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quinta-feira, 18 abril, 2024

Antes investigados, bancos e mídia celebram mudança de foco da Zelotes

A Operação Zelotes foi desencadeada no dia 28 de março deste ano tendo entre os crimes investigados tráfico de influência, corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Até agora, as investigações apontam que 74 processos tributários podem ter sido fraudados, provocando um prejuízo de aproximadamente R$ 21,6 bilhões aos cofres públicos, montante muito superior aos valores apurados nas investigações da Operação Lava Jato.

Por Dayane Santos

Apesar disso, a imprensa fez de tudo para abafar o escândalo das fraudes ficais e o andamento das investigações passou longe da cobertura televisiva ou das manchetes dos jornais.

A explicação está no fato de que empresas como o Grupo RBS, afiliada da Rede Globo, a Gerdau, os bancos Bradesco, Santander, Safra, Pontual e Bank of Boston, as montadoras Ford e Mitsubishi e um grupo de outras grandes corporações estão entre as investigadas pela suspeita de pagamento de propina a integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) para anular multas tributárias milionárias.

Trata-se de empresas de comunicação e grandes anunciantes da imprensa brasileira, portanto, o silêncio midiático, especialmente quando se compara com a cobertura que é realizada sobre as investigações da Operação Lava Jato, fica escancarado. Não se viu delações premiadas, lista de empresários envolvidos ou presos e muito menos vazamentos seletivos de depoimentos.

Mas, de certa forma, isso mudou na última segunda-feira (26), quando a Polícia Federal deflagrou a terceira fase da Operação Zelotes e cumpriu 33 mandados judiciais, sendo seis de prisão preventiva, 18 de busca e apreensão e nove de condução coercitiva nos estados de São Paulo, Piauí e Maranhão e no Distrito Federal. Dos 33 mandados, inclusive seis prisões, a imprensa acendeu o seu holofote seletivo contra o mandado de busca e apreensão na Touchdown Promoção de Eventos Esportivos Ltda e envolveu ainda a LFT Marketing Esportivo na investigação, empresas de Luis Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula.

O que antes era uma investigação que apurava a corrupção de grandes grupos econômicos que para sonegar e fraudar ações pagavam propinas para meia dúzia de integrantes do Carf, passou a ser uma investigação com foco – e holofote da imprensa – direcionado para a família do ex-presidente Lula e do PT.

Para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que é relator da subcomissão na Câmara dos Deputados que apura o escândalo no Carf, houve manipulação da imprensa na cobertura da atual fase das investigações pela Polícia Federal. Segundo ele, a Rede Globo “mentiu descaradamente” ao informar que a Zelotes seja uma operação para investigar compra e venda de Medidas Provisórias para o setor automobilístico, motivo esse que seria a ligação das empresas do filho de Lula com o caso.

“A edição dos telejornais da Rede Globo foi criminosa. Estão forçando a barra para dizer que houve pagamento a uma empresa do filho do Lula, mas se esquecem de um detalhe importante: a MP 471 foi editada em 2009, e empresa do filho do Lula só foi criada em 2011. E não dá para vincular a MP a contrato que só iria ocorrer em 2014 e um pagamento realizado em 2015, seis anos depois. Não faz sentido relacionar o contrato do filho do Lula com a MP”, afirmou Pimenta.

Pimenta lembrou que a Zelotes, desde que foi deflagrada, sempre foi escondida pelos jornais brasileiros, já que é um escândalo que envolve, justamente, o poder econômico que a mídia atua para proteger. Agora, “criaram essa história sem pé nem cabeça”, enfatizou o deputado.

Nomes

O site O Cafezinho teve acesso a um documento de 494 páginas da Polícia Federal contendo nomes dos suspeitos de envolvimento no esquema do Carf, entre os quais Edison Pereira Rodrigues (ex-presidente do Carf nomeado por FHC), Meigan Sack Rodrigues (filha do Edison), Jorge Victor Rodrigues (caso Santander e Safra), Lutero Fernandes do Nascimento, Eduardo Cerqueira Leite (caso Bradesco), Jeferson Ribeiro Salazar (caso Santander), José Teriju Tamazato (caso Santander e Bradesco), Mário Pagnozzi Junior, João Inácio Puga (ex-diretor do banco Safra), Wagner Pires de Oliveira (caso JS Safra), Jorge Celso Freire da Silva (caso Santander), José Ricardo da Silva (centro das investigações), João Batista Gruginski (caso Gerdau), Adriana Oliveira e Ribeiro (caso Gerdau), Silvio Guatura Romão, Ezequiel Antonio Cavallari e Alexandre Paes dos Santos (lobista).

“Por que os envolvidos com o sistema bancário não foram alvo de prisão temporária? Por que a busca e apreensão na empresa do filho do Lula se não houve busca e apreensão nas empresas que, segundo a PF, fraudaram o Carf?”, questiona Miguel do Rosário, editor do site.

Vamos investigar

A relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), reafirmou que vai atuar para que os envolvidos nas ações do Carf sejam indiciados e punidos. “Não admitiremos que eles saiam impunes”, enfatizou.

“Nós estamos apurando desde o início dos trabalhos a ação desta quadrilha que traficava influência dentro do Carf para lesar o patrimônio público e também achacar empresas”, enfatizou a senadora.

Sobre as novas ações da Operação Zelotes, Vanessa afirmou que elas “devem ser aprofundadas para que não restem dúvidas”, e avisou: “Não iremos deixar que investigações como as que envolvem a RBS e o sobrinho do ministro Nardes [Tribunal de Contas da União] sejam arquivadas. Existem indícios de manipulação de resultado envolvendo causas do Bradesco, Banco Safra e outras empresas e vamos investigar”.

Do Portal Vermelho

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