Tomaz Silva;Agência Brasil – Arquivo
Ivo Pugnaloni*
Segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, nos últimos 60 anos, as chuvas no Sul aumentaram em 30%, e no Norte, Nordeste e Sudeste diminuíram até 40%. Controlar a velocidade de escoamento de toda essa água extra no Sul e garantir a perenidade dos rios nas outras regiões precisa ser a nossa prioridade imediata.
Os mapas e gráficos que ilustram o excelente artigo publicado pela SECOM, dirigida pelo ministro Paulo Pimenta, não deixam margem a dúvida. Embora as causas da mudança nas chuvas sejam controversas. Minha opinião de engenheiro é que devemos focar-nos em encontrar origens mais óbvias e gritantes, para adaptar nossas atividades à gravíssima alteração do regime de chuvas.
Devemos aplicar-nos, como um só povo, do sul ao norte, para aplicar as soluções mais eficientes, conhecidas e provadas em outros pontos do país e do mundo. Deixemos aos tribunais decidir quem são os culpados, responsabilizando-os mas com todos os diretos de defesa assegurados por lei, altamente didáticos, muito úteis para evitar novas ilusões.
Aos desprezíveis gritos racistas de “O Sul é o meu país”, devemos numa autêntica rede nacional de solidariedade, responder com uma atitude afirmativa que prove que do Sul ao Norte, o Brasil é o nosso país. O país de um povo forte e soberano, que sabe vencer grandes desafios através da sua união.
Esse artigo foi escrito no sentido de demonstrar que soluções técnicas já existem, assim como as evidências físicas não apenas do fenômeno climático, mas também dos delitos cometidos por aqueles que, por riqueza e poder, conseguiram quase destruir todas as formas de mitigação que a ciência já encontrou há mais de 130 anos.
“Isso é culpa do agronegócio e do transporte rodoviário” dirão alguns. “Não, isso não tem nada a ver com a ação do homem!”, dirão outros.
Quando as certezas de parte a parte são assim extremas, a melhor resposta pode vir de fazer perguntas.
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O que acontece com a velocidade de escoamento da água no solo e nos rios, quando derrubamos florestas para formar pasto ou plantar soja para exportar?
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O que acontece com a quantidade de água absorvida pelo solo, quando dobramos a velocidade do escoamento depois de removidas as raízes das florestas?
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O que acontece com a erosão do solo quando a velocidade de escoamento aumenta? O que acontece com o leito dos rios, se a erosão aumentar?
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Se a erosão e o assoreamento dos rios aumentarem, será que o fluxo da água vai continuar preso na caixa dos rios ou vai transbordar para fora de seu leito, criando áreas úmidas?
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O que acontecerá, com a evaporação da água, quando aumentarem as áreas úmidas nas margens dos rios?
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O que terá acontecido com a evaporação quando as conhecidas mudanças cíclicas no eixo de rotação da Terra e no seu percurso em torno do Sol, fizeram mais radiação solar incidir numa área que permanece encharcada por mais tempo?
As respostas podem ser resumidas numa poderosa combinação de efeitos cumulativos na qual o aumento da velocidade de escoamento reduziu a água absorvida pelo subsolo, aumentou a erosão e a evaporação de água. E tudo isso junto, aumentando os riscos de novas e grandes enchentes.
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É nisso que temos que nos focar: precisamos diminuir a velocidade com que a água da chuva corre de volta em direção ao mar, donde em boa arte ela veio, por ação do Sol. Como fazer isso, veremos adiante nas próprias perguntas que se entrelaçam.
“Vocês são contra o agronegócio e a produção de alimentos!”, dirão alguns. “Vocês só pensam em lucro máximo a qualquer custo!” dirão outros.
Novamente, boas perguntas trazem as melhores respostas.
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O que aconteceu com a produção de alimentos para exportação, quando a carga tributária do agronegócio caiu para 6,75% e com a produção industrial quando os tributos sobre a indústria chegaram em 44%?
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Por que o PIB da indústria em 1976 era 21% do total e caiu para apenas 9% do PIB em 2023?
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O que acontece quando a ANEEL e o Ministério de Minas e Energia, assistem passivamente as distribuidoras comprando a energia 10 vezes mais cara das termelétricas, repassando esse custo aos consumidores e não comprando das hidrelétricas, dez vezes mais barata?
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O que aconteceu com as tarifas de energia quando a capacidade de geração das termelétricas fósseis, subiu mais de 660% entre 1995 e 2022?
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O que aconteceu com a produção industrial quando o custo da energia para a indústria subiu 174% acima da inflação entre 1995 e 2023 e para as demais classes “só 73%”, segundo a FIRJAN?
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Por que a Empresa de Pesquisa Energética não considerou as perdas elétricas e nem as tendencias hidrológicas, no cálculo da garantia física de energia das hidrelétricas, erro que impediu a investimentos na construção de novas hidrelétricas, favorecendo isso sim, mais termelétricas e o aumento da poluição por gases do efeito estufa?
“Vocês querem que o Brasil tenha outro apagão sem as termelétricas?”, dirão alguns. Novamente, as melhores respostas vêm de boas perguntas, que quase ninguém faz:
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Quais as fontes permanentes de energia que podem assumir a carga depois das 18 horas quando a geração fotovoltaica entra em colapso por falta de Sol?
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Dessas duas fontes permanentes, que são as termelétricas fósseis e as hidrelétricas, as únicas que podem operar 24 horas, qual delas tem preço maior, mais impactos negativos sobre a atmosfera e as chuvas?
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Qual das fontes de energia tem maiores efeitos benéficos para a redução da velocidade de escoamento das águas de forma a evitar a erosão, o assoreamento, prevenindo as enchentes? A fonte solar? As termoelétricas, as eólicas? Ou as hidrelétricas?
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Por que no Paraná, estado que sofreu o mesmo aumento de chuvas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, não existem agora enchentes nos terços baixo e médio do rio Iguaçu, depois de construídas seis grandes hidrelétricas pela COPEL? Terá sido isso fruto de uma coincidência?
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Será que a pressão dos proprietários das minas de carvão que alimentam as grandes termelétricas gaúchas e catarinenses tem relação com o pequeno grau de desenvolvimento das usinas hidrelétricas nos dois estados?
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Será que grande quantidade de enchentes que a cada três ou quatro anos atingem os gaúchos e catarinenses não tem nada a ver com o pequeno número e pouca capacidade de armazenamento de suas hidrelétricas?