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sexta-feira, 29 março, 2024

Argentina; 200 Anos de Pátria, querido

Buenos Aires, 11 jul (Prensa Latina) A Argentina comemorou o Bicentenário da Independência sem presidentes da América Latina, mas com o monarca emérito da Espanha, Juan Carlos I. Toda uma definição dos novos tempos que o país atravessa.

O mandatário Mauricio Macri presidiu na província de Tucumán as celebrações oficiais e ofereceu um discurso antológico, quase de subordinação e na contramão aos princípios de nossos heróis que decidiram romper com as hegemonias imperiais.

Em uma breve revisão por suas frases mais notórias, Macri disse que nossos líderes revolucionários de então “deveriam (sic) sentir angústia de tomar a decisão, querido rei, de se separar da Espanha”, e que essa difícil decisão “se fez pensando no futuro”.

Em um discurso fervoroso de ponderação a favor da meritocracia e do esforço pessoal, o presidente argentino aproveitou para criticar importantes conquistas sindicais como a redução da jornada de trabalho ou direitos trabalhistas como as licenças.

Também pediu “avaliações sistemáticas” aos docentes e exigiu “consumir a menor quantidade de energia possível” para lutar “contra a mudança climática”, em uma tentativa de justificar o tarifaço nos serviços públicos, que gerará uma renda volumosa às empresas.

Mas o mais surpreendente, além da ignorância histórica exibida pelo mandatário, foi seu delírio de conceber o ato final de independência, que terminou sendo assinada em 9 de julho de 1816, como uma ação repentina dos congressistas reunidos em Tucumán; isto é, sem um processo que o explicasse.

Teria que avisar o presidente Macri que a Declaração de Independência foi seis anos depois da Revolução de Maio, na qual foi expressa a decisão de diversos setores de se separar da coroa espanhola. No intermédio, houve o triunfo das forças americanas sobre as realistas em Tucumán e Salta.

Também ocorreu o emblemático combate de San Lorenzo, a convocação à Assembleia de 1813, que terminou por se constituir em janeiro desse ano e onde se reconheceu a soberania das Províncias Unidas do Rio de la Plata em nome do povo e não do monarca espanhol.

Naqueles anos, foi realizada a Convenção da Província Oriental assinada por Rondeau e Artigas, que foi a base do projeto de Constituição de Artigas, que depois foi difundida como as Instruções para a Assembleia do ano de 1813.

Estes são apenas alguns capítulos que explicam o caminho percorrido por nossos heróis rumo à Independência.

O único que faltava se estabelecer em 1816, ai redor do Congresso de Tucumán, era o modo de organização das províncias, se eram representadas sob um sentido federal ou se seria imposto um centralismo portuário que se sustentava no livre-comércio, afetando o desenvolvimento produtivo e econômico regional.

Algo que poderia ser discutido atualmente devido à decisão incendiária do Governo Nacional de se associar à Aliança do Pacífico em detrimento do Mercosul, e os favoritismos prestados pela Argentina aos principais chefes de Estado europeus.

Mas a conclusão que o discurso presidencial do bicentenário deixa é muito simples: se não se conhece à cabalidade a história – nossa história -, pouco pode ser feito, além de repetir a entrega do país no presente.

*O autor é jornalista argentino que colabora com a Prensa Latina.

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