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sexta-feira, 29 março, 2024

América Latina pelo resgate do patrimônio cultural imaterial

Panamá (Prensa Latina) Tradições, expressões orais, idiomas, rituais, festas e técnicas artesanais são algumas das manifestações do Patrimônio Cultural Imaterial (PCI), que estão em risco de desaparecer em muitos países da região.

Na busca deste resgate, chegaram a esta cidade gestores de organismos internacionais, pesquisadores e promotores da cultura tradicional e popular, quem no espaço de três dias dialogaram sobre investigação, uso de tecnologias e estratégias para preservar o legado dos povos. Durante o primeiro Congresso Internacional, que se encontrou aqui sobre o tema, a professora e pesquisadora da Escola de Antropologia da Universidade de Costa Rica, Giselle Chang, advertiu sobre a falta de conhecimento e consciência que as novas gerações têm sobre a nossa herança cultural.

Situação à qual se somam outras como a escassez de recursos e a relação inadequada PCI-turismo cultural, pois esta última atividade pode ser uma ameaça quando as pessoas das comunidades não tomam suas decisões e as empresas só trabalham para ganhar, comentou.

Mas na opinião da socióloga equatoriana Ruth Ross, nesta lista de desafios também se sobressai a brecha econômica que subjaz na comercialização do patrimônio.

A este respeito, colocou como exemplo os tecelões do chapéu de palha xale no Equador, que vendem suas peças a mil dólares, enquanto os intermediários o fazem por até 300 mil.

Não obstante, para a antropóloga da Universidade Central de Venezuela María Ismenia Toledo, o principal desafio é que as comunidades possam garantir a proteção de seu patrimônio, programa no qual Panamá trabalha desde 2011.

PROJETO DE PROTEÇÃO

Em 2003, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) expressou a necessidade de que os países desenvolvam um inventário participativo de seu PCI, e a nação do istmo firmou esse convênio um ano depois.

Segundo Simión Brown, coordenador de conteúdos e tradutor do projeto de Proteção do PCI, o mesmo permite conhecer aspectos relevantes de nossa identidade, tradições, história e costumes, além de saber quem somos e quais são nossas origens.

Para isso, percorremos os congressos de algumas comunidades como a Guna e parte da etnia Emberá, nas quais se fizeram registros impressos e digitais; mas ainda falta se estender a muitos lugares mais, quase a metade do país, precisou.

Agora, um dos desafios que o Panamá enfrenta nesta matéria é precisamente chegar à coletividade, insistiu.

“Tudo o que estamos gravando e avaliando deve servir para que cada comunidade estude sua cultura. Mas o desafio maior do país é fazer políticas culturais, de Estado e institucionais”, apontou.

Em tal sentido, o primeiro Congresso Internacional de Patrimônio Cultural Imaterial serviu para mostrar o trabalho do Panamá no resgate da cultura congo, a confecção das molas (forma de arte têxtil) e os festejos do Corpus Cristi, entre outras tradições, algumas delas ancestrais.

“Conquanto o patrimônio seja propriedade das comunidades porque elas garantem sua transmissão, não podem garantir sua manutenção sem o apoio do Estado, da academia e das organizações não governamentais”, assegurou Toledo, quem também trabalha no Centro de Diversidade Cultural para a Venezuela.

Em declarações a Prensa Latina, a especialista reconheceu o trabalho que os países da América Latina desenvolvem no resgate do PCI, o qual se demonstra na presença cada vez maior da região nas listas representativa e de proteção urgente da Unesco, inclusive nas boas práticas por parte das perspectivas comunitárias.

“É um caminho longo, mas são observados avanços apesar de se viver em uma sociedade globalizada, em transformação e ameaçadora para as tradições e identidades”, assegurou.

Ao referir-se aos obstáculos que hoje freiam este resgate, listou as débeis capacidades para educar, sensibilizar, promover e reconhecer com base numa óptica respeitosa.

“O conhecimento de nosso patrimônio cultural não pode ser visto do ponto de vista do espetáculo e do folclore como o curioso e excêntrico, mas da identidade e do orgulho de ser”, considerou Toledo.

Talvez por isso a convenção da Unesco tenha proposto a necessidade de fazer inventários de “nossos estudiosos e professores, que são os que sabem os diferentes aspectos da cultura”.

Desde danças típicas até sua vestimenta tradicional, a gastronomia dos indígenas, comunidades locais e grupos afrodescendentes, ficarão gravados em vídeos, áudios, revistas e em um site como parte da iniciativa do Ministério de Comércio e Indústrias do Panamá.

“Nada que construamos em matéria de comércio, indústria e educação pode estar afastado de quem somos”, sublinhou o vice-ministro do setor, Manuel Grimaldo.

O patrimônio cultural é a alma espiritual da nação, sentenciou o reitor da Universidade Especializada das Américas, Juan Bosco.

Ademais, reforçou o dever que o sistema educativo tem que entregar à juventude os imensos valores da cultura e fomentar uma pedagogia efetiva para seu conhecimento.

Só com este esforço conjunto, disse, conseguiremos preservar as obras intelectuais e de saber para o bem-estar do país.

*Corresponsável da Prensa Latina no Panamá.

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