Pedro Augusto Pinho*
6ª Crônica – Os males que vêm se aprofundam, e duram muito mais.
Nos anos 1980, um tsunami abalou a civilização que se construía há bem uns dois séculos e meio: a civilização industrial, com os recursos das energias fósseis. Esta onda demolidora dos Estados Nacionais já se mostrara uma década antes, no que ela denominara “crises do petróleo” (1973,1979).
Ora, caros leitores, não era o petróleo, esta mistura de hidrocarbonetos, que estava em crise. Era a espoliação que algumas nações industrializadas faziam daquelas exportadoras de produtos primários, sem qualquer beneficiamento, que recebiam, em moeda constante, o mesmo preço pelo barril exportado que o de 1928 (Acordo Achnacarry), meio século antes.
Já se pode perceber, nesta expressão: crise do petróleo, que o inimigo era astuto, sabia o poder da mensagem e das palavras, trabalhava-as como arma de guerra, não como meio de comunicação.
Tudo começara pelos anos da II Grande Guerra, que aperfeiçoara a transmissão de mensagens até as grandes descobertas e invenções da década de 1940: o computador (Electronic Numerical Integrator And Computer, Eniac, 1946), a Teoria Matemática da Comunicação, desenvolvida pelos matemáticos Claude Shannon e Warren Weaver (1949), e a esquematização do fluxo informacional possibilitando interferir, isoladamente, nos três pontos chave: a emissão/recepção, a conversão para atravessar o canal, e o próprio canal.
Enquanto os industriais viam na informática apenas o meio de afastar o ser humano do processo produtivo, pela automação, pela robotização, os financistas, que davam as cartas até o século XIX, percebiam a força das mensagens indo direto ao inconsciente das pessoas, influenciando suas percepções com as sutilezas verbais como exemplificado nas “crises do petróleo”, ou seja, a mistura de hidrogênio e carbono provocasse crise.
Na década de 1980, governos nacionais perdem seus papeis disciplinadores ao abolir os controles da circulação da moeda, ao desregularem as finanças das obrigações em seus próprios países. E, expandindo para todo mundo sob sua dominação as desregulações financeiras. Era o mundo dos paraísos fiscais que se abria. Da ordem de uma dezena, em 1980, passaram a quase uma centena em 20 anos.
PARAÍSOS FISCAIS E O MUNDO DAS FINANÇAS
Em 2019, a relação de 84 paraísos estava assim distribuída:
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a) nos territórios da Commonwealth Britânica: 32, como a City (bairro autônomo de Londres), as Ilhas Cayman (Caribe) e Seychelles (África) e Ilhas do Canal da Mancha (Alderney, Guernsey, Jersey, e as menores Casquets, Crevichou, Houmets, Les Dirouilles, Ortac e Pierres de Lecq);
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b) em territórios estadunidenses: dez, como Delaware, pequeno Estado no nordeste dos Estados Unidos da América (EUA), Porto Rico (Caribe) e Ilhas Marshall (Pacífico, Micronésia);
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c) em territórios holandeses: quatro, os próprios Países Baixos, Aruba e Curaçao (Caribe);
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d) territórios franceses: dois, na Polinésia Francesa (Pacífico Sul) e nas Ilhas Saint-Pierre et Miquelon (Atlântico Norte canadense);
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e) em Estados formalmente independentes: 36, quais sejam: