Rio de Janeiro decorre das transformações que ocorreram desde a fusão do Estado da Guanabara com o então Estado do Rio de Janeiro.
O Estado da Guanabara foi o Distrito Federal e, antes, a sede do Império. Neste largo período de protagonismo político, acolhendo representantes de todo país, a política era predominantemente ideológica. Ali o Partido Comunista teve destacada atuação, antes da cassação no Governo Dutra, e continuou elegendo seus representantes por outros partidos. Também na Guanabara, as personalidades ideologicamente marcadas de Carlos Lacerda e Leonel Brizola arrastavam multidões na era dos comícios.
No antigo Estado do Rio de Janeiro pode-se separar dois universos políticos: a baixada e as demais áreas. Na Baixada Fluminense prevalecia um tipo de marginalidade, que pode ser retratada por Tenório Cavalcanti. Nas demais regiões, o Sul Fluminense, o Norte Fluminense e a Região Serrana, predominava a política coronelista, como em quase todo Brasil.
A mistura dos cariocas, da Baixada e dos fluminenses, com a qual Governo Militar esperava reduzir o conteúdo ideológico, resultou no predomínio demográfico do Grande Rio, ou seja, no avanço político da marginalidade, antes restrita a alguns poucos municípios. Um exemplo disso é a subida para região serrana dos representantes do jogo do bicho, desde longo tempo detentores do poder em municípios da Baixada.
Nas eleições que se seguiram a 1985, foi ficando nítida a necessidade da Baixada para compor qualquer poder, seja da Guanabara seja de alguma outra região fluminense.
Surgiram as forças políticas que, acima e fora dos partidos, dominariam o Estado desde o último governo de Leonel Brizola. E esta marginalidade, os grupos ou verdadeiras facções criminosas tomaram partes do Estado. Não só na Assembleia Legislativa, mas nos Tribunais de Justiça e nos Departamentos e empresas de um Executivo fragmentado.
O Rio de Janeiro passa a conhecer uma verdadeira guerra de bandidos, ao abrigo da lei e da justiça, para dominar maiores parcelas do Estado.
A prisão de Garotinho, independe de sua ação eleitoral ou eventualmente corrupta. É uma resposta ao ingresso de um novo componente nesta guerra de quadrilhas: a Igreja Universal do Reino de Deus, com o Bispo Crivela na Prefeitura do Rio de Janeiro.

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Como é decorrente e óbvio, cada quadrilha do Estado do Rio de Janeiro, do mesmo modo que Chicago dos anos 1930, conta com uma facção no judiciário, na Polícia Militar, na Guarda Municipal, além dos identificáveis deputados e vereadores.
Antes da destituição de Eduardo Cunha, houve um episódio na Câmara Federal entre o então presidente da Casa e a deputada Clarissa Garotinho, onde era evidente que, por trás das múltiplas agressões, havia o respeito pelo poder das facções que cada um representava no Rio de Janeiro. Até então Eduardo Cunha não havia recebido tal nível de contestação.
Garotinho apoia Crivela que, por seu lado, combate Sergio Cabral e assim, fora dos contextos políticos, a disputa no Rio de Janeiro é hoje uma guerra de quadrilhas. E o Judiciário Fluminense é tão isento quanto Sérgio Moro.
*Paulo Mateus Cavalcante é jornalista paraibano radicado no Rio de Janeiro a mais de meio século.

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